Fórum Bizfeira: “Mercado das tecnologias nos EUA é o mais apetecível para empresas portuguesas”

  • ECO
  • 11 Outubro 2018

É um mercado muito forte e que já conta com a presença de vários casos portugueses. Além disso, há inúmeras oportunidades no mercado tradicional, que pode incorporar tecnologia e inovação.

O ramo tecnológico e da inovação pode ser o caminho mais rápido para as empresas portuguesas que procuram internacionalizar-se e entrar no mercado norte-americano. A afirmação é de Graça Didier, diretora executiva da Câmara de Comércio Americana em Portugal, e foi feita durante a quarta edição do Fórum Bizfeira.

“É um mercado muito forte e que já conta com a presença de vários casos portugueses. Além disso, há inúmeras oportunidades dentro do mercado tradicional, que pode incorporar tecnologia e inovação”, justifica a responsável.

Um desses exemplos é a MyCujoo, empresa de streaming de conteúdos desportivos com origem portuguesa, que, nos últimos anos, conseguiu estabelecer-se com sucesso nos EUA.

Ricardo Rodrigues, diretor de operações em Portugal da MyCujoo, conta que a chave para entrar num mercado tão competitivo como o norte-americano foi identificar o nicho de mercado para o serviço que pretendiam oferecer. “O nosso foco era o futebol e sabíamos que a MLS, a principal liga do país, tem apenas vinte anos de existência. Era manifestamente pouco se compararmos com a tradição de décadas da NBA e da NFL. Por isso, apostámos aqui e agimos também como impulsionadores da modalidade nos Estados Unidos”, disse na conferência Negociar e investir nos EUA.

A verdade é que não foi difícil estabelecermo-nos na América, mesmo com a exigência a que obrigava a tecnologia de ponta que existe por lá.

Ricardo Rodrigues

Diretor de operações em Portugal da MyCujoo

O mercado regulado, especialmente ao nível dos direitos digitais, não colocou entraves ao crescimento da MyCujoo em solo americano, que através da parceria com a Federação de Futebol do país foi aumentando o volume de transmissões de jogos e ganhando cada vez mais notoriedade. “A verdade é que não foi difícil estabelecermo-nos na América”, revela Ricardo, “mesmo com a exigência a que obrigava a tecnologia de ponta que existe por lá. O mercado digital é o futuro e é possível identificar várias oportunidades comerciais. O facto de as pessoas olharem para um conteúdo e fazerem disso um negócio é meio caminho andado”.

A mesma ênfase no produto foi assinalada por Gabriela Caballero, especialista em comércio internacional com os EUA. “O mais importante é adaptar os produtos ao local onde se pretende que sejam comercializados, e ainda procurar o nicho onde estes podem ser mais vendidos a um bom preço. O mercado americano é sem dúvida para todas as empresas, mas requer uma preparação rigorosa, um produto diferenciador e uma boa estratégia”, afirma.

O mais importante é adaptar os produtos ao local onde se pretende que sejam comercializados, e ainda procurar o nicho onde estes podem ser mais vendidos a um bom preço.

Gabriela Caballero

Especialista em comércio internacional com os EUA

Para muitos setores e negócios, entrar na economia norte-americana é visto com especial interesse, mas muitas empresas têm receio de avançar, não só pelas diferenças em relação ao mercado português, mas também pelos riscos e cuidados a que o investimento obriga. Questionada sobre se seria preferível para as empresas portuguesas entrar nos EUA sozinhas ou com a ajuda de parceiros, Gabriela Caballero respondeu que isso depende da estratégia que se pretende seguir, mas que pode sempre ser uma boa ideia procurar parceiros, mesmo entre concorrentes.

Enquanto a burocracia para abrir uma empresa nos Estados Unidos não é excessivamente exigente, por outro lado podem surgir contratempos, avisa Graça Didier: “Abrir uma conta bancária não é fácil, assim como a relação com os bancos, por vezes. E é difícil entrar efetivamente no mercado, arranjar parceiros estratégicos, conseguir destaque…”. Além disso, o desconhecimento sobre o modo como funciona o modelo empresarial e económico norte-americano pode ser comprometedor. “É necessário estar ao corrente das regras, das taxas alfandegárias, saber que nos EUA, por exemplo, não entram sequer alguns produtos como a carne e os enchidos”, acrescenta. Esta complexidade aumenta atendendo ao facto de o mercado americano ser, na verdade, composto por cinquenta mercados diferentes, cada um com as suas especificidades e regras inerentes a cada Estado.

Quem quer encarar a sério o mercado nos EUA, a uma dada altura vai ter de pensar em instalar-se por lá. Até por questões relacionadas com prazos e certos benefícios e oportunidades que apenas se conseguem com uma sede no país…

Graça Didier

Diretora executiva da Câmara de Comércio Americana em Portugal

Na verdade, quem quer exportar para os Estados Unidos não escapa a outras dificuldades relacionadas com a diferença de moeda, de cultura ou de fuso-horário. Daí que, “quem quer encarar a sério o mercado nos EUA, a uma dada altura vai ter de pensar em instalar-se por lá. Até por questões relacionadas com prazos e certos benefícios e oportunidades que apenas se conseguem com uma sede no país…”, afiança ainda a diretora executiva da Câmara de Comércio Americana em Portugal.

O jornalista Nuno Rogeiro aponta outro obstáculo, a questão da imagem de Portugal não ser muito conhecida na América. “Há muitas pessoas que não sabem onde fica o nosso país, e enquanto a França está associada aos vinhos e a Alemanha à tecnologia, Portugal carece de uma autêntica significação para impulsionar as vendas. Temos de ter maior capacidade para promover a marca portuguesa”, assevera.

Não obstante, Nuno Rogeiro indiciou haver hoje boas condições para o crescimento das relações empresariais e comerciais entre Portugal e os EUA: “Hoje estamos num bom período, embora ainda haja muito trabalho por fazer. Existem atualmente uma série de nichos outrora desconsiderados e que agora são relevantes. Por isso, vale a pena investir em redes menos óbvias”.

Sob a moderação de António Costa, publisher do ECO, nesta conferência realizada no Europarque de Santa Maria da Feira, Nuno Rogeiro expressou ainda que o fator político norte-americano não é causa de instabilidade para potenciais negócios entre empresas. “Há quem ache os EUA estão envolvidos numa guerra comercial, mas curiosamente a Administração americana está hoje mais talhada para se estabelecerem relações empresariais”, refere o jornalista.

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