Banco (pouco) Popular. O sol brilhará de novo?
Banco tem um plano chamado Sunrise com o qual quer voltar à ribalta. Mas a carteira intoxicada com malparado pode não deixar outro caminho senão a fusão com uma grande instituição. Voltará a brilhar?
Sunrise. O Banco Popular tem um plano para voltar à ribalta. O banco espanhol atravessa extremas dificuldades com o elevado volume de ativos tóxicos. Um problema de 37,4 mil milhões de euros que está a consumir o capital aos acionistas e a cabeça ao recém-chegado presidente executivo Emilio Saracho. Na última intervenção junto dos acionistas, Saracho não podia ser mais claro: “Estamos condenados a aumentar o capital”. Não há muitas mais alternativas para uma instituição que pode ser engolida por outro grande banco.
O Banco Popular quer “ver o dia nascer” depois de um eclipse total em 2016. Fechou o ano passado com prejuízos históricos de 3,5 mil milhões de euros. E está em vias de chamar novamente os acionistas para pedir dinheiro, depois de novo trimestre no vermelho em 2017: prejuízos de 137 milhões de euros.
Desde 2012, já fez três aumentos de capital no valor global de 5,5 mil milhões de euros. Que foram insuficientes para os buracos abertos com a aposta no imobiliário e noutros ativos problemáticos. Os analistas falam em necessidades de 4,2 mil milhões de euros para repor os rácios de força financeira. Contas feitas, é muito dinheiro para um banco que está avaliado em 2,8 mil milhões de euros.
Apesar de ser um dos bancos mais rentáveis no negócio das pequenas e médias empresas, o Banco Popular está a passar um mau bocado por causa do bilionário problema com os ativos tóxicos (non performing assets, NPA), onde se inclui uma pesada carteira de malparado (non performing loans, NPL) avaliado em mais de 19 mil milhões de euros. São empréstimos cujas cobranças são muito duvidosas e têm obrigado bancos em toda a Zona Euro a registar imparidades — bancos portugueses incluídos — e a um esforço para construir capital para eventuais necessidades futuras.
Malparado disparou em 2012 com a crise bancária em Espanha
Depois da bolha imobiliária em Espanha, a economia espanhola quase foi ao fundo em 2012, deixando empresas e famílias espanholas sem condições para honrarem os seus compromissos de reembolso junto do banco. A fatura sobrou para os bancos mais expostos ao mercado dos imóveis.
No caso do Popular, viu o malparado disparar 51% no curto espaço de um ano, dos 14 mil milhões para um montante superior a 21 mil milhões em 2013. Se o Banco Central Europeu (BCE) veio retirar lucros aos bancos com a política de juros baixos para promover a economia, os empréstimos de cobrança duvidosa complicaram ainda mais as contas do banco.
Nascer de novo
Saracho completou recentemente 50 dias à frente do Popular. É pouco tempo para dar a volta à instituição, mas aquele que é considerado o melhor banqueiro espanhol, ex-JPMorgan Chase, quer um novo amanhecer para o banco “pelo qual vale a pena lutar”. Foi isso que disse aos acionistas quando no mês passado abriu a porta a um novo reforço de capital no banco.
Em 2016, o Popular apresentou provisões de 5,7 mil milhões de euros para “limpar” o seu balanço, três vezes mais do que havia registado em 2015, e 1.000 milhões acima daquilo que os próprios responsáveis esperavam. Mas este esforço para por dinheiro de lado não teve propriamente impacto na capacidade de absorção do risco dos seus ativos não rentáveis (os NPA). O banco queria um nível de cobertura sobre os ativos problemáticos de 50% no final do ano passado. Mas o aumento destes ativos para um total de 37,4 mil milhões de euros levou a que o rácio de cobertura ficasse nos 45% — estava nos 38% no final de 2015.
Por causa da magnitude de provisões, os prejuízos do banco dispararam naquele que foi o pior resultado na sua história de mais de 90 anos, excedendo largamente o montante que o banco havia levantado no último aumento de capital, realizado a meio do ano passado, na ordem dos 2,5 mil milhões de euros. Consequência: os rácios de capital do banco foram ao fundo novamente.
Prejuízos superam os cinco mil milhões desde 2012
No âmbito do plano Sunrise (nascer do sol) está, entre outras medidas, a criação de um banco mau para “desintoxicar” a carteira do Banco Popular. Isso aliviaria as necessidades de dinheiro fresco para o banco cumprir os requisitos das autoridades europeias, que têm forçado o sistema financeiro a robustecer as suas finanças.
Em todo o caso, no final de 2016, os parâmetros que medem a força do banco apontavam para um agravamento da fragilidade da instituição. O rácio CET1 phased-in estava nos 12,1%, abaixo dos 13,1% registados um ano antes.
Vender ativos mas Portugal fica
O banco deverá precisar de mais 4,2 mil milhões de euros, segundo as estimativas dos analistas. A venda de ativos está prevista no tal programa Sunrise e poderá ajudar a obter capital e reduzir necessidades. A imprensa espanhola tem noticiado com frequência que Emilio Saracho deve promover a alienação de algumas das subsidiárias internacionais do Banco Popular e também a banca de investimento. Vendeu ainda esta semana o Popular Servicios Financieros à Abanca num negócio que representou uma mais-valia de 6,7 milhões de euros. Em relação a Portugal, é para manter.
A operação portuguesa, que chegou a ser dada como descartável, deverá continuar no Popular porque aquele responsável acredita que o banco tem mais a ganhar mantendo-se em Portugal do que com a venda do negócio, segundo adiantaram fontes próximas de Saracho ao jornal económico Cinco Dias.
Em Portugal, a atividade do banco já reduziu de dimensão. Ao ECO, o fonte do banco adiantou que já saíram os cerca de 300 trabalhadores do banco e já encerraram os 47 balcões. Estas medidas que fazem parte da reestruturação que vai tornar Popular Portugal numa sucursal da casa mãe no último trimestre do ano. Não obstante o downsizing, o banco diz que está por cá para ficar e para crescer.
Popular já foi bem mais popular na bolsa
Ainda assim, há mais ativos considerado non core, nomeadamente posições na Wizink, Aliseda, TotalBank. São negócios que podem aliviar as necessidades dos 4,2 mil milhões para os 2,7 mil milhões.
Estas operações podem ajudar Saracho a devolver alguma confiança ao banco junto do mercado que chegou a avaliar o Popular em cerca de 20 mil milhões. Caso contrário, pode estar a caminho de uma OPA.
Os jornais espanhóis referem em concreto uma proposta que o BBVA pôs em cima da mesa por cerca de seis mil milhões no final de novembro do ano passado. Já se falou no Sabadell, mas dificilmente os acionistas iriam aceitar ser integrados num banco mais pequeno.
Com o BBVA (ou mesmo o Santander, dizem os analistas), a fusão seria mais facilmente “digerida” para os acionistas do Popular. É um banco de grande dimensão e a oferta de ações em troca do Popular poderia ser um caminho alternativo para o sol brilhar de novo.
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