Conjuntura externa vai deixar de ajudar países emergentes

A degradação da conjuntura externa vai deixar os países emergentes mais desamparados. O alerta é dado pelo Fundo Monetário Internacional esta segunda-feira no World Economic Outlook de abril.

Até este ano, as economias emergentes beneficiaram de um ambiente externo positivo. À medida que estes países foram sendo integrados na ordem mundial, a sua exposição à conjuntura externa também aumentou. Contudo, o advento das forças protecionistas vai colocar em causa a evolução futura das economias a emergir. O aviso é dado pelo Fundo Monetário Internacional esta segunda-feira no Capítulo II do World Economic Outlook de abril.

Uma coisa o FMI tem a certeza: “As condições externas têm um efeito significante no crescimento [económico] nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento“. E esta premissa vai ter implicações menos positivas (ou mesmo negativas) em breve. Depois de décadas em que a conjuntura internacional beneficiou os países emergentes, dada a globalização, os próximos anos serão de riscos, principalmente nas economias que agora estão mais sensíveis às mudanças da economia global.

O principal fator está relacionado com as complicações de “risco” do lado do protecionismo, o que conduzirá a uma quebra da integração. “É expectável que o crescimento na procura externa, em média, seja mais fraca durante o período de 2017 a 2022, em comparação com o passado“, explica o FMI. A pressão chegará da maior economia mundial, dado que a instituição internacional prevê que as condições financeiras dos Estados Unidos fiquem mais “apertadas” com o aumento da taxa de juro.

O gráfico das projeções do FMI mostra essencialmente a perda de peso do contributo dado pelos termos de troca das exportações das economias emergentes. Esta é a taxa de variação do preço relativo das exportações em termos das importações. Significa assim que estes países vão perder competitividade face ao passado, apesar de, ao mesmo tempo, conseguirem recuperar esse valor pelo lado das importações.

Ainda assim, o efeito de diminuição do fluxo de capitais e do crescimento dos parceiros comerciais (maioritariamente países desenvolvidos) completará o caldo de risco que o Fundo Monetário Internacional traça neste relatório para o futuro das economias emergentes.

Apesar de o cenário entre as economias emergentes ser heterogéneo, este conjunto de países já representa 75% do crescimento do consumo global, “quase o dobro da percentagem registada há duas décadas”. Cada país tem as suas especificidades enquanto economia, mas o FMI faz recomendações para lidar com a desaceleração da procura externa.

Como lidar com a conjuntura externa?

Apesar de fazer este alerta, o Fundo Monetário Internacional também deixa recomendações para que os países implementem reformas estruturais para lidarem com uma conjuntura externa menos positiva. No centro destas políticas tem de estar um sistema legal de alta qualidade e uma proteção mais forte dos direitos de propriedade. Estes são os países que conseguem melhores resultados económicos a médio prazo, diz o FMI.

Mas esta lista de países — onde se incluem parceiros comerciais de Portugal como Angola, Moçambique ou Brasil — pode adotar já medidas que evitem uma desaceleração demasiado forte no seu desenvolvimento, principalmente na qualidade de vida dos cidadãos. O FMI aconselha prudência na gestão orçamental, na política monetária e na inflação para que o Estado seja capaz de dar uma resposta eficaz às mudanças das condições externas. Os conselhos da instituição liderada por Christine Lagarde resumem-se em três:

  • Baixar a dívida externa;
  • Melhorar o saldo comercial para criar excedentes;
  • Criar espaço orçamental para lidar com problemas futuros.

Na base do argumento do Fundo está a confiança dos empresários e dos consumidores: se estes fatores públicos forem estáveis, então as empresas vão continuar a investir e os cidadãos a acreditar no futuro do país.

Em suma, o FMI projeta que as “condições favoráveis excecionais” do início do século dificilmente voltarão a repetir-se para os países emergentes. “Algumas condições podem vir a ser menos favoráveis num futuro próximo, enquanto outras continuam mergulhadas em incerteza”, explica o Fundo. Por isso, as economias emergentes devem começar a planear outras fontes de contributo para o PIB, dado que a conjuntura internacional deixará de impulsionar tanto o crescimento económico como fez até agora.

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