Vamos proteger os oceanos. Mas como?

  • Ricardo Borges
  • 1 Fevereiro 2024

O Governo português antecipou a criação de 30% de áreas marinhas protegidas para 2026. Com a mudança política espero que estes anúncios não se reduzam a palavras e que Portugal possa ser pioneiro.

Acompanhei de perto a Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP 28) no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde representantes de todo o mundo pensaram em alternativas para debelar as alterações climáticas, como já tinha escrito aqui. No final, e com os vários contributos prestados, foi alcançado um acordo que assinala o “princípio do fim” dos combustíveis fósseis. Foi a primeira vez que se fez um apelo deste género à resolução da principal causa da crise climática.

Mas, no texto final, houve um tema que, a meu ver surpreendentemente, foi esquecido e que é de enorme importância na luta contra as alterações climáticas: a importância dos oceanos. Durante o evento houve um dia exclusivamente dedicado ao tema, ficou bem claro o seu papel na absorção do carbono em excesso e o facto de os oceanos serem, por um lado, as vítimas dos impactos da mudança do clima e, por outro. os principais aliados na proteção dos territórios do impacto dessas alterações.

É certo que estudos, como aquele que em dezembro de 2023 foi publicado na revista Nature, – resultado do trabalho de um grupo de cientistas internacionais que analisou dados recolhidos por navios oceanográficos, desde a década de 1970, em todo o mundo, – revelaram que os oceanos podem armazenar mais 20% em carbono do que diziam as estimativas mais recentes, mas que, ainda assim, é insuficiente para compensar os aumentos de emissões para a atmosfera.

Os investigadores afirmaram que o processo de absorção se desenvolve ao longo de dezenas de milhares de anos e que é difícil compensar o aumento e das emissões de CO2 provocado pela atividade industrial mundial desde 1750. Mas é evidente a importância do ecossistema oceânico como um dos principais intervenientes na regulação a longo prazo do clima global.

É um passo gigante. Recentemente, numa entrevista ao jornal Público, o administrador executivo da Fundação Oceano, Tiago Pitta e Cunha, manifestou uma opinião semelhante. Em suma, afirmou que houve já na COP28 uma sensibilidade para a necessidade de proteger o mar, mas que faltou incluir medidas nesse sentido.

A histórica cientista norte-americana Sylvia Earle, – que aliás esteve em Portugal no mesmo palco que a bióloga marinha Adjany Costa, diretora em Angola do Projecto Okavango da National Geographic – para falar sobre a importância dos oceanos, também participou na COP28. Earle tem alertado para o impacto destrutivo que determinadas atividades humanas têm tido no oceano, na biodiversidade, no clima. E ela própria assegura que os oceanos podem ser um aliado contra as alterações climáticas. “Temos de chegar ao ponto em que dizemos que já chega, temos que restaurar o que conseguirmos enquanto ainda há tempo”.

Em outubro o Governo português deu sinal de estar em sintonia com a Fundação dirigida por Tiago Pitta e Cunha e antecipou a criação de 30% de áreas marinhas protegidas para 2026 – uma meta estabelecida no quadro das Nações Unidas que aponta como horizonte o ano de 2030, – lembrando que, no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), está previsto um “plano de financiamento de 87 milhões de euros para a criação do Hub Azul” Portugal, “uma rede de centros de investigação e desenvolvimento e de universidades focadas na ciência, tecnologia e inovação marinhas”.

Com a mudança política que se adivinha espero que estes anúncios não se reduzam a palavras e que Portugal possa ser pioneiro e exemplo numa próxima COP. Palavras leva-as o vento. E o mar também.

  • Ricardo Borges
  • Consultor da Inside Building e sócio da plataforma de serviços domésticos YourHero

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