Silêncio, que as baterias para camiões de frio vão para os Estados Unidos

A faturar dez milhões, PME portuguesa Addvolt ganhou prémio COTEC Inovação, vai contratar pelo menos 20 pessoas em 2023 e também está a desenvolver soluções para comboios de mercadorias.

Na zona industrial de São Mamede de Infesta há uma empresa que está pronta para silenciar e descontaminar cada vez mais os camiões de frio. Ao fim de oito anos e depois de chegar a 11 países, a Addvolt prepara-se para o mais ambicioso plano de sempre: conquistar o mercado dos Estados Unidos. Para ajudar a concretizar este propósito, a empresa vai contratar pelo menos 20 pessoas ao longo de 2023.

O sucesso deste negócio está nas mãos de uma bateria que é carregada através da desaceleração e da travagem dos camiões frigoríficos. Desta forma, deixa de ser preciso pôr gasóleo no motor que alimenta o sistema de refrigeração. O sistema funciona com todo o tipo de camiões de frio, sejam eles com motores a combustão, híbridos plug-in (com tomada de carregamento), elétricos ou mesmo a hidrogénio.

A bateria da Addvolt alimenta o camião frigorífico sem poluir e sem fazer barulho nas cidades. O equipamento resiste a temperaturas que variam entre os -30 graus e os +50 graus Celsius e ainda cumpre todas as certificações de fogo, impacto e esmagamento. Os clientes da empresa, as empresas de logística, também recebem notificações e podem receber sugestões sobre como utilizar as baterias de forma mais eficiente. No final de novembro, a solução conquistou o prémio inovação da associação empresarial COTEC.

Reportagem na Addvolt - 16DEZ22
Bruno Azevedo, presidente executivo da Addvolt, com o troféu ganho na cerimónia da COTEC. Pedro Granadeiro/ECOPedro Granadeiro/ECO

A sede da Addvolt divide-se em dois andares: em cima, há mesas e secretárias recheadas de computadores; em baixo, há uma empilhadora elétrica e uma linha de montagem composta por várias estações, para a assemblagem de todas as peças que compõem a caixa com a bateria, que se pode designar de powerbank.

A empresa nasceu em 2014 a partir do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC). Em 2022, conta atingir os dez milhões de euros de faturação. Para chegar aos dois dígitos muito contribuiu o salto de produção nos últimos dois anos e a parceria estratégica com os norte-americanos da Carrier, uma das maiores empresas do mundo em sistemas de refrigeração.

Montagem com 70% made in Portugal

Começamos pela mudança de instalações. “Fechámos o acordo para irmos para o parque industrial de São Mamede de Infesta em fevereiro de 2020”, recorda ao ECO o líder da empresa portuguesa, Bruno Azevedo. Semanas depois, mesmo com o confinamento pandémico, “fizemos a mudança porque já não tínhamos mais espaço entro do UPTEC”. O escritório e as duas salas para tratar da assemblagem já não davam as condições necessárias.

Com a nova localização, a companhia passou a ter um “verdadeiro espaço de armazenamento”, com uma linha de montagem para juntar as peças mais mecânicas e outra mais dedicada à eletrónica. “Recebemos todas as caixas de alumínio, que são maquinadas com a nossa instrução e design e também todos os conectores. Depois disso começa o nosso processo de montagem, algo que não era possível fazer no UPTEC”, detalha.

Reportagem na Addvolt - 16DEZ22
Linha de montagem da Addvolt fica em São Mamede de Infesta, na Maia. Pedro Granadeiro/ECOPedro Granadeiro/ECO

Ao ter mais espaço de trabalho, a Addvolt ganhou independência e conseguiu desenrascar-se nos últimos dois anos, marcados pela escassez de semicondutores. “Quando a crise de peças chegou a ter prazos de entrega de 99 semanas — quase dois anos — a nossa equipa de engenharia, como tem controlo total do desenho do circuito, começou a encontrar alternativas e a fazer adaptações para não parar de produzir e sem quebrar os padrões de qualidade e de segurança.” No entanto, “foi inevitável um pequeno aumento dos custos de produção”.

Expansão para os Estados Unidos e parceria de gigante

Subimos o lanço de escada e entramos para o escritório da empresa, onde é desenvolvida toda a estratégia de vendas, marketing e ainda é feita toda a programação da unidade controlo de motor, que depois fornece energia para carregar as baterias. É neste local que já se começa a preparar a estratégia para 2023, que inclui a entrada nos Estados Unidos.

“Já temos um projeto-piloto a decorrer no país. É o nosso próximo mercado de investimento, para 2023”, adianta ao ECO o líder da empresa. Esta expansão vai levar a uma nova transformação, depois do que aconteceu com a entrada da Carrier como parceira e que “nos obrigou praticamente a criar uma segunda Addvolt”. A entrada nos Estados Unidos implica “encontrar um parceiro local, que faça toda a montagem dos equipamentos pelas nossas regras” e ainda “qualificar” outros fornecedores de baterias. “Não podemos imaginar produzir tudo em Portugal e exportar para todo o mundo. Isso não funciona”, nota Bruno Azevedo.

Reportagem na Addvolt - 16DEZ22
Desenvolvimento tecnológico é fundamental para baterias serem mais eficientes e melhorar ligação com motor dos camiões. Pedro Granadeiro/ECOPedro Granadeiro/ECO

O próprio equipamento terá de ser ainda mais resistente ao calor extremo. “Em alguns pontos dos Estados Unidos, as temperaturas altas são constantes e o asfalto está constantemente quente. Estamos a trabalhar na refrigeração líquida, com água e glicol, para suportar temperaturas acima dos 70 graus.”

Chegada ao hidrogénio e aos vagões dos comboios

A solução da Addvolt também já chega a camiões com outros tipos de motorização. Na Suíça, há um projeto com uma empresa que já usa camiões a hidrogénio. Na Bélgica, a tecnologia serve para camiões híbridos plug-in, em que a bateria serve para gerar energia ao reboque de frio sem afetar a autonomia do módulo de condução sem emissões.

“Nos camiões puramente elétricos, há clientes que não querem afetar a autonomia do veículo” e podem usar a solução portuguesa apenas para a máquina de frio ou então tornar a bateria da Addvolt num interface com as baterias do camião. “Isto permite aos clientes escolherem qualquer marca de máquina de frio e de camião”, detalha Bruno Azevedo. A bateria portuguesa também pode alimentar elevadores elétricos e empilhadores colocados no reboque dos camiões.

Reportagem na Addvolt - 16DEZ22
Addvolt vai contratar pelo menos 20 pessoas em 2023. Pedro Granadeiro/ECOPedro Granadeiro/ECO

Mas a PME já está atenta ao transporte de mercadorias sobre carris, perante a falta de motoristas para camiões e a necessidade de a logística internacional poluir menos. Tem a decorrer um projeto-piloto com a transportadora ferroviária suíça Rhaetische Bahn (RhB), a companhia que estabeleceu o recorde de maior comboio de passageiros do mundo, em outubro. “Estamos a trabalhar numa solução que permite ter o nosso sistema a bordo de um vagão, recarregado por si próprio durante o movimento, para garantir que o contentor frigorífico funciona nas melhores condições”

Com situação financeira sustentável, a Addvolt assume que “são necessários investimentos externos” para acelerar os planos de expansão previstos para os próximos anos, e que incluem a expansão comercial na Europa, além de cimentar a presença no mercado australiano. Por enquanto, os fundadores da empresa têm a maioria do capital, que conta com outros investidores nacionais e internacionais.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Silêncio, que as baterias para camiões de frio vão para os Estados Unidos

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião