Gestores do “clube do milhão” ganharam menos em 2018. Só Mexia recebeu mais de dois milhões de euros

Seis CEO mais bem remunerados da bolsa portuguesa levaram para casa 10,2 milhões entre salário fixo e variável, e só António Mexia passou dos dois milhões de euros.

São seis os CEO de cotadas portuguesas que ganharam mais de um milhão de euros de salário bruto anual em 2018. António Mexia, João Manso Neto, Carlos Gomes da Silva, Pedro Soares dos Santos, João Castello Branco e Ângelo Paupério, respetivamente líderes da EDP, EDP Renováveis, Galp, Jerónimo Martins, Semapa e Sonae. Ao longo do ano passado, estes seis gestores do “clube do milhão” levaram um total de 10,2 milhões de euros para casa, valor que representa uma quebra de 3,6% face ao bolo arrecadado em 2017 – que totalizou 10,6 milhões de euros.

Individualmente, coube mais uma vez ao CEO da EDP a liderança do ranking dos gestores mais bem pagos do PSI-20 ao longo do ano passado, tendo inclusive sido o único do “clube do milhão” a passar a fasquia dos dois milhões de euros em remuneração, tal como já tinha acontecido em 2016. Apesar de ter ganho menos 3,91% no ano passado, ainda recebeu perto de 2,2 milhões em remuneração fixa e variável.

Em 2017, António Mexia ainda teve a companhia de Pedro Soares dos Santos, da Jerónimo Martins, no “clube dois milhões”. Porém, o CEO da dona do Pingo Doce recebeu menos 5,26% no ano passado, o suficiente para ver o cheque salarial recuar de 2,009 milhões para 1,903 milhões de euros. Evolução idêntica, mas para fora do “clube do milhão”, registaram as contas de Paulo Azevedo de 2017 para 2018. O copresidente da Comissão Executiva da Sonae ganhou 956,6 mil euros no ano passado, contra os anteriores 1,01 milhões.

Para colocar estes valores em perspetiva, refira-se que o ganho médio dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal fixou-se em 1.133 euros ilíquidos em 2017. Assim, e fazendo uma conta simples aos ganhos de António Mexia — remuneração total a dividir por 14 meses –, o CEO da EDP ganhou em média 157 mil euros por mês, ou seja, 138,6 vezes o ganho médio dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal. Há que salientar, contudo, que os lucros da EDP em 2018 foram obtidos nos mercados internacionais, onde a EDP concorre com outros players mundiais. Em Portugal, a elétrica registou um prejuízo de 18 milhões de euros, o que já não sucedia desde 1997. Já o lucro total foi de 519 milhões de euros, menos 53% do que no ano anterior.

Focando apenas no “Universo EDP”, ou seja, comparando o ganho anual de António Mexia versus os custos com pessoal da EDP — que abrange então diversas geografias e logo distintas realidades salariais –, e expurgando estes custos das verbas pagas à administração, vê-se que os 2,19 milhões de euros recebidos pelo CEO em 2018 comparam com os 54.600 euros brutos investidos pela elétrica por colaborador — 635 milhões de euros distribuídos por cerca de 11.600 funcionários –, ou seja, 40 vezes mais do que o custo médio de cada trabalhador.

Apesar do CEO da EDP ser o mais bem pago das cotadas presentes em Portugal, Pedro Soares dos Santos e a Jerónimo Martins é que surgem normalmente apontados como exemplo quando se aborda a temática das remunerações dos administradores e das disparidades salariais em relação à realidade do país, isto porque o custo médio por colaborador no grupo dono do Pingo Doce é substancialmente inferior ao que se verifica numa empresa como a EDP, onde o grau de trabalhadores com elevadas qualificações é superior, dada a maior tecnicidade do setor. Em “compensação”, a Jerónimo Martins emprega nove vezes mais pessoas.

Aplicando a mesma lógica às contas da Jerónimo Martins, este grupo gastou no ano passado 1,47 mil milhões nas diversas rubricas associadas à remuneração do pessoal, o que atira para uma média de 13,9 mil euros por cada um dos mais de 105,5 mil trabalhadores do grupo. Pedro Soares dos Santos foi assim remunerado com o equivalente a 137 vezes o custo médio de cada colaborador do grupo. Tal como no caso da EDP, também a Jerónimo Martins atua em diversas geografias, contabilizando por isso nas suas contas distintas realidades salariais e laborais — boa parte dos trabalhadores está na Polónia. E os negócios também. Só da Polónia, as vendas representaram 67,8% do total.

Quem ganhou mais e quem ganhou menos

Voltando às contas ao “clube do milhão” dos gestores do PSI20, é de salientar que em 2018 apenas um dos seis viu a remuneração total crescer, no caso Carlos Gomes da Silva, da Galp, que recebeu um total de 1,75 milhões de euros, contra os 1,7 milhões de 2017. Os restantes cinco viram a remuneração recuar, com destaque para João Manso Neto, da EDP Renováveis, que sofreu uma quebra de 10% — de 1,63 milhões para 1,47 milhões de euros. Apesar da queda, manteve-se como o quarto mais bem pago — taco a taco com Ângelo Paupério, que levou 1,46 milhões para casa, menos 2% que em 2017.

Também o líder da Semapa, João Castello Branco, sofreu um corte na remuneração global recebida em 2018, tenho ganho menos 3,06% que em 2017, fechando o exercício com um cheque de 1,423 milhões, contra os anteriores 1,468 milhões. Castello Branco foi o segundo gestor do “clube do milhão” que viu a remuneração cair menos — Manso Neto perdeu 10%, Soares dos Santos 5,26%, António Mexia 3,91% e Paupério menos 2%. No ano passado, a EDP registou menos 53% de lucros, a EDP Renováveis mais 14%, a Jerónimo Martins mais 4%, a Sonae mais 33% e a Galp mais 23% do que em 2017.

A justificar o aumento salarial do CEO da Galp no ano passado esteve o crescimento de 7% na remuneração variável recebida, tendo sido o único deste top 6 que viu a componente variável (associada tanto ao cumprimento de objetivos anuais como plurianuais) crescer. Curiosamente, o salário de Gomes da Silva é o que apresenta um menor contributo das componentes variáveis, tendo estas um peso de 44% do total.

Segundo as contas apresentadas pelas empresas relativas a 2018, pouco menos de 56% da remuneração total de António Mexia veio de componentes variáveis, peso similar ao encontrado nos ganhos de Manso Neto. Já o líder da Semapa viu a remuneração variável responder por 46% do total, enquanto o CEO da Jerónimo Martins recebeu 630 mil euros de remuneração fixa e 1,27 milhões de euros em variáveis, incluindo contributo para plano de pensões de reforma. Feitas as contas, o salário fixo do líder do dono do Pingo Doce pagou 33% dos ganhos totais do gestor, com a remuneração variável e o contributo para o PPR a pagarem os restantes 67%.

Na Sonae, a distribuição das remunerações apresenta um perfil similar ao da Jerónimo Martins. Tanto em 2017, como em 2018, mais de dois terços dos ganhos do co-CEO vieram de variáveis — anuais e plurianuais.

Apesar das quebras na remuneração em 2018 dos seis CEO do “clube do milhão”, certo é que à exceção do líder da EDP Renováveis, todos estes gestores ganharam mais no ano passado do que ganhavam em 2016, e a maioria por uma margem generosa: António Mexia e Gomes da Silva ganharam mais 8% do que tinham ganho em 2016, Soares dos Santos mais 50% e Castello Branco mais 27%. Já Ângelo Paupério ganhou em 2018 mais 0,9% que em 2016.

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