Uma recuperação económica… com um V coxo
A recessão em 2020 será de 6,9%, mas a recuperação em 2021 será limitada a 4,3%. E o plano de estabilização da economia é uma mão cheia de medidas avulso. Em outubro é que vai ser.
Primeiro, foram os anúncios do Governo, agora já se conhece em detalhe o Plano de Estabilização Económica e Social, o chamado PEES, e as estimativas para a recessão económica deste ano e o que se antecipa para 2021. E a primeira conclusão que se pode retirar é que a recuperação económica será em V… mas com uma perna do V coxa. Uma recessão de 6,9% em 2020 e um crescimento de 4,3% em 2021, portanto, só a partir de 2022, na melhor das hipóteses será possível regressar aos níveis de 2019. Provavelmente só em 2023.
Este número é tanto mais relevante quando mostra que o Governo está mais pessimista do que algumas organizações internacionais, como a Comissão Europeia que prevê para este ano uma recessão parecida com aquela projetada pelo Governo (de 6,8%), mas antevê uma recuperação mais robusta, de 5,8%, no próximo ano.
Como andamos semanas a discutir as projeções de entidades internacionais, e o Governo preferiu esconder as suas, parece que uma recessão de 6,9% é uma coisa mais ou menos normal, foi uma projeção recebida como se fosse mais um ano ‘business as usual’. Ora, Portugal está a enfrentar a maior recessão de que há memória, brutal, que torna a recessão no pior ano do programa de ajustamento da troika uma nuvem passageira. E o desemprego estará muito próximo dos 10%. Mas agora, como a discussão está nos milhares de milhões que a União Europeia vai transferir para Portugal, ninguém quer discutir o óbvio, o que podemos e devemos fazer, com ou sem ajudas europeias.
O plano de estabilização do Governo é, como diz o próprio Presidente da República, um “remendo”. É mesmo isso. O Governo diz o mesmo, mas com outras palavras. Como reconhece o ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira, em entrevista ao podcast do ECO, que partilho com o jornalista Pedro Santos Guerreiro, este plano é para a segunda fase do desconfinamento. Não é exatamente um plano, é uma mão-cheia de medidas, avulsas, de emergência, para os próximos três meses. Que tenta manter empregos com subsídios às empresas — no limite da concorrência desleal com as todas as outras que mantêm a sua força de trabalho, mesmo a custo — e serve para distribuir dinheiro por várias capelas, as que têm mais voz mediática e influência nas colunas de opinião dos jornais e televisões.
Há medidas positivas? Há, claro, mas excetuando o Banco de Fomento, cujo anuncio já tinha sido prometido, são todas de curto prazo, para socorrer os aflitos, para limitar o caos económico e social. O lay-off ‘complicado’, a suspensão do pagamento por conta de IRC ou o alargamento das linhas de crédito com a prioridade às micro e pequenas empresas aliviam a tesouraria nos próximos três a seis meses. E depois? Talvez seja por isso que a recuperação económica vai ser num V coxo.
O pior é mesmo que não se percebe o que o Governo quer fazer, qual vai ser o caminho para os próximos dois ou três anos. Um Governo partido, com o ministro das Finanças de saída e guerras internas, das quais a de António Costa e de Pedro Nuno Santos talvez seja a mais evidente. Estará o Governo à espera do plano do conselheiro António Costa Silva? Ou do dinheiro de Bruxelas? Mesmo sem plano do conselheiro, ou ainda sem visibilidade sobre os fundos do plano europeu, exigia-se que o Governo apresentasse agora uma ideia e uma política com princípio, meio e fim.
Vamos acreditar que em outubro é que é, em outubro é que aparecerá um plano de retoma, seja o de Costa Silva, do Governo ou de um qualquer ministro. Mas até lá estaremos condenados a uma gestão corrente do país.
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