A cereja no topo do bolo agrícola
Cerfundão e Frulact são duas das empresas que tornam a região um dos maiores produtores de fruta do país.
Na Beira interior destaca-se a zona agrícola da Cova da Beira que abrange Fundão, Castelo Branco e Belmonte. Além de se ter tornado o principal polo de produção de cereja também é um importante produtor de pêssego. As principais espécies cultivadas são a macieira, o pessegueiro, a ameixeira, a cerejeira e a pereira. A notoriedade e impacto comercial das variedades de cereja produzidas (“Burlat” e a “de Saco”) potenciou os fundamentos necessários para a atribuição da ‘Indicação Geográfica Protegida’ da cereja da Cova da Beira nos municípios do Fundão, Belmonte e Covilhã.
Existem empresas como a Cerfundão, que agrega um conjunto de produtores frutícolas, e empresas industriais como a Frulact, que lidera um grupo empresarial cuja atividade principal se centra nos preparados de fruta com destino à utilização das indústrias dos laticínios, da pastelaria industrial, dos gelados e das bebidas, a Biofun-Produtos Biológicos do Fundão, líder a nível nacional na produção de concentrados e aromas a partir de maçã, pera, pêssego e morango. Na mesma região, e nos últimos anos, também se está a dinamizar a produção de pequenos frutos, através, por exemplo, da Berrysmart/Herdade do Ladoeiro que apostou na produção, comercialização e prestação de serviços com foco nos pequenos frutos e frutos da montanha como os mirtilos, as amoras, as framboesas e as groselhas e a Beira Baga, situada na Quinta do Olival Grande no Fundão, produz os seus frutos (amoras, groselhas, mirtilos, framboesas e morangos).
As ervas aromáticas e os cogumelos são dos segmentos de atividade agrícola em grande desenvolvimento na região. Como se refere em Portugal ao Centro, “o setor entre 2007 e 2013 duplicou o número de produtores, aumentou substancialmente as áreas em produção e, se o peso económico poderá parecer pouco significativo comparativamente com outros, também se verifica que atraiu muitos agentes de fora do setor, jovens e com elevado grau de formação escolar, cujos efeitos podem ir para além da dimensão dos números em si. A opção por unidades de pequena dimensão permitiu ultrapassar mais facilmente a barreira da necessidade de terra, ou facilitar a possibilidade de diversificação de empresas já instaladas.
No caso do cogumelo, a emergência de novos produtores aumentou exponencialmente dado que a rentabilidade e o aumento do consumo garante por si só o escoamento no mercado nacional e internacional. Cerca de metade da produção é escoada para o estrangeiro, nomeadamente para França e Espanha”. Surgem assim casos como a Aromas do Valado, a Ervital, Plantas Aromáticas e Medicinais, Ervas do Zoé ou Fernando Manuel Rebelo Castro.
É um território com oportunidades para o desenvolvimento agrícola, que tem vindo a ser orientado para a oferta de produtos tradicionais e de qualidade da Região, sendo crescente a aposta na “certificação biológica” ou pela certificação DOP, como são já os casos do azeite e do queijo devido à existência de extenso olival e à produção de caprinos e ovinos, os ovinos sobretudo para de leite, e a produção de bovinos de carne, onde o investimento tem vindo a aumentar. Neste domínio conta o queijo da Serra, o mel e o pão. Nas culturas arvenses contam com grande número de projetos em novos pomares, com a aposta no figo da Índia, no medronho ou nos mirtilos, frutos secos, com destaque para o pistacho.
Turismo e as rotas
Na Beira Baixa, ao nível do turismo de natureza, oferecem mais de 250 Kms de percursos pedestres sinalizados, com destaque para algumas das principais rotas nacionais e internacionais — Rota de Santiago, Rota dos Apalaches, Rota do Zêzere, Rota das Aldeias Históricas (Monsanto, Idanha-a-Velha), das Aldeias de Xisto (Álvaro, Figueira, Martim Branco, Sarzedas). Um vasto conjunto de áreas protegidas, mais de 45.773 ha (Parque Natural do Tejo Internacional, Reserva Natural da Serra da Malcata, Serra da Gardunha) onde se pode observar um vasto número de espécies de avifauna (cegonha-negra, abutre do Egito, abutre negro, grifo).
Existe um significativo número de praias fluviais distribuídas por todos os concelhos, sem esquecer do Monumento Natural das Portas de Ródão, um dos locais da região que integra o Geoparque, classificado pela UNESCO.
