BCP: Ganhar no aumento de capital sem risco? É possível

Sempre que há um aumento de capital, há oportunidades de arbitragem. Com dois ativos correlacionados em bolsa, quaisquer diferenças de preço podem permitir ganhos (quase) sem risco.

O Banco Comercial Português (BCP) tem em marcha mais um aumento de capital. Tem feito vários nos últimos anos, sendo este no valor de 1.300 milhões de euros. E sempre que há uma operação destas, há oportunidade para ganhar com as ineficiências dos mercados financeiros. Como? Com estratégias de arbitragem.

Há a arbitragem nos relvados, sempre envolta em polémica, mas também há nos mercados. O que é? É o aproveitamento que os investidores podem fazer das diferenças de preços entre dois ativos correlacionados, neste caso as ações do BCP e os direitos do aumento de capital. Estão correlacionados porque no final o que está em causa é capital do banco liderado por Nuno Amado.

Esta operação consiste na aquisição de um ativo e a simultânea alienação do seu subjacente, num momento de desequilíbrio entre preços. Em todos os aumentos de capital acontecem. E neste não é exceção. Com o BCP a inundar o mercado com 944 milhões de direitos que permitirão comprar quase 15 mil milhões de novas ações, é grande a margem para essas diferenças de preço.

Logo desde o dia de estreia dos direitos em bolsa verificou-se diferenças de preço entre as ações e os direitos que vão permitir comprar as novas ações do aumento de capital com o qual o banco pretende reembolsar a ajuda do Estado e reforçar os rácios para cima do exigido pelo BCE. Em vários momentos, os direitos permitiram ganhos através da arbitragem.

Direitos “baratos” têm sido uma constante. Na estreia, estes títulos chegaram a permitir aos investidores um ganho de 10%, incentivando os investidores a comprar estes títulos ao mesmo tempo que vendem a descoberto o número correspondente de ações do banco. No caso de ações “baratas”, a ideia é fazer o contrário: comprar ações, vendendo direitos correspondentes ao mesmo número de ações.

Direitos e ações cada vez mais alinhados

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Se existia um diferencial de preços abissal, de 10%, na estreia dos direitos, nos últimos dias o mercado convergiu para uma situação de quase equilíbrio. Os títulos do BCP encerraram a última sessão a cotar nos 15 cêntimos, já os direitos fecharam a 78 cêntimos. Cada direito dá para comprar 15 novas ações a um preço de 9,4 cêntimos cada um. Assim, o custo de uma nova ação está em 14,73 cêntimos, ou seja, apenas 2,7% mais barato do que as ações já existentes no mercado.

Depois é preciso aguentar essa posição. Mas não muito tempo. Estes desequilíbrios entre o preço dos direitos e das ações são resultado de ineficiências do mercado, mas essas tendem a ser passageiras. O mercado acabará por reconhecer que sendo o objeto o mesmo, o valor dos diferentes ativos tem de ser o mesmo, o que acabará por resultar num regresso das cotações a uma situação de equilíbrio.

Confuso? Veja um exemplo

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No primeiro momento, com os direitos do aumento de capital do BCP a 61 cêntimos e as ações a 15,6 cêntimos, o custo implícito das novas ações do banco estava em 13,47 cêntimos. Ou seja, há um desequilíbrio, com os direitos “baratos”. Nesse momento, considerando uma estratégia com 1.005 ações, o investidor compra 67 direitos (que permitem comprar as 1.005 ações) por 40,87 euros. Ao mesmo tempo, vende 1.005 ações do banco a descoberto, encaixando 156,78 euros.

Com o regresso a uma situação de equilíbrio, o investidor desfaz a posição. Vende os direitos adquiridos anteriormente. Recebe 67 euros. Compra ao mesmo tempo as ações do BCP por um valor de 161,47 euros — valores com base em cotações meramente exemplificativas, mas havendo equilíbrio entre direitos e ações. Ganha nos direitos, mas perde nas ações porque as vai comprar mais caras (4,69 euros, neste exemplo que não tem em conta, contudo, nem comissões nem os custos com o empréstimo de títulos). As ações compradas serão entregues ao banco com o qual o investidor realizou inicialmente a operação de venda a descoberto. O saldo final é positivo em 21,44 euros.

Risco? Há

O ganho com esta operação está no diferencial entre o momento de desequilíbrio e o regresso ao equilíbrio, isto numa estratégia que, em teoria, não tem qualquer risco para os investidores. Só em teoria, porque na prática existem. Não só os custos associados ao empréstimo de ações como as comissões de corretagem inerentes a estas operações.

Mas há mais um risco: o preço não regressar ao equilíbrio. Não é normal que tal não se verifique, mas há sempre exceções. Já as houve no passado, sendo que em operações de aumento de capital em que o montante a emitir é elevado, pode acontecer que os preços dos dois ativos não se encontrem, o que coloca em risco a arbitragem.

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