Antiga Triumph e Ricon são “infeliz coincidência” quando o têxtil bate recordes, diz a ATP

  • Lusa
  • 5 Fevereiro 2018

Diretor-geral da ATP avança que estimativa da associação é chegar aos 5.200 milhões de euros de exportações, que é o maior número de sempre, superando o recorde de 5.087 milhões de 2001.

A Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) classifica os recentes encerramentos da ex-Triumph e da Ricon como “uma infeliz coincidência” num dos “períodos mais positivos” do setor, que em 2017 atingirá exportações recorde de 5.200 milhões de euros.

As insolvências da antiga Triumph (Loures) e da Ricon (Vila Nova de Famalicão) “acontecem precisamente num dos períodos mais positivos que o setor tem tido nos últimos anos: em 2017 a nossa estimativa é que vamos chegar aos 5.200 milhões de euros de exportações, que é o maior número de sempre, superando o recorde de 5.087 milhões de euros de 2001, que foi o pico antes das crises e dos choques competitivos que sofremos no início da década”, afirmou o diretor-geral da ATP, Paulo Vaz, em declarações à Lusa.

“Só que – acrescentou – nessa altura tínhamos o dobro das empresas e dos trabalhadores que temos hoje, pelo que temos atualmente níveis de produtividade muito maiores”.

Em 2017 a nossa estimativa é que vamos chegar aos 5.200 milhões de euros de exportações, que é o maior número de sempre, superando o recorde de 5.087 milhões de euros de 2001, que foi o pico antes das crises e dos choques competitivos que sofremos no início da década.

Paulo Vaz

Diretor-geral da ATP

De acordo com o dirigente associativo, as dificuldades da antiga Triumph e da Ricon “não eram de hoje, vinham-se arrastando e tiveram agora o seu desfecho”, sendo apenas “uma infeliz coincidência” que não reflete, de todo, a atual situação do setor têxtil e vestuário português.

No caso do grupo Ricon, constituído por oito empresas cujo encerramento e liquidação foi decretado na semana passada pelo Tribunal de Comércio de Vila Nova de Famalicão, deixando no desemprego 800 trabalhadores, Paulo Vaz admite que a excessiva dependência face a um único cliente – a Gant – terá sido um, mas não o único, problema.

E, embora admita que esta dependência face a um quase exclusivo cliente já terá vitimado algumas empresas têxteis nacionais – sendo disso exemplo a fabricante de malhas Thor, que fechou no final dos anos 90 após perder as encomendas da inglesa Next – o responsável acredita que este “não é, hoje, um problema” que ameace o setor em Portugal.

“Por muitas vantagens que em determinadas circunstâncias possa parecer ter uma relação de grande exclusividade com um só cliente, a verdade é que o mundo muda muito depressa, as circunstâncias alteram-se, e de repente estamos com um problema. Mais do que uma regra de gestão, diria que é uma regra de bom senso não colocar os ovos todos no mesmo cesto e fazer uma dispersão, tanto quanto possível, entre vários clientes e mercados. E nós, enquanto associação, estimulamos as empresas para que não caiam nessa armadilha”, afirmou.

Por muitas vantagens que em determinadas circunstâncias possa parecer ter uma relação de grande exclusividade com um só cliente, a verdade é que o mundo muda muito depressa, as circunstâncias alteram-se, e de repente estamos com um problema.

Paulo Vaz

Diretor-geral da ATP

Neste contexto, a ATP vem desenvolvendo desde 2002 um programa de internacionalização apostado em “estimular o contacto e conhecimento de mercados alternativos”, no âmbito do qual a indústria têxtil e vestuário nacional participa atualmente em feiras no Japão, China, Argentina, Colômbia, Brasil, Canadá, Taiwan, Singapura ou Coreia do Sul. O objetivo é “que as empresas tenham consciência de que há mais mundo para lá daquele que conhecem e que é um ato de boa gestão e de prudência diversificarem os seus clientes e destinos de exportação”.

“De uma maneira geral”, Paulo Vaz considera que “as empresas compreendem isso e procuram corresponder”: “As tendências que temos continuam no bom sentido e acreditamos que ainda vamos ter bons anos para diante, que procuraremos explorar da melhor maneira. Até porque hoje as empresas têm claramente uma governance muito mais adequada, uma agressividade comercial muito maior e um conjunto de suportes, nomeadamente no sistema científico e tecnológico, que lhes permite criar a inovação e a diferenciação que agarram os clientes”, sustenta.

Questionado sobre se, em relação ao grupo galego Inditex (dono de marcas como a Zara, Massimo Dutti, Stradivarius e Uterque) não poderá ser considerada excessiva a dependência por parte de algumas empresas nacionais, nomeadamente do norte do país, o diretor-geral da ATP admite que tal aconteça, mas destaca que “Portugal é tão importante para a Inditex quanto a Inditex é importante para Portugal”. “Diria que há aqui uma relação de simbiose que é difícil cortar de cada um dos lados, porque esta relação de proximidade e de trabalho em conjunto também é o segredo e a razão de ser do modelo de negócio da Inditex, que se baseia muito na proximidade e na rapidez de resposta que os modelos de ‘fast fashion’ exigem”, afirmou.

Salientando que, “nisto, Portugal é quase imbatível, já que tem o lead time mais rápido do mundo”, Paulo Vaz aponta ainda a “grande proximidade geográfica, já para não dizer cultural, com a Galiza e com as empresas que aí estão sediadas”. “E é isso que nos dá alguma tranquilidade ou poderíamos ter aí um problema complicado, mas acho que está claramente mais atenuado por esta realidade”, disse.

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