A Serra da Estrela oferece pelos seus constastes naturais oportunidades de touring. Para além dos gelos glaciares com mais de 20 mil anos e a única estância de esqui do País, proporciona experiências contrastantes. Embora esteja no interior, oferece praias, com água cristalina como por exemplo as águas da albufeira do Vale de Rossim, nas Penhas Douradas, situada a uma altitude de 1500 metros, o que a coloca como a praia mais alta de Portugal, com temperaturas de água no verão perto dos 21°C. O Vale do Rossim é um ponto de encontro onde convergem os limites administrativos dos concelhos de Gouveia, Seia e Manteigas. O espaço é um dos ex libris paisagísticos e naturais da Serra da Estrela, a par do planalto do Torre, do vale glaciar do Zêzere, das Penhas Douradas e das Penhas da Saúde. Perto do Vale do Rossim fica a nascente do rio Mondego.
O valor da inovação e da tecnologia
“Há uma década que impomos moda em tecidos na Europa, tanto em Paris como em Milão ou em Munique”, disse João Carvalho, empresário do têxtil com a Fitecom e no vinho com a Quinta dos Termos. Muito do que mostram é depois copiado, por exemplo, por empresas italianas. Tem como matéria-prima a lã, e está verticalizada em tecelagem, fiação, acabamentos e tinturaria, várias secções totalmente robotizadas. Tem 200 trabalhadores, 20% dos quais com cursos superiores, “pois o nível de tecnologia exige qualificação”. Além disso, investe na diferenciação do produto e do design. Salientou que uma das “grandes dificuldade é a comunicação, a venda”, e que Lisboa e Porto estão a duas horas das capitais a preços inferiores aos que se têm nas deslocações de Castelo Branco a Lisboa ou Porto.
Em 2008, os centros de desenvolvimento das tecnológicas como a Microsoft e a IBM estavam a deslocar-se para a Polónia ou para a Roménia. Mas a OutSystems tentou primeira a deslocalização dentro de Portugal. Acabaram por se fixar em Proença-a-Nova. Hoje contam com 55 engenheiros informáticos e precisam de contratar mais 20 até o fim do ano, e mais 25 em 2018. E já não é só um centro de desenvolvimento porque a empresa foi adicionando competências. “Quebrámos alguns mitos como a da distância, de que só conseguiríamos contratar pessoas das escolas superiores próximas, como a Guarda, Castelo Branco e Covilhã e hoje temos pessoas que vêm de Braga, do Funchal, de Lisboa. Começamos com um salário médio de 800 euros e hoje o salário médio é de 1600 euros”, explica Ricardo Araújo, administrador da OutSystems.
Estes dois exemplos mostram a importância de centros universitários e de I&D. A Universidade da Beira Interior conta com 7.000 alunos, dos quais cerca de mil são estrangeiros, e estrutura-se em Unidades Orgânicas (5 Faculdades e o Instituto Coordenador de Investigação), Subunidades Orgânicas (15 Departamentos e várias Unidades de Investigação), Centros e Serviços. Conta com centros de investigação e e desenvolvimento tecnológico no domínio da Aeronáutica e do Espaço, dos Materiais Aeroespaciais e Estruturas e Energia e Mecânica dos Fluidos, em sistemas eletromecatrónicos, integrando num só domínio três importantes áreas da engenharia: eletrotécnica, mecânica e eletrónica e o Guarda International Research Station on Renewable Energies (CISE|GIRS RES), no Instituto Politécnico da Guarda (IPG). E faz parte do Instituto de Telecomunicações e tem unidades de investigação e desenvolvimento em engenharia civil e áreas afins, constituído em consórcio entre a UBI e a Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD) e a Fiber Materials and Environmental Technologies – FibEnTech que junta a UBI e quatro Institutos Politécnicos (Beja, Bragança, Castelo Branco e Guarda). Conta ainda com o Parkurbis – Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã SA –, que tem como objetivo apoiar as empresas, fornecendo serviços de apoio às indústrias existentes, incluindo as indústrias tradicionais (como o Têxtil e o Vestuário), e às startups.
A maioria das empresas instaladas no Parkurbis foi gerada dentro da própria UBI, sendo a sua liderança assegurada por alunos ou docentes desta universidade. Mas há também empresas envolvidas em projetos de I&D na Beira Interior, como a TIMWE – Investigação & Desenvolvimento – empresa portuguesa especializada em soluções de telecomunicações móveis para marketing, entretenimento e pagamentos ou a Plux Wireless Biosignals – empresa portuguesa de engenharia biomédica.
O Instituto Politécnico de Castelo Branco tem cerca de mil alunos e em termos de I&D tem Laboratório de Robótica e Equipamentos Inteligentes, um centro de investigação nos domínios das ciências agrárias, ciência e engenharia alimentar e ambiente e sociedade.
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