FMI: Bancos precisam de (ainda) mais provisões

  • Rita Atalaia
  • 22 Fevereiro 2017

O fundo reconhece que os bancos já adotaram medidas, mas alerta que não as suficientes para compensar a baixa rentabilidade, uma das consequências do malparado. Solução? Aumentar as provisões, refere.

Os bancos já fizeram muito, mas têm de fazer ainda mais. É esta a conclusão do Fundo Monetário Internacional (FMI) no relatório sobre a quinta avaliação a Portugal. O fundo liderado por Christine Lagarde reconhece que foram adotadas medidas para cortar custos, mas alerta que não são suficientes para compensar a fraca rentabilidade. Um problema provocado pelas taxas de juro baixas e pelo crédito malparado. Ou seja, têm de ser dados outros passos, como aumentar ainda mais as provisões para cobrir estes empréstimos em incumprimento.

A banca continua a ser uma preocupação para o FMI. Na quinta avaliação a Portugal, o fundo diz que, “como discutido no Article IV de 2016, o sistema bancário português continua com liquidez, mas ainda luta contra a fraca qualidade dos ativos, baixa rentabilidade e almofadas de capital limitadas”. O fundo diz que o capital total que existe no sistema bancário está acima dos requisitos regulatórios. Mas isso parece ser “insuficiente num contexto em que todo o crédito malparado esteja provisionado”.

O fundo reconhece que foram feitos esforços. “Os bancos aumentaram as imparidades relacionadas com o malparado e reduziram os custos operacionais, demonstrando maior abertura para reconhecerem perdas com empréstimos em incumprimento e para aumentar as almofadas de capital para absorvê-los”.

Mas alerta que é preciso fazer mais. “As medidas para cortar custos não ofuscaram a baixa rentabilidade, provocada pelas taxas de juro baixas e pela fraca qualidade dos ativos“. O FMI, liderado por Christine Lagarde, defende, por isso, que os bancos têm aumentar ainda mais as provisões para fazerem frente ao crédito malparado.

Mais provisões, mas também menos custos

O FMI nota ainda que os “supervisores têm de garantir que os bancos definem alvos ambiciosos para reduzir o crédito malparado e incentivar os bancos a retirar o malparado dos seus balanços, forçando-os a aumentar os rácios de cobertura”. Mas como? “Colocando de parte mais provisões para estes empréstimos em incumprimento”, realçando que a fraca qualidade dos ativos continua particularmente concentrada no setor empresarial.

De acordo com a perspetiva dos responsáveis, “é essencial que haja uma limpeza abrangente dos balanços para quebrar o circulo vicioso entre bancos fragilizados, níveis elevados de crédito malparado e crescimento baixo”. E isso deve incluir um “plano credível” para que os bancos sejam capazes de anular estes empréstimos, reforçar a governance e a rentabilidade, incluindo ainda mais corte de custos.

Segundo dados da Autoridade Bancária Europeia, o malparado da banca portuguesa atingiu aproximadamente os 40 mil milhões de euros, representando pouco mais de 20% do total de crédito concedido. Este nível elevado é reflexo dos anos de grave crise económica durante o período de assistência financeira internacional. A média europeia era de 5,4%.

Fonte: EBA (Valores em percentagem)

Entre os bancos nacionais, o BPI era quem mais se aproximava da média da banca europeia: “apenas” 8,16% do crédito estava em risco. Do lado oposto, o Novo Banco registava no final do primeiro semestre um nível de malparado na ordem dos 36%, o maior nível entre os bancos portugueses. Não é estranho que seja António Ramalho, CEO do Novo Banco, um dos maiores entusiastas de uma solução conjunta para o crédito em risco de incumprimento.

A CGD apresentava o segundo nível de malparado mais baixo (16,6%) entre os bancos portugueses na análise da EBA. Mas esse valor deverá disparar neste segundo trimestre com o maior reconhecimento de empréstimos que dificilmente deverá reaver.

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