Like & Dislike: modelo vingou ou é a história que se repete

O crescimento da economia surpreendeu tudo e todos. É o triunfo do modelo económico de António Costa ou é a história que se repete?

Depois dos três “efes” do fim de semana — Fátima, o futebol e o Festival — eis que, no arranque da semana, aparece mais um “efe” para se juntar à festa. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) disparou e fez com que o PIB em Portugal registasse uma subida expressiva, de 2,8%, o melhor registo desde o quarto trimestre de 2007.

Há dez anos, a última vez que a economia tinha registado tamanho brilharete, o então primeiro-ministro José Sócrates justificava assim o crescimento: “É absolutamente evidente e chama-se investimento”.

Investimento acelera e consumo abranda

O mundo entretanto mudou, mas a justificação de há dez anos continua a ser válida hoje. O INE diz que a procura interna “manteve um contributo positivo elevado”, graças à “aceleração do investimento”.

Os fundos comunitários, que impulsionaram o investimento, não chegam para as 20 estações que Assunção Cristas quer construir em Lisboa, mas permitem a António Costa rumar às eleições de 2019 sem parar em nenhuma estação ou apeadeiro.

Já se percebeu que não é pelo modelo baseado no consumo que a economia vai desatar a crescer. Aliás, o INE alerta, ainda ao nível da procura interna, para uma “desaceleração do consumo privado”, reforçando a tese daqueles que defendem que a política macroeconómica limitada à reposição dos rendimentos é sol de pouca dura.

É sustentável este crescimento?

A ajudar a disfarçar a desaceleração do consumo das famílias — a economia já absorveu o efeito das reposições — esteve a procura externa que surpreendeu pela positiva, com as exportações a aceleraram mais do que as importações, algo que raramente acontece em Portugal.

É uma boa notícia este equilíbrio na balança comercial, mas que poderá ter os dias contados. Primeiro porque a desaceleração do consumo está a impactar negativamente nas importações, que também estão a beneficiar do facto de as empresas estarem a maximizar a capacidade instalada, e não a importar tanto máquinas e equipamentos.

Quando este efeito se esgotar, as importações voltarão a acelerar, levando a procura externa a ter novamente um contributo negativo para o PIB. Como os fundos comunitários são finitos, e com o crescimento do consumo a desacelerar, é provável que seja difícil manter o ritmo de crescimento deste arranque do ano. Até porque, avisam os economistas, o primeiro trimestre beneficia de um efeito base favorável, já que o termo de comparação para se chegar aos 2,8% é o primeiro trimestre de 2016 em que economia estava praticamente estagnada e anémica.

Estamos condenados a crescimentos medíocres?

Há dez anos, quando apareceu triunfalista à frente as câmaras de televisão para justificar o crescimento de 2,8%, José Sócrates dizia que os números do INE vinham confirmar “os fundamentais da nossa economia”.

Poucos meses depois desta frase, a Europa virou e a economia entrou numa recessão profunda que veio a culminar no resgate de 2011. Prova de que os fundamentais da economia eram débeis. O modelo de crescimento assente quase exclusivamente no consumo mostrou as suas debilidades e o facto de as contas públicas estarem presas por arames e com muita desorçamentação mostrou que o país não tinha capacidade para absorver um choque externo.

E se a Europa voltar a virar?

Hoje, o cenário europeu é novamente favorável. A Europa já descolou, Espanha cresce mais de 3%, o BCE mantém as rotativas a funcionar e o petróleo estabilizou nos 50 dólares.

A torneira dos fundos comunitários, — em ano de autárquicas e com o Governo a dar sucessivos bónus pela antecipação do investimento, — está definitivamente aberta e a puxar pelas empresas.

Há uma diferença grande quando se compara a era de José Sócrates com a de António Costa. O atual primeiro-ministro recebeu uma herança — contas públicas mais equilibradas — que, apesar de toda a pressão da esquerda radical, faz questão de preservar.

É uma condição necessária para absorver choques externos e poder ter políticas públicas contracíclicas em momentos de aperto. É uma condição necessária, mas não suficiente.

E qual é a condição suficiente? Parafraseando Sócrates, “é absolutamente evidente e chama-se investimento”. É o quarto “efe”, a Formação Bruta de Capital Fixo. Há vários anos que o peso do investimento no PIB em Portugal ronda os 15%, um registo pobre e que nos coloca na cauda das economias desenvolvidas, só à frente da Grécia e de Porto Rico. Há duas décadas que este indicador não para de cair.

O investimento é o motor de toda a economia e o garante da sua sustentabilidade. Se não conseguirmos reverter esta tendência, estamos condenados a mais duas décadas de crescimentos medíocres, com um brilharete aqui e ali. Passos Coelho ganhou a guerra do défice e António Costa tem de ganhar a batalha do crescimento. Os números do INE mostram que vai bem lançado, e por isso merece um like.

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