
Um novo Banco de Portugal
Não há condições mínimas para a continuidade de Centeno no BdP, e por responsabilidade própria. Agora, o Governo não pode deixar de garantir que o governador é substituído no dia certo.
“Sempre disponível para o país, seja no Governo, seja no Banco de Portugal, seja numa universidade”. A afirmação é de Mário Centeno na apresentação das previsões económicas do banco central, e poderia também acrescentar o FMI, o BCE, a Presidência da República, São Bento e mais umas quantas instituições. Mas a cerca de um mês do fim do mandato de governador, o Governo tem a obrigação de esclarecer o quanto antes quem quer que lhe suceda.
O mandato de Mário Centeno termina em meados de julho e o Governo ainda não anunciou oficialmente se irá reconduzir ou não o governador, embora as relações tensas entre ambos torne mais do que improvável uma recondução. Questionado sobre se o Executivo de Luís Montenegro já estabeleceu contactos sobre a sua continuidade, o governador disse apenas que “há um processo institucional em curso”. O que quer que isto signifique…
É evidente para toda a gente que não há condições mínimas de confiança — o que não significa independência — para a manutenção de Mário Centeno como governador. Aceitou ser um governador ‘político’, contra este ministro das Finanças., assumiu esse papel e não vale a pena agora fazer-se de ingénuo ou de vítima. Não tinha de ser assim, nem na gestão interna do banco central, nem na forma como desenvolveu o que poderia ser uma colaboração institucional, sem perder a exigência de independência que se impõe a um governador. Centeno foi por outro caminho, até com artigos com assinatura própria, o que serviu para confundir onde está a análise técnica e a posição política.
Agora, a responsabilidade é de Luís Montenegro e de Joaquim Miranda Sarmento. E há um ponto prévio que têm obrigação de garantir, até para evitar maior desgaste do que aquele que vai necessariamente existir: Se andaram anos a criticar Centeno, desde logo pela forma como passou das Finanças para o Banco de Portugal — em Espanha, Sánchez conseguiu ainda pior… — e como aceitou em determinado momento ser o sucessor de António Costa, Montenegro e Sarmento têm a obrigação de garantir que Centeno não fica nem um dia mais do que está previsto no mandato. E como o candidato a governador tem de passar por uma audição no Parlamento, esta é provavelmente a semana para anunciar um novo nome. A credibilidade das instituições também exige que o processo seja credível e eficaz.
Os nomes em cima da mesa são já um segredo mal guardado: Vítor Gaspar e Ricardo Reis são os dois nomes mais fortes para suceder a Centeno. Como escreveu o jornalista Alberto Teixeira aqui no ECO, cada um deles tem prós e contras, mas são ambos, do ponto de vista técnico, inquestionáveis. Há outras possibilidades, como Álvaro Santos Pereira, que está na OCDE, ou Cristina Casalinho, na Gulbenkian, que podem ser alternativas credíveis.
São todos independentes, sem ligações partidárias e sem tentações a tê-las. E podem devolver ao Banco de Portugal aquilo que se perdeu nos últimos cinco anos.
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