Lojas, apartamentos e um hotel de luxo. Isto é o que vai nascer no quarteirão da Pastelaria Suíça
Comprou um quarteirão no Rossio, onde estava a Pastelaria Suíça e, recentemente, vários lotes em Oeiras. O ECO foi falar com o fundador do fundo que está a investir milhões no imobiliário nacional.
Comprado há cerca de um ano, este quarteirão no Rossio viu vários dos pequenos negócios ali localizados há décadas encerrarem as suas portas. Desde então, praticamente nada foi feito, mas isso vai mudar em breve. Os mais de 60 milhões de euros que a Jackyl pagou pelos vários prédios estão prestes a pôr “mãos à obra”. Lojas, escritórios, apartamentos ou até um hotel de luxo. Isto é o que vai nascer na praça D. Pedro IV, em Lisboa, revelou ao ECO o fundador da empresa, Blake Loveless. Mas tudo “sem arrancar a alma ao Rossio”.
Foi com choque que muitos lisboetas receberam a notícia de que a Pastelaria Suíça iria fechar — e fechou mesmo. O edifício tinha sido comprado por um fundo e, na altura, Rafael Nadal foi mesmo apontado como um dos investidores. Mas não era. “Ele [o reconhecido tenista espanhol] não tem nada a ver connosco. É absolutamente mentira”, diz ao ECO o fundador da Jackyl.
Quem o comprou foi o fundo britânico de Loveless, que pagou 62 milhões de euros por este famoso quarteirão da capital portuguesa com cerca de 12 mil metros quadrados. Apesar de levar ao encerramento da histórica pastelaria, o novo dono reconhece que adquiriu “um edifício histórico”. “A Pérola do Rossio [uma mercearia], mantemo-la lá propositadamente porque não queremos mudar tudo. O edifício não vai ser exatamente como era, mas vamos pô-lo de maneira a que tudo continue a ser genuíno.”
Por isso, a ideia é restaurar o imóvel, mas “manter todas fachadas e sua componente histórica”.“É importante para nós que a alma da rua não seja alterada”, remata. Este é “um dos melhores quarteirões da Europa.”
Estamos muito felizes e orgulhosos em sermos proprietários deste edifício. Somos sortudos. Já fiz vários negócios mas este é um dos melhores imóveis da Europa.
“Estamos muito felizes e orgulhosos em sermos proprietários deste edifício. Somos sortudos. Já fiz vários negócios, mas este é um dos melhores imóveis da Europa“, afirma. Blake faz questão de sublinhar várias vezes que não quer “arrancar a alma ao Rossio”, mas que as “pessoas não sabem que estes edifícios estão a cair”. Enquanto mostra no telemóvel as fotografias do interior, onde é notório o mau estado do imóvel, o fundador justifica que o objetivo é “restaurar o Rossio” e “trazer de volta o verdadeiro centro de Lisboa”.
Embora admita que ainda está a estudar vários destinos para este quarteirão, as ideias em cima da mesa passam por lojas, escritórios, e, claro, uma componente turística: ou apartamentos, nos últimos andares, ou um hotel. “Se vier a ser um hotel, será num conceito de luxo. Se forem apartamentos, também serão dentro disso”, diz.
O que vai nascer em Oeiras?
Depois de comprar o quarteirão no Rossio, naquela que foi a primeira aquisição desde que a Jackyl foi fundada, estes britânicos apaixonaram-se por Lisboa e as compras na capital portuguesa não ficaram por aqui. Em dezembro do ano passado — o quarto investimento da empresa e o segundo em Portugal –, o foco desviou-se para Oeiras, mais propriamente para a zona de Carnaxide e Queijas. A Jackyl anunciou um investimento de 28 milhões de euros por um conjunto de lotes.
Os terrenos, comprados à ESIM — Espírito Santo Imobiliário, compreendem uma área total de 186 mil metros quadrados, de acordo com o comunicado enviado pela empresa. Oficialmente comprados, estão dois lotes, em processo final de compra estão outros quatro, explicou ao ECO Blake Loveless.
