Fed e a subida certa dos juros. E agora, onde investir?
Sem surpresas, a Fed aumentou os juros e prometeu mais duas subidas ao longo deste ano. Como tirar o melhor partido deste aperto das condições financeiras nos EUA?
Não surpreendeu ninguém. A Reserva Federal norte-americana voltou a subir os juros de referência nos EUA, prometendo mais dois aumentos das taxas das fed funds em 2017. Embora incorporado há muito pelo mercado, este aperto das condições monetárias na maior economia do mundo tem implicações globais. Saiba como tirar o melhor partido da subida certa dos juros.
1. Dólar aponta para valorização
Conhecida a posição da Fed, a primeira reação do dólar foi negativa. Afinal, o banco central não vai acelerar a retirada dos estímulos monetários, um cenário que muitos investidores estavam a apostar.
Ainda assim, a entrada em cena de Trump e da sua política de estímulos fiscais pode mudar tudo e obrigar a instituição liderada por Janet Yellen a apertar o cinto mais cedo do que o previsto.
“Elevadas taxas de juros são positivas para a moeda porque os investidores parqueiam o seu dinheiro para receber juros mais elevados. Por isso, uma subida das taxas de juro poderá levar a uma apreciação da moeda”, lembram os analistas da XTB, apontando para uma potencial valorização da moeda norte-americana.
Assim, num cenário que comporta uma Fed mais conservadora (disponível para subir os juros), tendo em conta que a subida (de março) já tenha sido quase descontada, a indicação de mais subidas poderá suportar uma valorização do dólar, afirma a XTB. “Um movimento como este poderá repetir a subida conservadora de dezembro de 2016 e poderá invocar uma reação semelhante. Neste caso, os traders devem considerar posições longas no dólar/iene, dólar/dólar canadiano e dólar/lira turca.
2. Um guarda-chuva contra a inflação
Determinante para a decisão da Fed foi a inflação. O nível de subida de preços está no “ponto de açúcar” para o banco central.
Bill Irving, gestor da Fidelity Government Income Fund, considera que subida dos juros não terá grande impacto nas obrigações de longo prazo. “Devemos ter em atenção que a Reserva Federal não controla toda a curva de rendimentos: mudanças nas taxas diretoras afeta principalmente a extremidade curta da curva, ou os títulos com maturidades mais curtas”, explica Irving, mas alerta para o perigo da inflação.
"Devemos ter em atenção que a Reserva Federal não controla toda a curva de rendimentos: mudanças nas taxas diretoras afeta principalmente a extremidade curta da curva, ou os títulos com maturidades mais curtas.”
Para o gestor deste fundo de obrigações da Fidelity, faz mais sentido a exposição às Treasury inflation-protected securities (TIPS), como forma de eliminar o risco mais proeminente para quem investe em ativos de renda fixa, o risco da inflação, enquanto assegura uma taxa de retorno garantida pelo governo norte-americano.
“Embora tenham valorizado nos meses mais recentes, as TIPS continuam com um preço modesto. A administração Trump sugeriu que vai adotar uma política comercial mais protecionista, que poderá levar a uma inflação mais elevada dado que as importações vão ser afetadas com as tarifas alfandegárias, aumentando os preços para os consumidores. Uma surpresa na inflação poderá atirar as TIPS para um desempenho superior”, salientou Bill Irving.
3. A “boa ação” da Fed
Se a Fed tira, é porque sabe que a economia vai dar. E quem ganha com isso são as empresas.
A pujança da economia norte-americana é sempre um sinal de garantia de bons resultados para as empresas. E, no caso dos bancos, a subida das taxas de juro vai engordar as margens do setor financeiro, incluindo bancos como JP Morgan, Morgan Stanley ou Bank of America.
Este cenário é ainda mais potenciado com as intenções de Trump de baixar os impostos ao setor privado, de aumentar os gastos públicos em infraestruturas e de retirar alguma regulação dos ombros dos bancos.
Ou seja, segundo analistas é tempo para investir em ações, algo que os investidores têm continuadamente estado a fazer desde que Trump foi eleito presidente norte-americano, num movimento que ficou conhecido como a “grande rotação”.
4. Ouro sem brilho
Para a Goldman Sachs, dado que o mercado ainda não incorporou plenamente as três subidas previstas para este ano, isto significa que há espaço para um reajustamento das expectativas. Além do dólar mais forte, deveremos assistir a nova rotação no mercado em direção aos ativos de alto rendimento. Quem sai prejudicado com isso? O ouro.
“Se fazer previsões para o ouro sempre foi difícil, mais complicado se tornou desde a eleição norte-americana, com o tema da reflação a ganhar tração”, admitem os analistas daquele banco investimento, que encontram agora um cenário diferente: “As expectativas para a inflação em várias geografias estão a aumentar significativamente, historicamente um fator positivo para o ouro, mas desta vez vêm acompanhadas por expectativas de crescimento mais elevadas (diminuindo a atratividade do ouro para os investidores)”.
O ouro terá mais a perder num cenário em que as políticas económicas que Trump já disse querer implementar. Vão impulsionar o crescimento e, ao mesmo tempo, os preços acima do objetivo da Fed. E, neste caso, o banco central terá necessidade de agravar ainda mais a sua taxa, retirando ainda mais brilho ao ouro.
"As expectativas para a inflação em várias geografias estão a aumentar significativamente, historicamente um fator positivo para o ouro, mas desta vez vêm acompanhadas por expectativas de crescimento mais elevadas (diminuindo a atratividade do ouro para os investidores).”
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