Santana vs Rio: Guerras do passado, acordo sobre o futuro

No primeiro debate dos candidatos à liderança do PSD, Rui Rio e Santana Lopes mostraram-se alinhados nas ideias para o país. Mas atiraram-se farpas do passado.

Morno. É desta forma que pode ser considerado o primeiro frente a frente entre os dois candidatos a líderes do PSD, Rui Rio e Pedro Santana Lopes. Mais agarrados ao passado, sobretudo a 2004, altura em que Pedro Santana Lopes foi primeiro-ministro de Portugal, os candidatos aproveitaram a parte final do debate para passarem uma mensagem ao país e aos militantes do PSD que no próximo dia 13 de janeiro serão chamados a escolher o sucessor de Pedro Passos Coelho.

Se é verdade que as divergências sobre o passado são muitas, não é menos verdade que os dois candidatos a líderes do maior partido da oposição convergem no que diz respeito às prioridades para o país, com a referência máxima a cair sobre o crescimento económico. Convergente é também a opinião de que o PSD deve concorrer sozinho às legislativas de 2019. E se não houver maioria absoluta? O CDS é o parceiro escolhido, ainda que Rio tenha evocado a propósito de um eventual bloco central, o “jamais” do ex-ministro Mário Lino para dizer que “há situações extraordinárias em que não se pode estar a marrar e a dizer jamais“.

Olhar para o crescimento… com menos IRC

Era para o futuro que os candidatos à sucessão de Passos Coelho deviam olhar e dar mais ênfase, mas foi dos pontos menos badalado do debate. O ex-presidente da Câmara do Porto defendeu aquilo que já vem sendo hábito. Para Rio, “é preciso uma solução de governo que olhe para o futuro”.

E, diz Rio, é preciso acarinhar o investimento. O candidato lembrou que quem investe são as empresas, mas que as politicas públicas são decisivas. Recusou-se a adiantar um número para o crescimento económico dizendo apenas que este tem que ser superior ao da média europeia. “A redução da carga fiscal ou a sua redistribuição são também essenciais”, referiu Rio.

Já Santana Lopes defendeu um novo modelo económico. “Acredito que o país precisa entrar num grande crescimento económico”, frisou o ex-primeiro-ministro. Santana defendeu também a redução do IRC, lembrando que é preciso aumentar a competitividade e a produtividade para que o país entre num ciclo de confiança. Santana disse ainda que: “temos que dar estímulos fiscais quando há aumentos de produtividade”.

Papel do Estado? Tem de ser menos pesado

Mais uma vez o tom entre os dois candidatos foi de concordância. Ambos defenderam a desburocratização e apontaram o dedo ao peso excessivo do Estado. Santana afirmou mesmo que: “tenho-lhe chamado Estado abusador” e adiantou mesmo que considera a menor presença do Estado como um grande desígnio para o país. Até porque referiu: “o Estado está a rebentar pelas costuras, demora décadas a tomar decisões. E “com a carga fiscal que temos Portugal devia ser um país exemplar”.

Já Rio optou por falar na necessidade de descentralizar o país. “Este Estado comete muitos erros por total desconhecimento da realidade“, afirmou o ex- autarca, para quem a questão da proximidade é absolutamente fundamental.

Financiamento dos partidos. Falta transparência

É o tema quente do momento, a polémica lei do financiamento dos partidos. Os dois candidatos convergem no essencial: este não é um tema vital, mas a transparência é fundamental.

Santana afirmou mesmo que se for para pecar neste caso que seja por excesso de comunicação. Sobre o financiamento dos partidos, Pedro Santana Lopes disse que não lhe parece adequado que os “partidos passem a ter um regime fiscal mais favorável do que o que tinham até aqui”.

Já Rio, que lembrou que este foi um tema que teve que tratar no passado frisou que: “a opacidade é um tema polémico”. E portanto “é preciso explicar aos portugueses que os partidos precisam de dinheiro, não concebo um país sem partidos“, frisou. Para acrescentar: “se são necessárias mais verbas diz-se e explica-se porquê”. E admitindo que ia ser impopular rematou: “fui sempre a favor de um reforço do financiamento público”.

Rio disse mesmo que: “proporia pegar nisto com toda a transparência e fazer um orçamento base zero”.

As diferenças entre os dois? O passado

Foi o ponto da discórdia entre Santana e Rio. As trapalhadas, termo utilizado por Rio sobre os seis meses de governação de Santana, em 2004, vieram à baila com Santana a perguntar: “Vais começar a pedir desculpa pelas trapalhadas?”. Ao que Rio retorquiu: “as trapalhadas quando estiveste no Governo existiram“. Estava dado o mote para o tema que iria ocupar mais tempo do debate. Santana não se conteve e avançou: “Foste meu vice-presidente e nunca disseste nada?“. Rio defendeu-se com a lealdade política mas frisou que Santana deu a única maioria absoluta ao PS e a José Sócrates, legitimando até a solução de Sampaio.

Santana acusou Rio de “combinar coisas com António Costa” e de “passar o tempo a dizer mal do PSD” sem nunca apontar o dedo a Costa, nem ao PS. E afirmou: “Rui Rio é demasiado próximo de Costa”, tendo mesmo apelidando-os de Dupond e Dupont.

Rio demarcou-se dessas acusações e garantiu: “Não devo nada ao António Cota, e ele não me deve nada a mim”.

Mas voltou ao tema das trapalhadas. “O objetivo do presidente do PSD é ser primeiro-ministro, o doutor Santana Lopes teve uma experiência como primeiro-ministro que correu francamente mal, e se for eleito presidente do partido todas essas histórias voltam ao de cima”, frisou Rio.

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