“Não é o fim do mundo” mas preocupa: reações ao referendo

  • Lusa e ECO
  • 5 Dezembro 2016

Desde os ministros europeus às agências de 'rating', as reações à rejeição do referendo em Itália e à demissão de Matteo Renzi multiplicam-se. Acompanhe tudo aqui.

Os líderes mundiais procuram adotar um tom sereno após o resultado do referendo a uma alteração constitucional em Itália ter levado o primeiro-ministro Matteo Renzi a demitir-se.

À medida que os mercados recuperam do choque inicial, com o euro já de volta aos valores anteriores à notícia inesperada de instabilidade em Itália, desde Marcelo Rebelo de Sousa até Pierre Moscovici, passando pela agência de notação financeira Standard & Poor’s, todos sublinham que a Itália é um Estado “forte”. Mas Augusto Santos Silva e o seu homólogo alemão estão entre os que se mostram preocupados.

Eurogrupo: Moscovici e Dijsselbloem confiam na Itália

À entrada para a reunião desta manhã dos ministros das Finanças da União Europeia, o Eurogrupo, tanto o presidente do órgão Jeroen Dijsselbloem como o comissário europeu Pierre Moscovici se manifestaram calmos perante o resultado do referendo. Moscovici disse estar confiante de que “a zona euro tem capacidade para resistir a todos os tipos de choque”, assim como ter “plena confiança nas autoridades italianas em gerir a situação”.

Dijsselbloem seguiu a mesma linha de argumentação: “A Itália é uma economia forte, das maiores da zona euro, é um país com instituições fortes e vai haver um Governo, aconteça o que acontecer, que terá de lidar com a situação económica do país e com os bancos que têm problemas”, afirmou o presidente do Eurogrupo.

Marine Le Pen entusiasmada com “Não” no referendo

A líder do partido francês de extrema-direita Frente Nacional, e candidata às presidenciais francesas de 2017, Marine Le Pen disse que a rejeição do referendo constitucional em Itália era “um sinal para a França”. A Itália é o último país a “virar as costas às absurdas políticas europeias que estão a mergulhar o país na miséria”, afirmou, e “está na hora de a França escolher um líder que consiga ser o líder de uma Europa de nações livres”.

BCE: Itália pode ter de resgatar alguns bancos

“A diferença entre a Itália e outros Estados como a Alemanha e a Áustria é que, até agora, em Itália não tem havido muita ajuda estatal ou nacionalização” de bancos, disse Ewald Nowotny, membro do conselho de administração do Banco Central Europeu, citado pela Reuters. “Não podemos excluir a hipótese de que venha a ser necessário que o Estado se comprometa com alguns bancos de alguma forma”.

Ewald Nowotny, citado pela Bloomberg, explicou que o caso da Itália é diferente de outros países como a Alemanha e a Áustria. “Até agora na Itália não houve nenhuma ajuda estatal significativa ou tomada de controlo de bancos”, sublinhou. No entanto, disse que “é preciso ver que os requisitos legais [para o fazer, atualmente] mudaram”.

“Não será mais fácil hoje do que talvez tenha sido mais cedo, mas é exatamente por isso que há negociações”, lembrou, adiantando que “não há sinais” de que a Itália possa deixar a zona euro.

S&P: Rating mantém-se apesar de referendo

Um ‘Não’ no referendo e a demissão de Matteo Renzi não implicam imediatamente um impacto no rating de Itália, segundo a agência de notação financeira Standard & Poor’s. Embora considerando que as reformas propostas na alteração constitucional rejeitada teriam sido boas para a estabilidade política italiana, a rejeição do referendo não tem um impacto automático na política económica e orçamental do país, explicou a agência de notação numa nota citada pelo Financial Times.

François Hollande elogia Renzi

O Presidente francês François Hollande foi um dos primeiros líderes internacionais a reagir esta segunda-feira, elogiando o dinamismo e coragem de Matteo Renzi e afirmando que os dois partilham o desejo de aumentar o emprego. “O Presidente envia-lhe toda a sua simpatia, e deseja que a Itália encontre em si os recursos para ultrapassar esta situação”, lê-se na nota divulgada pelo Eliseu.

Costa quer Renzi a “participar ativamente” no projeto europeu

O primeiro-ministro de Portugal disse hoje desejar que a “decisão lúcida e muito corajosa” tomada no domingo pelo chefe do Executivo italiano “não comprometa a participação ativa” de Matteo Renzi no projeto europeu. António Costa espera que a Itália “rapidamente reencontre estabilidade política e tenha condições para continuar a ser um dos grandes motores do projeto europeu como tem sido desde a sua fundação”.

