Uma semana negra para o jornalismo

O ciberataque à Impresa é um de muitos que acontecem diariamente às empresas portuguesas. Mas o desaparecimento do arquivo digital da SIC e do Expresso é uma perda incalculável.

Esta semana fica marcada pelo ataque informático aos sites da SIC Notícias e do Expresso, perpetrado por um autointitulado “grupo Lapsus$”. O ciberataque derrubou estes e outros sites da Impresa, que assim ficaram por vários dias, até quarta-feira, dia em que regressaram num formato provisório.

As empresas, incluindo as portuguesas, são “diariamente alvo de centenas de ciberataques”, como lembrou a Altice Portugal esta semana, ela própria, alegadamente, vítima de uma suposta fuga de informação publicada na internet na quinta-feira.

Só que, de tempos a tempos, lá surge um ciberataque mediático que põe muita gente a falar do tema. Foi o que aconteceu em 2017 com o WannaCry, quando chegou aos jornais a informação de que a antiga Portugal Telecom estava a ser alvo de um pedido de resgate em bitcoins. E foi o que aconteceu em 2018, quando um ataque parecido, conhecido por notPetya, causou pânico um pouco por todo o globo.

No caso do ataque ao grupo Impresa, as páginas foram substituídas por uma mensagem dos hackers a convidar à negociação de um resgate pela informação aparentemente roubada e presumivelmente cifrada. Este tipo de ameaça chama-se ransomware e é cada vez mais comum, por ser o tipo de ciberataque mais rentável – os burlões invadem um sistema, fecham os dados a cadeado e tentam extorquir dinheiro aos proprietários em troca de uma suposta chave.

Na sequência disso, identifiquei duas correntes de opinião. De um lado, aqueles que consideram que o ataque à Impresa não é mais nem menos grave do que qualquer um dos milhares de milhões de ataques informáticos que ocorrem diariamente. Do outro, aqueles, sobretudo jornalistas e leitores, que consideram que o ciberataque à SIC Notícias e ao Expresso foram ataques à liberdade de imprensa, como se tivesse sido esse o seu propósito.

Eu tento estar no meio. Considero-me consciente das ameaças e do volume de ciberataques que acontecem todos os dias, aqueles que se conhecem e os que não se conhecem, os admitidos e os varridos pelas vítimas para debaixo do tapete.

Neste momento, a única coisa que podemos afirmar com toda a certeza é que os sites da SIC Notícias e do Expresso nunca mais foram iguais. Ainda que estejam online numa versão provisória, não passam de um meio minimalista para atingir um fim imediato e urgente – levar as notícias aos leitores e estancar a eventual perda de relevância.

O único facto objetivo nesta história, por agora, é que dois grandes arquivos de informação jornalística de referência em Portugal estão inacessíveis ao público há quase uma semana.

Assim, colocando de parte a especulação sobre se o ciberataque teve motivações financeiras (não há evidência inequívoca de que tenha tido, porque a Impresa alega não ter recebido um pedido concreto de resgate) ou se se tratou de um ato de sabotagem, parece-me que o grande efeito que teve é, em si mesmo, um atentado ao jornalismo nacional.

Há razões para temer que os arquivos da SIC e do Expresso tenham sido mesmo apagados. Se se confirmar que não existem cópias de segurança, teremos vivido uma semana negra para a democracia portuguesa.

Espero que a SIC Notícias e o Expresso voltem depressa à internet. Caso contrário, este ciberataque não é só um problema do grupo Impresa. É uma perda incalculável para todos nós.

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