Temos bons contactos de empresas locais e estamos abertos a oportunidades para trabalhar com elas. Conhecemos muitos investidores locais e temos discutido coisas juntos, mas atualmente não há ainda parcerias.
“Comprámo-los para dar continuidade ao plano de desenvolvimento original para aquele sítio. Essa foi a ideia”, explica. E, conforme consta na Conservatória do Registo Predial, estes lotes têm autorização para a construção de serviços, habitação, comércio, escritórios e um hotel. “Os nossos planos estão de acordo com o masterplan existente”.
Embora Blake ainda não tenha em curso quaisquer parcerias com empresas nacionais, esse é um desejo para o futuro. “Atualmente temos bons contactos de empresas locais e estamos abertos a oportunidades para trabalhar com elas. Conhecemos muitos investidores locais e temos discutido coisas juntos, mas atualmente não há ainda parcerias”. Para o hotel, o investidor não descarta a hipótese de a “primeira escolha” ser uma empresa portuguesa, “especialmente para o quarteirão no Rossio”.
Quem é o investidor que esteve perto de comprar o Dolce Vita Tejo?
William Blake Loveless entrou para o mercado do imobiliário há cerca de 30 anos, através da Meyer Bergman, uma empresa privada de gestão de investimentos imobiliários com mais de seis mil milhões de euros em ativos sob gestão. A partir do momento em que saiu, começou a investir na Europa. Aterrou no mercado nacional em 2017, se bem se lembra, e esteve “muito perto de comprar o Dolce Vita Tejo”. O centro comercial na Amadora acabou por ser vendido à AXA Investments Manager em janeiro do ano passado por 230 milhões de euros.
“O interessante sobre Portugal neste momento é que é um dos poucos lugares que resta na Europa. Tem um grande potencial e não me refiro apenas aos lucros, porque isso ia soar a capitalista. Mas também ao interesse que tem: as pessoas estão cada vez mais interessadas no país. Querem mudar-se para aqui, trazer os escritórios e abrir lojas”, conta.
Para Blake, Lisboa é uma “cidade atraente” e com um “bom potencial de crescimento”. Não apenas pelos vistos gold, mas porque é “um sítio atrativo para as pessoas”. Assim como o Porto que, desde a primeira vez que lá foi, a achou uma “cidade linda e maravilhosa” mas que “estava toda a cair”. Assim como Lisboa. “Há muitos edifícios em ruínas”.
Acredito num futuro positivo para o país e é por isso que invisto cá. Se eu tivesse dinheiro para comprar este edifício [quarteirão no Rossio], eu próprio o compraria.
A “arquitetura histórica” — “intocável” –, e o “baixo custo de vida” são outros motivos que deixam Blake “apaixonado”. Em Portugal “é tudo barato” quando comparado com Londres, desde o preço do táxi, do bacalhau, dos imóveis ou de uma garrafa de vinho. “Acredito num futuro positivo para o país e é por isso que invisto cá. Se eu tivesse dinheiro para comprar este edifício [quarteirão no Rossio], eu próprio o compraria“, diz.
Contudo, o facto de Portugal ser um “mercado pequeno” deixa Blake preocupado. “Agora está tudo ótimo, mas uma das minhas preocupações — ainda que pequena –, é se quando o mercado europeu começar a arrefecer, que Portugal arrefeça ainda mais do que o Reino Unido ou a Alemanha. Não tenho bem a certeza de que isso vá acontecer. Mas Portugal ainda tem muitas oportunidades”. E talvez a Jackyl aproveite essas oportunidades, pelo menos os investimentos não devem ficar por aqui. “Gosto muito de Lisboa e acredito que, numa estratégia de investimento, é um mercado muito bom. Provavelmente haverá mais investimentos feitos em Portugal pela Jackyl!“, remata.
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Lojas, apartamentos e um hotel de luxo. Isto é o que vai nascer no quarteirão da Pastelaria Suíça
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