Wellbeing: reforçar competitividade das empresas (também) passa por aqui
Uma pessoa feliz distribui mais aos outros, e contagia de forma inconsciente melhorando também a vida de quem a rodeia. O bem-estar dos colaboradores é crítico para o sucesso de uma organização.
Quando iniciei a minha atividade profissional, ainda no século passado, não havia um computador por secretária, tudo tinha de ser impresso e arquivado em pastas físicas. O benefício mais apreciado era o seguro de saúde e o facto de termos, já nessa altura, mais um dia de férias que a maioria das outras empresas.
Hoje em dia tudo é radicalmente diferente. A evolução digital, a pandemia, a sustentabilidade, as questões geopolíticas têm impactado as organizações e os seus colaboradores numa necessidade de uma maior rapidez de adaptação e manutenção de resultados sustentáveis.
O objetivo das organizações é produzir com lucro e para obter este constante alinhamento com a evolução no mercado tem de ter a sua força de trabalho feliz, motivada e alinhada com esse objetivo.
A forma de remuneração deixou de ser apenas a componente salarial e inclui mais que os benefícios. A flexibilidade de escolha, a responsabilidade social da organização e a forma como inclui no seu DNA questões como o bem-estar dos colaboradores, diversidade, equidade e inclusão (DE&I) e ESG são também fatores relevantes para atrair e manter o melhor talento.
Na Aon, definimos o bem-estar como um estado de equilíbrio das principais componentes da vida, estarmos bem connosco em termos pessoais, profissionais e com a comunidade. Em que temos os recursos, oportunidades e compromissos adequados para alcançarmos a nossa melhor saúde e desempenho enquanto indivíduos. Uma pessoa feliz distribui mais aos outros, e contagia de forma inconsciente melhorando também a vida de quem a rodeia. A felicidade e o bem-estar dos colaboradores é crítico para o sucesso de uma organização.
No nosso estudo Global Wellbeing Survey, recentemente divulgado, apresentamos o impacto que o investimento no bem-estar dos colaboradores tem desempenhado nas organizações. Neste estudo revelamos que o bem-estar dos colaboradores é agora mais relevante na maioria das organizações e nas principais prioridades para as empresas encontramos, logo na 1º posição o bem-estar dos colaboradores nas componentes física, mental, social, profissional e financeira seguido de atrair e reter talento. Já na 5ª e 6ª posição encontramos ESG e DE&I.
Se analisarmos as principais preocupações das organizações, encontramos nos dois primeiros lugares, em todas as regiões mundiais, o bem-estar mental e o burnout relacionado com stress profissional prolongado.
A implementação de benefícios para colmatar estas preocupações não deverá ser decidida para resolução de questões do momento e de forma precipitada, mas sim efetuada com uma política de longo prazo e assente numa estratégia definida de bem-estar. Não é possível para as organizações colmatar todas as dimensões do bem-estar no mesmo momento. É relevante que esta estratégia esteja não só alinhada com a cultura da organização, mas também com o seu DNA e com os colaboradores.
Verificamos muitas vezes que existem varia medidas implementadas nas organizações, que foram incluindo benefícios no seu pacote salarial para colmatar necessidades do momento. Sendo que de alguma forma não estão a chegar aos colaboradores como um investimento da organização no seu bem-estar. Uma análise aprofundada de todas estas componentes e uma comunicação estratégica ajuda as organizações a analisar o que já proporcionam e a definir a estratégia futura nas áreas com menor intervenção.
Estas políticas de bem-estar têm de responder às necessidades que se verificam atualmente, mas é também importante relevar as necessidades futuras, tendo em conta o momento em que vivemos. Antecipação e preparação é a chave do sucesso.
Mais concretamente em Portugal, muitas organizações já disponibilizam alguns benefícios que apoiam financeiramente os seus colaboradores como o por exemplo seguro de vida, o plano de pensões, as aplicações/clubes de descontos, entre outros. No entanto, é ainda preocupante em Portugal o nível reduzido de literacia financeira e preparação financeira para superar eventos inesperados e a reforma.
Num estudo recente da União Europeia verificou-se que 70% dos inquiridos não têm capacidade de pagar as suas despesas regulares para além de 3 meses após um evento inesperado de quebra de remuneração e 62% dos inquiridos não estão confiantes de que terão capacidade financeira para viver confortavelmente durante a reforma O fundo de emergência e o financiamento para a reforma são temas de literacia financeira que faltam à maioria dos portugueses, que podem levar estes colaboradores a estarem também mais stressados e a programar mais anos de trabalho para além da idade prevista de reforma.
O stress financeiro afeta direta ou indiretamente todas as restantes dimensões de bem-estar. No estudo, verificámos que comparativamente ao estudo anterior, esta foi a dimensão de bem-estar que teve mais incremento nas organizações (de 44% para 54%). No topo 3 de iniciativas estão a preparação para a reforma, a disponibilidade de descontos em produtos o/ou serviços e a educação financeira.
No contexto atual em que uma grande parte da população se encontra afetada pelo problema do aumento das taxas de juro com impacto na habitação quer por aumento do empréstimo quer pelo custo do arrendamento, é importante adereçar o tema da edução financeira no âmbito dos programas de bem-estar. Na perspetiva das alterações demográficas e consequente alteração do regime de previdência é expectável que o tema das reformas seja um motivo de stress adicional, no curto prazo, para a maioria dos portugueses.
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