Greve a 1 de maio. Supermercados oferecem camarão e massagens a trabalhadores e descontos agressivos a clientes

Sindicato prevê maior mobilização este 1º de maio. Empresas respondem com ofertas tanto a trabalhadores, como a clientes: camarão e massagens para os primeiros, descontos fortes para os segundos.

Porco no espeto, camarão cozido ou mesmo um voucher para massagens. Estas foram algumas das promessas das empresas de distribuição para tentar conter a mobilização dos trabalhadores para a greve convocada para este primeiro de maio pelo sindicato dos trabalhadores do comércio, escritórios e serviços de Portugal (CESP). E se para os trabalhadores há camarão ou porco no espeto, para os clientes há descontos diretos de 50% em centenas de artigos ou poupanças equivalentes a duas vezes o IVA. Mas já lá vamos.

“Há empresas que prometeram oferecer camarão cozido, porco no espeto ou mesmo um voucher para massagens aos trabalhadores que se apresentarem ao serviço no 1º de maio“, revelou Célia Alves, do CESP, em declarações ao ECO. Mas estes “brindes” foram um tiro pela culatra, assegura, já que “isto que as empresas estão a fazer, para desmobilizar, está a ter o efeito oposto”, garantiu.

Apesar de em anos anteriores as greves convocadas para o 1º de maio na distribuição não terem tido um impacto significativo, com a grande maioria da distribuição a conseguir ter as portas abertas no feriado, Célia Alves estima que este ano o cenário seja um pouco diferente.

“A nossa expectativa é que a greve tenha uma grande adesão. Algumas unidades de pequena dimensão poderão de facto encerrar, dada a enorme mobilização dos trabalhadores em prol de melhores salários e pelo fecho aos domingos e aos feriados”, explicou.

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A justificar a crença numa maior adesão, está também o fator paciência, sublinhou ao ECO Célia Alves. O sindicato está há 31 meses em negociações salariais sem sentir quaisquer avanços, numa paralisação negocial que quanto mais se prolonga, mais perdas salariais inflige. “No topo de carreira, já se acumula uma perda de poder de compra de 120 euros mensais ao longo do período da negociação.” E se, em 2018, os trabalhadores aceitavam a ideia de que estas negociações podiam ser longas, agora já não acreditam que devam ser assim tão longas.

“No início do ano passado os trabalhadores tinham algumas expectativas que se verificaria uma evolução positiva nas negociações, havia compromissos das empresas que seriam tomadas medidas, que o contrato seria revisto. Agora, estamos em abril de 2019, e nada mudou. Ou antes, as empresas estão mais prepotentes na mesa negocial e começaram a exigir a introdução do banco de horas no contrato coletivo”, explica a dirigente ao ECO. E tudo isto leva o CESP a sentir “uma mobilização muito superior” este ano.

Empresas não antecipam grandes impactos

Apesar do crescendo de insatisfação relatado pelo CESP, do lado da grande distribuição não se espera um grande impacto da greve convocada pelo sindicato, com as empresas a olhar para os anos anteriores para justificar esta sua crença. “Claro que só amanhã [1º de maio] podemos ter dados mais concretos. Mas não estamos à espera de um impacto significativo nas operações“, avançou fonte oficial do Pingo Doce ao ECO.

A insígnia lembrou que já em anos anteriores havia pré-avisos de greve para o Dia do Trabalhador, tendo-se verificado uma adesão reduzida. Contudo, sublinhou fonte oficial, “respeitamos o direito e todos os trabalhadores que entenderem aderir”. Também do lado do Continente se espera um dia de operação normal.

Em relação às ofertas de camarão cozido, porco no espeto ou massagens aos trabalhadores que estiverem ao serviço no 1º de maio, fonte oficial do Pingo Doce assegurou que este não é o seu caso. Do lado Continente, insígnia apontada pelo CESP como uma das que colocou tais ofertas em cima da mesa, fonte oficial explica que as mesmas se integram num tipo de práticas normais de promoção do convívio no grupo.

“Há muitos anos que a Sonae MC organiza uma série de iniciativas que visam a comemoração do Dia do Trabalhador com os seus colaboradores, nas suas várias unidades em todo o país”, apontou ao ECO fonte oficial da Sonae MC. “Podemos destacar como exemplos momentos de convívio, almoços e jantares de equipa, aulas de culinária, workshops, jogos tradicionais, karaoke, sorteios, entre outros. Estas comemorações existem, sem qualquer prejuízo da liberdade que cada colaborador tem de exercer o seu direito à greve”, acrescentou.

Quanto às ofertas para clientes, esta é uma prática que começa também a ser uma tradição do 1º de maio. O Continente vai oferecer 50% de desconto direto em mais de mil produtos, avançou fonte oficial da empresa ao ECO. Já o Pingo Doce terá igualmente uma ação específica para o feriado, mas integrada no ‘Festival de Poupança’ que tem em curso durante nove dias. A insígnia da Jerónimo Martins vai oferecer uma poupança “de duas vezes o valor do IVA” para compras entre os 35 euros e os 300 euros.

Dia do ‘vale tudo’?

O 1º de maio, apesar de historicamente ser dia do trabalhador, em Portugal está cada vez mais associado a um dia de guerra de descontos na distribuição, sobretudo desde que em 2012 o Pingo Doce entrou a “pés juntos” sobre os concorrentes oferecendo descontos de 50% em compras iguais ou superiores a 100 euros. Na altura, a Autoridade da Concorrência acabou por identificar que pelo menos 15 produtos tinham estado à venda abaixo do preço de custo, multando o grupo Jerónimo Martins em… 30 mil euros.

Contactadas, as duas maiores empresas de distribuição do país confirmaram que este 1º de maio não será diferente dos anteriores, com promoções e descontos agressivos a assinalarem o dia que ficou para a história como o da comemoração da redução das jornadas laborais e, posteriormente, por todos avanços nas condições de trabalho e que em Portugal só é festejado desde a revolução de Abril.

Segundo informações avançadas por fonte oficial do Pingo Doce, a oferta específica para o feriado passa pela poupança de “duas vezes o valor do IVA”, uma delas de forma direta e outra em cartão e “para usar num compra a partir de 35 euros de 8 a 21 de maio”.

A oferta, porém, só está disponível “para clientes com cartão Poupa Mais registado até 24 horas antes da compra” e só é válida “numa compra à escolha de valor mínimo de 35 euros e até 300 euros, valores líquidos de promoções e sem contabilizar exclusões (como leite infantil, medicamentos, entre outros)”.

Já a empresa do grupo Sonae apontou ao ECO que terá em vigor “um folheto especial do 1º de maio com 50% de desconto direto em mais de 1000 artigos”, sendo este desconto válido tanto nas lojas físicas como online do Continente. Esta oferta específica do feriado integra-se igualmente numa oferta semanal já em curso por parte da empresa.

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