Empresários brasileiros trazem “etiqueta certa” para “picar o ponto” em Portugal

Mais de 120 empresas brasileiras e portuguesas participaram no Fórum Empresarial Portugal-Brasil, em Matosinhos, que serviu para dar um "restart" às relações económicas entre os dois países.

Viveu-se um autêntico mercado luso-brasileiro esta segunda-feira no CEiiA, centro de engenharia e desenvolvimento de produto, em Matosinhos. António Costa e Lula da Silva foram os “patronos” do Fórum Empresarial que juntou empresários dos dois países, tentando abrir as portas para que voltem a falar. O ECO acompanhou esse “restart”, com os líderes das empresas brasileiras a trazerem a “etiqueta certa” para “picarem o ponto” deste lado do Atlântico.

Agora que o Brasil voltou, não vamos nunca mais [deixá-lo] sair“. Este foi um dos lemas deixados pelo primeiro-ministro português no final do discurso. A tentar seguir esta sugestão esteve Karine Liotino, presidente executiva da empresa Etiqueta Certa. Diretamente de São Paulo, a cofundadora promete ter pano para muitas mangas, isto é, muitos negócios com a indústria têxtil portuguesa — e que depois podem chegar a outros países europeus.

“Vemos Portugal como uma porta de entrada para a Europa. Começámos a empresa focada na indústria têxtil, uma das áreas mais importantes de Portugal. Portugal tem muito conhecimento tecnológico, traz-nos especialização no mercado internacional e um grau elevado de eficácia tecnológica, que complementa o que o Brasil faz”, sinaliza a gestora. A Etiqueta Certa criou um software para que “qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo e sem conhecimento da legislação possa criar uma etiqueta em conformidade com a lei do país em que vai vender o produto, seja em português, inglês ou outro idioma”.

Portugal tem muito conhecimento tecnológico, traz-nos especialização no mercado internacional e um grau elevado de eficácia tecnológica, que complementa o que o Brasil faz.

Karine Liotino

CEO da Etiqueta Certa

Portugal e Brasil procuram “costurar” uma nova etapa nas relações comerciais, depois do interregno vivido durante os governos de Jair Bolsonaro e de Michel Temer. “Nada melhor do que estabelecer uma relação com Portugal para exportar produtos para outros países europeus. Temos de acreditar e estabelecer a relação que falta”, ambicionou Lula da Silva, em Matosinhos. O primeiro-ministro português também manifestou vontade de reforçar o investimento lusitano do outro lado do Atlântico.

Reportagem na Addvolt - 16DEZ22
Bruno Azevedo, presidente executivo da Addvolt, com o troféu ganho na cerimónia da COTEC. PEDRO GRANADEIRO/ECOPedro Granadeiro/ECO

Da forma mais limpa possível, a portuguesa AddVolt procura expandir o negócio de baterias para alimentar camiões frigoríficos. “Temos conversas iniciadas no Brasil para testarmos lá a nossa tecnologia, sobretudo com os camiões e os semirreboques”, adianta Bruno Azevedo, líder desta empresa. A bateria da Addvolt alimenta o camião frigorífico sem poluir e sem fazer barulho nas cidades. O equipamento resiste a temperaturas que variam entre os -30 graus e os +50 graus Celsius e ainda cumpre todas as certificações de fogo, impacto e esmagamento.

Temos conversas iniciadas no Brasil para testarmos lá a nossa tecnologia, sobretudo com os camiões e os semirreboques.

Bruno Azevedo

Presidente da AddVolt

A energia é, precisamente, uma das áreas em que Portugal e Brasil podem partilhar maior conhecimento. No topo da cadeia, Galp e EDP vão investir 5,7 mil milhões de euros no desenvolvimento de projetos energéticos nos próximos anos. O próprio Brasil quer reverter a desflorestação da Amazónia e promover empregos verdes.

Mobilidade, tecnologia e saúde foram outras das três áreas prioritárias de investimento mútuo que foram definidas. A portuguesa knok é exemplo disso. Desde junho do ano passado que a knok tem escritório em Curitiba. Atualmente, já trabalham lá oito pessoas e a rede já conta com 40 médicos. “Acreditamos que podemos começar muitas novas conversas neste fórum”, espera José Bastos, líder da empresa de telemedicina.

José Bastos, líder da knok.

No entanto, foi preciso esperar cerca de três horas para que os empresários começassem a falar uns com os outros e a trocar contactos. O almoço volante decorreu depois dos discursos e de apresentações no CEiiA. Os mais tímidos tiveram a situação ainda mais dificultada porque não foram criadas ligações a priori entre os participantes, como acontece noutro tipo de encontros. José Bastos lamentava mesmo que não poderia mostrar o poder da tecnologia desenvolvida em Portugal.

O fórum empresarial também serviu para a assinatura de dois documentos: um protocolo entre o IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação e a Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil; e um memorando entre a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) com o objetivo de fortalecer as relações económicas e empresariais entre as duas entidades. A Apex vai abrir um escritório em Portugal.

Para haver mais empresários portugueses a investirem no Brasil “são necessárias alterações legislativas substantivas e observar o processo de estabilidade política, económica, financeira e de segurança jurídica.

Luís Rebelo de Sousa

Administrador da AICEP

O memorando entre as duas agências de investimento tem dois focos, como explicou ao ECO o administrador da AICEP, Luís Rebelo de Sousa: “A cooperação e incremento do comércio económico e de investimento bilateral para empresas portugueses investirem no Brasil e terem mais parcerias no Brasil, e vice-versa; a nível multilateral, Portugal e o Brasil estão a trabalhar com os outros países da CPLP na cooperação económica e comercial”.

O responsável da agência pública responsável pelo comércio e investimento externo notou, no entanto, que para haver mais empresários portugueses a investirem no Brasil “são necessárias alterações legislativas substantivas e observar o processo de estabilidade política, económica, financeira e de segurança jurídica”.

Assim que se consegue monetizar a escalar em Portugal, é muito provável que tenha sucesso nos outros países da Europa.

Rodolfo Kobus

Responsável de marketing da QRPoint

Em sentido contrário, a QRPoint nasceu no Brasil e conseguiu financiamento para abrir em Portugal o negócio de controlo e gestão dos horários de trabalho. “Substituímos os relógios de ponto e a folha de ponto manual. Cada pessoa consegue picar o ponto através do telemóvel, tablet e computador”. Rodolfo Kobus mudou-se para Portugal há ano e meio, mas o encontro desta segunda-feira marca uma nova etapa.

“O evento só tem um dia. Isto é o start, o início de uma conexão. É a partir daqui que negócios podem começar a ser gerados.” Na entrada na Europa, Rodolfo Kobus assume que “demora um pouco a conhecer a legislação” comunitária. No entanto, “assim que se consegue monetizar a escalar em Portugal, é muito provável que tenha sucesso nos outros países da Europa”. Este é o salto que os empresários brasileiros querem dar para que o país transforme o potencial num gigante à escala mundial.

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