É assim que se monta a maior feira de calçado do mundo

A maior feira de calçado do mundo começa este domingo, em Milão. O ECO foi descobrir como se monta a MICAM, que este ano contará com a presença de 90 empresas lusitanas.

Tal como Roma e Pavia, também a maior feira de calçado do mundo, em Milão, não se fez num dia. A MICAM estende-se apenas de 16 a 19 de setembro, mas a preparação deste evento consumiu muitos meses àqueles que o orquestraram: Da construção personalizada dos stands das múltiplas marcas ao transporte para Itália dos vários milhares de pés de sapatos.

“O processo inicia-se muitos meses antes de a feira acontecer. A APICCAPS [Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos] indica-nos que marcas vão à MICAM e a partir daí começamos o serviço“, conta ao ECO Jorge Neto, responsável pelo trânsito das amostras.

Os criadores levam apenas um pé do par. “É por razões de segurança”, explica ao ECO o responsável pelo transporte dos produtos.ECO

De acordo com o profissional, na edição deste ano, as cerca de 90 empresas que integram a comitiva lusa — a segunda maior da feira em causa (ultrapassada apenas pela espanhola) — fizeram viajar até à mais populosa metrópole italiana entre quatro mil e cinco mil pés de sapatos. “Por uma questão de segurança, as marcas trazem só um pé do par. O outro fica na fábrica”, elucida Neto.

Esses pés singulares foram levados até Itália num camião. “Normalmente, o camião sai à sexta e chega terça”, explica o responsável, sublinhando que essa é apenas a primeira fase do seu trabalho. Depois desse transporte, Jorge Neto uniu esforços com o transitário oficial da MICAM e, nessa altura, deu-se a magia da transformação dos vários pavilhões disponíveis na maior feira de calçado do mundo.

Quando comecei na MICAM, fazia-a com dez, doze empresas. Hoje são noventa.

Jorge Neto

Transitário da APICCAPS

O profissional teve a seu cargo a distribuição das amostras pelos vários espaços, um trabalho que lhe tomou, sensivelmente, quatro horas. “Comecei às 08h10 e acabei por volta das 13h30”, revela ao ECO. Vai seguir-se agora a recolha das embalagens vazias e, no final, acontecerá o empacotamento de todos os sapatos, para seguirem outros caminhos.

“Quando comecei na MICAM, fazia-a com dez, doze empresas. Hoje são noventa”, realça, nostálgico e divertido, o transitário português. Não se recorda do ano em que começou nestas andanças, mas estima que já se passaram, pelo menos, 25 anos. O sentimento, esse, mantém-se: “é a sensação de dever cumprido, no fim de cada edição da feira”.

“Não há dois stands iguais”

Cada stand é diferenciado e personalizado de acordo com a marca.ECO

Se o trabalho de Jorge Neto envolve vários meses de esforço, o de José Luís Sousa não lhe fica nada atrás. O sócio da Quality Impact — empresa que se dedica à construção dos stands onde as várias marcas apresentam as suas amostras — adianta ao ECO que o gatilho é puxado três ou quatro meses antes da feira italiana acontecer.

“O processo pode demorar à volta de três a quatro meses. Tudo começa com a intenção do cliente de participar na feira“, nota Sousa. O sócio explica que, a partir daí, o processo de desenvolvimento do stand é feito em conjunto com a marca que apresentará o seu trabalho na MICAM.

Nesta edição da feira — a 86ª — a Quality Impact teve a seu cargo mais de uma centena de expositores. Apesar dessa significativa quantidade, José Luís Sousa garante que cada um desses stands é “diferenciado”. “Não há dois iguais”, realça.

Enquanto os clientes não expõem as suas criações, o trabalho não termina. Só na quarta-feira, damos o trabalho por concluído.

José Luís Sousa

Quality Impact

Depois dos vários meses de desenvolvimento, a equipa de Sousa juntou-se, por fim, à causa partilhada com Jorge Neto, isto é, por meio do seu trabalho ajudou a fazer nascer a MICAM. “Começámos a montagem no sábado passado [dia 8 de setembro] e acabámos neste [dia 15 de setembro]”, conta o responsável.

Mas ao contrário daquilo que se possa pensar, os esforços daqueles que estão responsáveis pela criação destes stands não se esgotam na sua montagem. “Enquanto os clientes não expõem as suas criações, o trabalho não termina. Só na quarta-feira, damos o trabalho por concluído”, reforça Sousa.

Sapatos à parte, quem cuida dos empresários?

MICAM decorre até quarta-feira.ECO

Dizia o Vasquinho da Anatomia: “chapéus há muitos”. Na MICAM, o mesmo sucede aos sapatos. São milhares. Isto só na bagagem dos portugueses. Menos em número são, claro, os criadores e responsáveis lusos que, por estes dias, trocam Portugal por Itália para reforçar a projeção internacional da indústria do calçado.

Mas como chegaram eles à cidade italiana em causa? Provavelmente, à boleia dos cuidados da Navitur. “Nestas feiras, fazemos tudo. Desde transfers, passagens aéreas, hotéis, marcações em restaurantes”, avançam ao ECO os representantes da agência de viagens escolhida pela APICCAPS, Miguel Lemos e António Pereira Leite.

Nesta edição da MICAM, os responsáveis da Navitur estão, assim, a acompanhar quase duas centenas e meia de portugueses.

Estes quatro dias de feira são o culminar de um ano de trabalho. “Mal acaba uma, já estamos a pensar na próxima”, diz confiante Miguel Lemos. Primeiro, começam com a marcação em massa das passagens aéreas; depois dos hotéis, coordenando sempre com os clientes, que, entretanto, vão confirmando as suas participações.

“Estamos sempre presentes quando há um número de pessoas que o justifique”, acrescenta o mesmo responsável, que leva tantas edições desta feira na bagagem que já nem se lembra da sua estreia.

Além de os trazer à MICAM, a Navitur faz viajar os sapateiros e criadores portugueses pelo mundo, de feira em feira. Cerca de 80% dos seus clientes estão ligados ao calçado, um setor que, note-se, coloca no exterior mais de 95% da sua produção.

As 90 empresas lusas que estão a apresentar o seu trabalho em Milão, até quarta-feira, são apenas uma fatia desse grande bolo que a empresa representada por Lemos explora. No total, essas nove dezenas de companhias equivalem a mais de oito mil postos de trabalho, em Portugal.

Além da imensa comitiva portuguesa (que exigiu um investimento de cerca de dois milhões de euros à indústria), a MICAM acolhe, este ano, 1.600 expositores, de 50 países. Esperam-se mais de 40 mil visitantes, nesta que é a maior feira de calçado do mundo.

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