Medina Carreira era “corajoso”, “desassombrado”, “lúcido”

  • ECO
  • 4 Julho 2017

O Presidente da República lamenta a perda de "um homem corajoso e pensamento livre", António Costa fala em perder um amigo, e os colegas e ministros elogiam Medina Carreira.

O Presidente da República, o primeiro-ministro e antigos ministros portugueses lamentaram esta segunda e terça-feira a morte de Henrique Medina Carreira, antigo ministro das Finanças que morreu aos 86 anos. Lembrado como “um homem corajoso e de pensamento livre”, Medina Carreira vai “fazer falta”, garantem os colegas”.

Marcelo Rebelo de Sousa lamentou numa nota divulgada no site da Presidência a perda do antigo ministro “em momentos difíceis”, mas cuja “visão crítica perdurou como comentador, professor, escritor, cidadão inconformado”. O Presidente da República lembra um homem que era “pessimista para alguns, realista para outros”, acrescentando: “Todos decerto estaremos gratos pela sua frontalidade, exigência e atitude de rigor — que faz falta em qualquer sociedade”.

António Costa, por sua vez, publicou no Twitter uma declaração mais pessoal e bastante curta. “Perdi um amigo que herdei do meu pai e Portugal uma voz atenta e empenhada em que o ceticismo era um inteligente desafio de lucidez”, escreveu o primeiro-ministro.

Mário Centeno, ministro das Finanças, enviou uma declaração escrita à Lusa em que destacou a “coragem”, “determinação” e “rigor” de Medina Carreira. “Foi o ministro que negociou o primeiro empréstimo do FMI [Fundo Monetário Internacional], com a sabedoria de procurar o melhor caminho para Portugal. (…) Desta experiência todos herdámos um profundo conhecedor do sistema financeiro e tributário português que sempre colocou o seu conhecimento ao serviço do país”, considerou o atual titular da pasta das Finanças, recordando Medina Carreira como “um assumido crítico da política portuguesa” cujo “inconformismo e o espírito de ação” são “exemplos de vida.”

O ex-presidente da República Aníbal Cavaco Silva, por sua vez, elogiou a “notável lucidez” de Medina Carreira. “Visto por muitos como um pessimista, era sobretudo um homem de uma notável lucidez, cuja visão esclarecida e despolitizada da realidade portuguesa fará certamente muita falta a Portugal”, disse numa nota enviada à agência Lusa.

O antigo ministro das Finanças Luís Campos e Cunha também recordou, à Rádio Renascença, o colega como “uma pessoa desassombrada, cheia de coragem e que chamava a atenção para problemas importantes do país, sem medo das consequências”. Optou por recordar uma altura em que contactou com maior proximidade com Medina Carreira: “Tivemos um contacto muito próximo quando ele fez parte de um grupo da SEDES, do qual faziam parte João Salgueiro, Henrique Neto, e tivemos algumas tomadas de posição a chamar à atenção que o país estava no caminho errado. Infelizmente, não tivemos o sucesso que gostaríamos de ter tido”.

Medina Carreira acompanhado por outros economista aguarda a chegada do presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, para uma reunião de economistas e gestores para analisar a atual situação económica e financeira do país, 30 de abril de 2010, num hotel de Lisboa. INÁCIO ROSA/LUSA

O antigo ministro da Economia Augusto Mateus disse ao Diário de Notícias ter tido uma relação próxima com Medina Carreira. “Conhecia muito bem. Éramos amigos, apesar da nossa diferença de idades. Ao longo das últimas décadas fizemos uma aproximação, falávamos e era uma pessoa pela qual tinha grande apreço e respeito. Sempre foi uma pessoa que nunca teve dificuldade em expressar com coragem as suas opiniões e essa é uma qualidade que aprecio muito, independentemente de concordar ou não. Era um homem que falava em função da experiência que tinha sobre os assuntos, preocupado com o país e com a melhoria do país”, disse ao Diário de Notícias.

O ex-ministro das Finanças Eduardo Catroga disse à agência Lusa que “recebeu com grande tristeza” a morte do fiscalista. “Foi uma pessoa altamente cotada, sóbrio, um ótimo ministro das Finanças no contexto da sua época”, declarou.

Também o economista António Nogueira Leite assinalou que Medina Carreira “vai fazer muita falta”, em entrevista com o Jornal Económico. “Para além de uma longa e variada carreira profissional, teve uma intervenção pública sempre pautada pela argúcia, pela independência e pela seriedade”, assinalou Nogueira Leite, que partilhava com Medina Carreira a direção do Fórum para a Competitividade.

Notícia atualizada às 15:45 com a reação de Aníbal Cavaco Silva.

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