Investigação ao Bankia põe em xeque supervisores. Já há demissões
O tribunal espanhol chamou os ex presidentes do Banco de Espanha e da CNVM a depor, bem como altos quadros dos dois organismos, que terão ignorado os alertas sobre a saúde do Bankia antes do IPO.
Mario Herrera, diretor-geral de supervisão, Pedro Comín, diretor-geral adjunto da mesma área, e Pedro González, responsável do departamento de inspeções. São os três responsáveis do Banco de Espanha que já caíram no seguimento da investigação ao IPO (oferta pública inicial na sigla inglesa) do Bankia, lançada pelo tribunal espanhol esta segunda-feira. Os três apresentaram a sua demissão, depois de saberem que estavam entre os investigados por alegadamente terem ignorado os problemas financeiros do banco espanhol aquando da dispersão em bolsa do seu capital em 2011.
Contudo, são sete no total os responsáveis dos reguladores da banca e da bolsa espanhola que estão a ser investigados, com o antigo governador do Banco de Espanha, Miguel Ángel Fernández Ordoñez, e o ex-presidente do supervisor da bolsa, Julio Seguro, a encabeçarem a lista. Entre os implicados nesse processo estão também o número dois da bolsa espanhola, Fernando Restoy, que foi, até ao início deste ano, vice-governador do Banco de Espanha.
O tribunal espanhol emitiu uma declaração onde afirma existir provas suficientes para indiciar os responsáveis dos reguladores no envolvimento com o IPO do Bankia, em 2011, um ano antes de este ter sido alvo de uma nacionalização. Os reguladores terão autorizado a dispersão em bolsa do capital do banco que resultou da união de sete cajas (caixas regionais) apesar dos alertas repetidos por parte das equipas de inspeção do banco central de que o grupo não seria viável, afirmou a Audiência Nacional (Procuradoria-Geral espanhola) numa declaração escrita disponibilizada esta segunda-feira. O tribunal não especificou possíveis acusações mas referiu emails internos onde os inspetores alertavam para os riscos associados às finanças do Bankia. Avisos que não terão sido valorizados pelos inspetores superiores.
Em 2011, o Bankia levantou mais de três mil milhões de euros através da venda em bolsa, onde estavam incluídos 1,85 mil milhões de euros por parte dos investidores de retalho, apenas um ano antes de quase ter colapsado e obrigado Espanha a ir buscar 41 mil milhões de euros ao fundo europeu de resgate para salvar o sistema financeiro espanhol. O resgate ao Bankia requereu mais de 22,4 mil milhões de euros em ajuda estatal.
A demissão dos responsáveis do Banco de Espanha foi anunciada esta segunda-feira num comunicado emitido pelo regulador, que não reagiu à decisão do tribunal espanhol. Já a CNMV, regulador do mercado de capitais espanhol, afirmou numa declaração escrita citada pela Bloomberg que a sua supervisão do IPO do Bankia foi levada a cabo de forma profissional e com cumprimento das regras deste tipo de processos.
Este caso poderá ser a primeira instância em que a regulação financeira espanhola é envolvida diretamente pelo seu falhanço na prevenção do escândalo do Bankia.
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