Crise já não assusta. Empresas estão mais preocupadas com os ciberataques

  • Juliana Nogueira Santos
  • 19 Abril 2018

Segundo o estudo da consultora Marsh, a principal preocupação do tecido empresarial português passou do dinheiro para os computadores.

Por entre a iminência de uma guerra nuclear, as consequências do aquecimento global, a instabilidade política e social e as mudanças do panorama tecnológico, são muitos os riscos para os quais as empresas têm de estar preparadas. Mas, se no tempo em que o cinto estava mais apertado, era a instabilidade da crise que fazia tremer os empresários, isso já não é o que acontece atualmente. Pelo menos as conclusões da Marsh apontam para tal.

Segundo o estudo “A Visão das Empresas Portuguesas sobre os Riscos” da consultora, que teve como base as respostas de 170 empresas que atuam em território nacional, o risco que reúne mais preocupação é o que envolve os ataques cibernéticos. E não é algo que afeta só o seu negócio. Enquanto 57% dos inquiridos afirmam que este é um risco que a sua empresa vai enfrentar diretamente, 65% do grupo caracteriza este como um risco à escala global.

Fazendo a análise desde 2016, este risco avançou da quinta posição na preocupação dos empresários para a primeira. Em 2016, era um risco considerado por 25% dos inquiridos, sendo que, em 2017, passou a ser considerado por 36%. Já em 2018, as preocupações com a internet ultrapassaram fatores como a concorrência ou a retenção de talentos. Para além disto, 19% dos inquiridos estão preocupados com o roubo ou fraude de dados.

A consultora, pela voz de Fernando Chaves, especialista de risco, justifica: “Os ataques cibernéticos ocorridos em 2017 à escala mundial, como o WannaCry, os largos meses que vimos falando da entrada em vigor do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) no próximo mês de maio, e a consciência de que muitos dos conflitos interestatais se passam, cada vez mais, no ciberespaço, influenciou a escalada de perceção sobre os riscos cibernéticos, seja por via de ataques, seja pelo roubo ou fraude de dados.

O estudo destaca ainda que o risco de crise financeira desapareceu da lista dos cinco principais riscos a enfrentar, traduzindo-se assim na “confiança na melhoria da economia portuguesa”.

A evolução das principais preocupações das empresas de 2016 até 2018.Marsh

Esta preocupação é também reiterada pelas empresas na primeira voz. Ao ECO, André Azevedo, diretor nacional de tecnologia da Microsoft Portugal disse que a cibersegurança é encarada pela empresa como “uma das mais importantes causas da nossa era”.

“Para uma empresa líder em tecnologia como a Microsoft a aposta na segurança é matricial pois dela depende a confiança no conjunto do ecossistema. Impedir que estas ferramentas digitais que enriquecem as nossas vidas sejam usadas de forma criminosa deverá ser hoje uma prioridade para pessoas, organizações e governos”, aponta ainda, afirmando que a empresa tem uma equipa de 3.500 especialistas na área.

"Impedir que estas ferramentas digitais que enriquecem as nossas vidas sejam usadas de forma criminosa deverá ser hoje uma prioridade para pessoas, organizações e governos.”

André Azevedo

Microsoft Portugal

Já a retalhista Jerónimo Martins garante que “a segurança da informação é, obviamente, uma preocupação para todas as empresas, sobretudo para as que suportam os seus processos de negócio na tecnologia”, concretizando este sentimento com uma direção dedicada à segurança da informação, que para além de planear, implementar e garantir a manutenção dos serviços de gestão, também preparam a resposta a incidentes.

E é exatamente este caminho que, segundo a consultora, se deve seguir. O responsável da Marsh afirma que a prevenção é a solução. “Perante o destaque dos riscos tecnológicos, aconselhamos seriamente a análise do impacto que estes podem ter na continuidade do negócio, nos resultados das empresas e nos danos que podem gerar a terceiros”, aponta Fernando Chaves.

“Importante destacar o facto de que este risco não está habitualmente transferido para soluções de seguro e que o seu impacto financeiro pode ser considerável, seja qual for a dimensão da empresa”, conclui ainda.

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