A Matteo Renzi, o primeiro-ministro português desejou “sucesso nas suas próximas iniciativas” e que mantenha a participação ativa no projeto europeu, “porque tem muito a dar, é uma força de energia, de criatividade, de combatividade que fará muita falta à Europa se se retirar do Conselho Europeu”.

Governador do Banco de França: Não é o Brexit

O governador do Banco de França, François Villeroy de Galhau, relativizou hoje o referendo italiano, afirmando que tal “não se pode comparar” à decisão dos britânicos de sair da União Europeia (Brexit). “Em 2016, o mundo em geral e a Europa em particular, conheceram um período de fortes incertezas: as incertezas ligadas à nossa segurança, com a ameaça de ataques terroristas; as incertezas políticas com o Brexit e, mais recentemente, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos”, afirmou num discurso em Tóquio.

“O referendo em Itália pode ser considerado como outra fonte de incerteza. No entanto, não pode ser comparado ao referendo britânico: os italianos foram chamados às urnas para se pronunciarem sobre um assunto constitucional interno, e não sobre a permanência de longa data da Itália na UE”, afirmou Villeroy de Galhau.

Ministro alemão: “Não é o fim do mundo” mas preocupa

Frank-Walter Steinmeier, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, mostrou-se mais preocupado. Embora a rejeição do referendo não seja “o fim do mundo”, afirmou, também não era “um desenvolvimento positivo no contexto da crise europeia. Para Steinmeier, o governo de Renzi estava bem orientado. A Alemanha acompanha os novos desenvolvimentos “com preocupação”, disse ainda.

Marcelo convicto que Itália quer “continuar um grande país europeu”

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse hoje estar convicto de que Itália “reafirme a vontade” de continuar a ser um “grande país europeu”, apesar da vitória do ‘não’ no referendo à reforma constitucional. Marcelo Rebelo de Sousa vincou hoje a sua “esperança” e “convicção” de que nas eleições “a existir no ano que vem se reafirme a vontade da Itália continuar um grande país europeu, um país fundador da Europa, um país muito forte na Europa”.

O chefe de Estado sublinhou que não estava em causa a União Europeia no referendo italiano, mas sim “uma reforma constitucional”. O povo italiano foi questionado sobre “mudar ou não o sistema político” do seu país e disse “soberanamente” que não quer mudar. “Não disse: ‘queremos sair do euro, queremos sair da Europa'”, frisou.

António Costa pede a Renzi que mantenha “participação ativa”

Da parte do Governo, o primeiro-ministro deseja que a “decisão lúcida e muito corajosa” tomada pelo chefe do Executivo italiano “não comprometa a participação ativa” de Matteo Renzi no projeto europeu. António Costa espera que a Itália “reencontre rapidamente estabilidade política e tenha condições para continuar a ser um dos grandes motores do projeto europeu como tem sido desde a sua fundação”.

A Matteo Renzi, o primeiro-ministro português desejou “sucesso nas suas próximas iniciativas” e que mantenha a participação ativa no projeto europeu, “porque tem muito a dar, é uma força de energia, de criatividade, de combatividade que fará muita falta à Europa se se retirar do Conselho Europeu”.

Questionado sobre o impacto da situação em Itália na economia portuguesa, Costa disse que a recuperação a que o país tem assistido “assenta em bases sólidas”, dando o exemplo do investimento que hoje testemunhou na Renova e que vai permitir aumentar a produção da fábrica em 50% e quase duplicar a exportação nos próximos anos.

Santos Silva quer menor dependência dos mercados

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros português defendeu que a zona euro deve ficar “muito menos dependente dos humores circunstanciais dos mercados”, aludindo às reações ao referendo em Itália. “Os mercados financeiros são muito importantes, mas não são o poder nos nossos países. Portanto, devemos acabar de implementar as soluções que criámos de modo a que estejamos muito menos dependentes dos humores circunstanciais dos mercados”.

O ministro defendeu à Lusa que “temos de nos habituar, todos na zona euro, a ter bem presente o princípio segundo o qual, numa democracia, o poder político prevalece sobre o poder económico”. Santos Silva admitiu, no entanto, que “é motivo de preocupação” o aumento da influência das forças políticas que são contra a União Europeia e a moeda única.

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