Porque é importante Mike Butcher ter falado de Portugal

  • ECO
  • 17 Fevereiro 2017

Pode não saber quem Mike Butcher é, mas ele certamente sabe quem são os portugueses e os fatores que tornam o país o novo centro da inovação europeia... e até mundial.

Mike Butcher Noam Galai/Getty Images for TechCrunch

Mike Butcher é um guru da tecnologia e dos media. É comentador assíduo das áreas da tecnologia e dos negócios na BBC News, na Sky News, no Channel 4 e na Bloomberg. Enquanto jornalista, já passou por algumas das mais conceituadas publicações britânicas, do The Guardian ao The Financial Times ou ao The Daily Telegraph. Já foi editor da revista New Media Age, a revista semanal líder a nível de media e tecnologia no Reino Unido, e atualmente é editor da TechCrunch Europe, uma revista online especializada em conteúdos sobre tecnologia, media e negócios. Como se já não bastasse, ainda está envolvido num projeto que tem como objetivo juntar empresários e investidores europeus num espaço comum chamado TechHub, inicialmente localizado em Londres, mas que pretende expandir para outros pontos da Europa.

Quando se trata de novas tecnologias, de inovação e de startups, ele está envolvido no assunto. E sabe do que fala. Por isso, é bastante relevante que tenha falado de Portugal, e mais especificamente de Lisboa, neste contexto.

No seu mais recente artigo, publicado no site da TechCrunch, com o título “Em 2016, Lisboa ligou os motores das suas startups. Em 2017, vai ouvi-los rugir”, analisou a evolução de Portugal desde a crise financeira de 2008 até que as startups e o empreendedorismo voltaram a levar o país a bom porto. A analogia ao mar e à navegação não é inocente: Butcher utiliza o exemplo da glória alcançada na época dos Descobrimentos como justificação para o sucesso alcançado a expandir os produtos nacionais, a mentalidade inovativa e a cultura além-mar.

“Procurar novos territórios faz parte do ADN dos portugueses”, afirma, e acrescenta que o conhecimento geral da língua inglesa também é “um ingrediente crucial”: “É algo que os seus primos do sul da Europa não têm. O inglês não só é ensinado nas escolas, como, ao contrário da sua vizinha Espanha, que tem uma população mais vasta e pode suportar o custo económico de traduzir todos os filmes e programas televisivos do inglês para o espanhol, o pequeno Portugal não o pode fazer”. Por isso, os portugueses não tiveram remédio a não ser aprender a língua. “Esta familiaridade com o inglês é uma vantagem por duas razões. Em primeiro lugar, tornou mais fácil para Portugal negociar a nível internacional. E em segundo, um condutor de táxi ou de Uber consegue falar inglês da mesma forma que um membro do Governo, algo que não se encontra em Barcelona ou Madrid. É muito mais fácil para um empresário estrangeiro chegar a Portugal e criar um negócio sob o seu clima solarengo”.

O clima, as praias, as paisagens, os bairros históricos, a boa rede de transportes, a mistura de antiguidade com inovação, tudo é elogiado por Butcher, que coloca Lisboa no pedestal da “nova Berlim do sul da Europa”. Mais: compara a ponte 25 de abril à Golden Gate Bridge de São Francisco, na Califórnia.

Sem surpresas, o Europen Digital City Index coloca o baixo custo e a alta qualidade de vida de Lisboa como os seus dois maiores trunfos.

Mike Butcher

TechCrunch

Butcher refere outra grande vantagem dos empresários e empreendedores portugueses: “Devido à pequena dimensão do país e da sua população, os portugueses lançam as suas startups a pensar na expansão internacional desde o primeiro dia, mantendo a tradição de olharem além mar. Nesse aspeto, a sua mentalidade está muito próxima da do Reino Unido”.

Butcher também explica que, em 2016, as venture capitals investiram uns “meros” 18,5 milhões de dólares (17,4 milhões de euros) em nove acordos com startups portuguesas, de acordo com os dados do Preqin, uma companhia internacional de pesquisa de investimentos. Mas, na verdade, não são “meros”: este valor, embora possa ser considerado baixo em comparação aos que outros países conseguiram alcançar neste último ano, é seis vezes maior do conseguido em 2015. Um estudo da Allianz Kulturstifftung, a fundadora da companhia alemã de seguros, colocou Lisboa no quinto lugar das melhores comunidades para startups na Europa, à frente de outros centros de inovação como Estocolmo ou Dublin.

Os incentivos que o Governo português, em especial a Câmara Municipal de Lisboa, têm dado aos empreendedores e aos fundadores de startups também estão em destaque no artigo. Ao abrigo do programa Startup Lisboa, surgiram iniciativas como o Programa Semente, um incentivo ao empreendedorismo e, ao nível do IRS, através de uma dedução de 25% dos investimentos individuais em startups, e também uma forma das pequenas empresas atraírem investidores individuais. É aplicável a empresas com um número máximo de 20 trabalhadores e cujo valor de bens imóveis detidos não exceda os 200 mil euros, segundo o Jornal Económico.

“O município de Lisboa tem vindo a curvar-se e a dar a mão à palmatória para incentivar empreendedores a começarem as suas companhias na cidade”, afirmou Butcher. “Há uns anos, quando uma aceleradora lisboeta pediu ao presidente da Câmara que facilitasse o acesso a espaços de escritório, e ele simplesmente ofereceu-lhe licenças de 30 anos para arrendar edifícios municipais em desuso”.

E além da aposta do Governo, quer através de programas específicos, quer da redução de impostos ou de outros benefícios fiscais, Butcher também realça a importância das principais empresas investidoras sediadas em Lisboa: a Beta-i, a Faber Ventures, a InterCapital, os Busy Angels, a Portugal Ventures, e a Caixa Capital.

Mas, no fundo, o especialista em tecnologia defende que tudo é possível devido ao talento e ao esforço dos portugueses. “Depois de recusar um trabalho na Google, Jaime Jorge fundou a Codacy com João Caxaria, uma empresa que produz algoritmos que conseguem corrigir automaticamente erros nos códigos de software para uma larga gama de negócios a nível mundial. Agora eles trabalham com gigantes internacionais como a PayPal ou a Adobe”.

Os melhores e mais promissores portugueses costumavam trabalhar para consultoras em grandes cidades como Londres. Mas agora estão a produzir o seu dinheiro aqui e a lançá-lo para o resto do mundo

Mike Butcher

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