Portugal obtém juros negativos recorde em leilão de dívida de curto prazo
Portugal arrecadou esta quarta-feira 1.250 milhões de euros em dívida de curto prazo, num duplo leilão de Bilhetes do Tesouro que registou juros negativos recorde.
Portugal arrecadou esta quarta-feira 1.250 milhões de euros em dívida de curto prazo, num duplo leilão de Bilhetes do Tesouro a três e 11 meses que registou juros negativos recorde. Esta foi a primeira ida ao mercado depois de o Governo ter apresentado no Parlamento o Orçamento do Estado para 2018, documento que foi entregue na sexta-feira passada.
De acordo com o IGCP, 950 milhões de euros foram obtidos com a colocação de títulos com maturidade em setembro de 2018 (11 meses). Neste leilão, o Tesouro pagou um juro de -0,325%, taxa de compara com os -0,291% registados no último leilão comparável realizado em agosto passado, face a um nível de procura elevado: 1,75 vezes acima da oferta.
Já no leilão a três meses, Portugal obteve do mercado 300 milhões de euros com uma taxa de juro também em novo mínimo nos -0,389%, face aos -0,337% do anterior leilão. Aqui o interesse do mercado foi ainda mais robusto: procura superou em 4,55 vezes aquilo que o IGCP pretendia ter.
“A dívida da República Portuguesa fez mais um recorde. Já sabíamos que íamos ter taxas mais baixas do que as emissões comparáveis realizadas em julho, porque as taxas no mercado desceram desde essa altura. A procura foi muito elevada”, refere Filipe Silva, gestor de ativos do Banco Carregosa.
“A dívida a 11 meses também seguiu a tendência, beneficiando dos últimos acontecimentos da economia portuguesa e da melhoria do ciclo económico, incluindo a melhoria no rating. Portugal continua a conseguir emitir dívida, ou seja, a financiar-se, a taxas negativas“, frisa ainda.
Juros são cada vez mais negativos
Fonte: IGCP
Os resultados deste leilão refletem o ambiente mais favorável que o país tem encontrado ao longo do ano, para o qual têm contribuído fatores internos — como o bom desempenho da economia, a saída do Procedimento por Défices Excessivos e, mais recentemente, a saída da dívida portuguesa da categoria “lixo” para a Standard & Poor’s, entre outras razões — mas também fatores externos — como o programa de compra de dívida do Banco Central Europeu.
"A dívida da República Portuguesa fez mais um recorde (…) beneficiando dos últimos acontecimentos da economia portuguesa e da melhoria do ciclo económico, incluindo a melhoria no rating.”
Conforme o ECO explicou em agosto, várias razões se conjugam para o facto de os investidores aceitarem comprar estes títulos de dívida a um preço que é superior ao seu valor facial, resultando nos juros negativos destes leilões. Isto é, eles não se importam de comprar títulos a um preço mais alto do que aquele que vão receber depois no final da maturidade. Por um lado, estes Bilhetes do Tesouro são títulos muito líquidos e comportam menor risco. Por outro, a atuação do BCE também tem contribuído para este cenário.
O Governo apresentou no final da semana passada o Orçamento do Estado para o próximo ano. De acordo com as projeções do Executivo, a dívida pública deverá descer para 126,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no final deste ano, recuando para 123,5% do PIB em 2018.
Depois do reembolso de 6.000 milhões de euros em obrigações do Tesouro ao mercado efetuado esta segunda-feira, o tal trambolhão na dívida previsto por Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado Adjunto e das Finanças, Portugal conta pagar mais 3.000 milhões de euros do empréstimo oficial do Fundo Monetário Internacional (FMI) até final do ano, acima dos 5,2 mil milhões já devolvidos ao Fundo este ano.
(Notícia atualizada às 11h11)
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