Suíça transforma capricórnios no maior comboio do mundo

25 automotoras com quatro carruagens cada serpentearam percurso de quase 25 quilómetros numa linha que é património da UNESCO e que tem a mesma bitola do Linha do Vouga.

25 automotoras com quatro carruagens cada, 2.990 toneladas, sete maquinistas e 21 técnicos. Foi com estes números que a Suíça conseguiu bater o recorde de maior comboio do mundo neste sábado, reconhecido pelo Guiness World Records. Da ideia até aos carris foram necessários 12 meses de preparação por parte da empresa ferroviária regional Rhaestich Train (RhB), em plenos Alpes suíços e numa das três linhas reconhecidas a nível mundial como património da humanidade da UNESCO. O recorde foi batido numa linha com as mesmas características da Linha do Vouga, ou seja, em bitola métrica, cujos carris estão à largura de 1 metro.

O maior comboio do mundo percorreu um total de 24,93 quilómetros, saindo do túnel de Albula, na estação de Preda (1.788,7 metros de altitude), até descer para a estação de Alvaneu (999,3 metros de altitude). As composições vermelhas serpentearam as curvas à velocidade máxima de 35 km/h. O comboio saiu pelas 14h20 do túnel de Albula e imediatamente causou sensação lá dentro. O entusiasmo contagiou ainda mais as centenas de curiosos e apaixonados pela ferrovia que logo aí partiram nas suas bicicletas para tentarem acompanhar esta viagem do lado de fora. No interior, estavam apenas 300 convidados — entre os quais o ECO –, num comboio usado diariamente, quase a estrear e que ainda por cima tinha janelas para abrir. Não faltaram as fotografias e os vídeos para partilhar com os amigos.

O ECO no interior do maior comboio do mundo

Para bater este recorde, foi necessário apresentar uma composição com um total de 1,91 quilómetros de comprimento. É a mesma distância da rotunda do Marquês de Pombal até à Praça da Figueira em Lisboa; em termos ferroviários, é como se um comboio começasse na estação de Sete-Rios e acabasse na estação de Entrecampos. Como a velocidade máxima situou-se entre os 30 e 35 km/h, foram necessários quatro minutos para ver passar todas as composições.

Comboio tinha mais de 1,9 quilómetros de comprimento

A ideia surgiu em meados de 2021. “Tivemos menos 30% de receitas e de passageiros durante o período da pandemia, o que nos obrigou a pensar em como poderíamos recuperar estas pessoas”, explicou o presidente executivo da RhB, Renato Fasciati. Depois disto, foi necessário falar com o fabricante dos comboios, a também suíça Stadler, que se associou à iniciativa no imediato.

Comboio gera energia para a rede suíça

A viagem foi um perfeito exercício de condução sincronizada. Os sete maquinistas tinham de acelerar e frenar o comboio em simultâneo. Antes de executar uma ordem, era necessária uma contagem decrescente. Foi necessário instalar um telefone militar, com fio, para assegurar que os condutores soubessem do próximo passo em tempo real, mesmo dentro dos 22 túneis percorridos (onde não há rede telefónica) e de terem atravessado 48 pontes. Com a travagem do comboio foram gerados 4.000 kWh de energia, que foram absorvidos pela rede elétrica pública através de conversores de potência.

“O maior desafio era que todo o comboio se comportasse da mesma forma. Se isso não acontecesse, teríamos grandes problemas”, sinalizou o presidente executivo da RhB. Neste recorde foram usados 25 das 56 novas automotoras com quatro carruagens que a Rhb começou a receber em 2020. A encomenda, no valor de 534 milhões de francos suíços, só ficará completa em 2024. Estes comboios, fabricados na Suíça pela Stadler, designam-se de Capricórnio, em homenagem ao símbolo do cantão de Graubünden, onde se localiza a sede da RhB. Nestas composições é possível abrir as janelas e apreciar toda a paisagem dos Alpes suíços, que inclui, por exemplo, a localidade de Davos, onde anualmente se realiza o Fórum Económico Mundial.

Centenas de pessoas ao longo do percurso e milhares no recinto seguiram o comboio

No interior do comboio, o entusiasmo foi ainda maior à passagem dos túneis em caracol (helicoidais), perto da estação de Bergün. Estivemos dentro do sexto conjunto de quatro automotoras. Quando os capricórnios saíram dos túneis foi possível observar o comboio em três patamares, como se estivéssemos a observar as composições nos socalcos das vinhas. Era perto desses locais que mais estavam concentrados os fotógrafos, os curiosos, dois helicópteros, 19 câmaras de televisão e um drone.

Em toda esta operação foram envolvidas, no total, entre 150 e 200 pessoas, além de vários voluntários. Os primeiros testes para este comboio começaram em março deste ano. “Na primeira tentativa, com oito comboios, tentámos comunicação por rádio. Mas isso falhou dentro dos túneis.”. No segundo teste, “foi necessário um novo sistema, um cabo de dois quilómetros por todo o comboio, com microfone e auscultadores para todos os maquinistas”. Só que o cabo acabou por partir-se. À terceira foi de vez, quando foram colocados dois cabos, para haver redundância na comunicação. Os ensaios foram sempre feitos durante a madrugada, para não perturbar o serviço diário, em que se misturam automotoras como as Capricórnio (e outras) com carruagens panorâmicas, dedicadas a serviços de luxo.

Para o recorde do Guiness ficou registado que no dia 29 de outubro de 2022, na Suíça, circulou o maior comboio de passageiros em bitola métrica, com um comprimento total de 1,906 quilómetros. Anteriormente, o maior comboio de passageiros do mundo tinha circulado na Bélgica, em 27 de abril de 1991, com uma locomotiva a rebocar um total de 70 carruagens entre Gent e Oostende, num total de 1,733 quilómetros de comprimento.

Vista do exterior do maior comboio do mundo.

Depois de o comboio ter chegado à estação de Filisur, as automotoras foram repostas progressivamente ao serviço, como se nada se tivesse passado. Como as carruagens habitualmente de reserva foram todas postas ao serviço, até as descapotáveis, a empresa conseguiu pôr o maior comboio do mundo a circular sem ter de suprimir qualquer comboio que não passasse pelo túnel de Albula, onde se começou a escrever a história do novo recorde do mundo.

O jornalista viajou a convite do Turismo da Suíça.

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