O que falta aos sapatos portugueses para serem os mais caros do mundo?

Conseguirão os sapatos portugueses roubar o primeiro lugar do pódio dos preços aos italianos? Os empresários lusos dizem que sim; os italianos sublinham que a sua qualidade é insuperável.

Para que Portugal chegue ao topo do pódio dos preços do setor do calçado internacional vai ter de dar… muita corda aos sapatos. Os empresários lusos ouvidos pelo ECO, na MICAM, em Milão, acham possível roubar essa posição aos italianos, mas sublinham que não vai ser tarefa fácil. “É um caminho que tem de ser feito por fases e de uma forma muito lenta”, acrescenta, por sua vez, o presidente da Associação dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), Luís Onofre, em declarações ao ECO.

Antes de mais, o responsável explica: “Em Itália, os preços também são mais elevados porque a mão-de-obra é muito cara”. Luca Zanasca, responsável pela marca italiana de luxo Roberto Festa concorda e adianta ao ECO que a carga fiscal imposta nesse país é a principal causa desse cenário. Ainda assim, o gestor realça que os preços italianos explicam-se igualmente pela tremenda qualidade dos sapatos com essa nacionalidade, o que dá muita força à marca “Made in Italy“.

Questionado sobre a necessidade de reforçar os salários dos trabalhadores do setor em Portugal, de modo a seguir o caminho italiano, o presidente da APICCAPS responde: “Não é por aí”. Luís Onofre faz ainda questão de lembrar que o salário mínimo nacional vai aumentar, no início do próximo ano, e de avisar que o que é preciso é manter a proporcionalidade desses rendimentos com a produção.

Aliás, parece ser esse o principal ponto diferenciador entre Portugal e Itália, sublinha o responsável: a produtividade. “A verdade é que, em Itália, com o dobro ou o triplo do salário, têm o dobro da produção”, nota o presidente da APICCAPS, apelando ao reforço da capacidade e organização da indústria portuguesa.

Por outro lado, Luís Onofre deixa um aviso: “Não podemos também colocar uma fasquia demasiado alta nos preços dos nossos produtos, porque também podemos deixar de ser competitivos”.

“Precisamos de acreditar no nosso trabalho”

Mais de 90 empresas portuguesas estão a participar na maior feira de calçado do mundo, em Milão.ECO

“Os sapatos italianos são os mais caros do mundo? Não sabia”, brinca a responsável pela marca italiana de luxo Fiore Giallo. A empresária apressa-se, contudo, a esclarecer que há, pelo menos, dois fatores que colocam os sapatos desse país no primeiro lugar do pódio dos preços. “O nosso design é único no mundo e a nossa qualidade não é superada por nenhum outro país”, sublinha em conversa com o ECO, na maior feira de calçado do mundo.

Diferente opinião tem a responsável pela marca lusitana Codenoir: “O sapato português é dos que tem mais qualidade, mesmo em relação aos italianos”. A portuguesa explica ao ECO que o que nos impede de chegar ao topo desse ranking é apenas “o senso comum”, isto é, a persistente noção de que os produtos italianos são melhores.

“Em qualquer mercado, sobretudo na moda, o “Made in Italy” tem muito peso”, corrobora Pedro Sampaio, da Dark Collection. O gestor comercial conta que, até há pouco mais de uma década, os seus clientes pediam-lhe mesmo para não colocar nos produtos a indicação da origem lusa, daí que ainda falte força a esta recém criada marca do “Made in Portugal”. “Já superámos os espanhóis, o que não eram expectável em tão curto espaço de tempo; agora superar os italianos, acho difícil”, acrescenta Sampaio.

Mais certeza tem Francisco Sousa Dias, responsável pela também portuguesa Freeman.Porter. “Acho que é possível. É preciso continuar o trabalho de acreditar no que se faz. Temos já a convicção de que, nesta área, sabemos o que estamos a fazer e isso é muito importante no posicionamento internacional”.

O empresário enfatiza ainda que a chave parece-lhe estar “na adequação à procura”, o que é cada vez mais complicado face ao encurtamento dos “ciclos de tendências”.

Apesar de todas estas incertezas, Portugal está entre os principais produtores mundiais de calçado, apresentando o segundo preço médio de exportação mais elevado. De acordo com os dados fornecidos pela APICCAPS, o preço dos sapatos lusos ronda os 26 euros, praticamente o triplo do praticado a nível mundial, mas ainda significativamente abaixo dos quase 48 euros italianos.

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