Da reforma europeia à guerra comercial. As cinco mensagens de Marcelo Rebelo de Sousa

  • ECO
  • 31 Março 2019

O Presidente da República defende que a Europa está hoje mais preparada para uma nova crise, mas enfrenta desafios. Em entrevista ao Público, falou ainda do Brexit e de populismo.

Marcelo Rebelo de Sousa considera que a União Europeia (UE) está hoje mais bem preparada para uma nova crise, mas existem desafios. Em entrevista ao jornal Público (acesso condicionado), o Presidente da República abordou uma série de temas que foram desde as eleições europeias aos populismos, passando pelo Brexit ou a guerra comercial. Estas foram as cinco principais mensagens deixadas.

  • Lições da crise aprendidas

A União Europeia cometeu erros, mas aprendeu as lições, saindo reforçada para novas crises, especialmente no que diz respeito à vertente preventiva, segundo o Presidente. “A União Europeia está mais atenta à aproximação de sinais de crise e a prova é que o Banco Central Europeu tem estado muito cuidadoso. Podia ter sido mais afoito em matéria de criar condições para uma ligeira mudança de orientação, mas preferiu prosseguir na mesma linha…”, disse, ao Público. “Está-se hoje muito atento para não deixar arrefecer a economia, mas sem convites indiscriminados e radicais ao que pode pôr em causa os equilíbrios orçamentais”.

  • Riqueza dos Estados depende da integração

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou, no entanto, que o equilíbrio orçamental não pode ser o único foco e é preciso para a economia enquanto um todo. A integração é, segundo o presidente, uma peça-chave para o crescimento económico dos países da UE. “Quando o G7 se reunir daqui por 10 ou 20 anos, se a Europa não levar por diante o seu projecto de integração, não haverá praticamente países europeus nessas cimeiras”, afirmou. E deixou claro que é preciso avançar já: “O que faz sentido é dar os passos imediatos na União Económica e Monetária em vários domínios que é preciso decidir agora, antes das eleições europeias, porque significa perder tempo e, em alguns domínios, perdê-lo irreversivelmente“.

  • “Ideal” era adiar o Brexit até 2020

Os desafios que ainda se apresentam após a crise, não só financeiros mas também sociais, incluem o Brexit, que foi proporcionado também pela revolta social. Marcelo Rebelo de Sousa considera que é preciso “tentar remendar as consequências, para uns e outros, do exercício respeitável — porque legítimo — da soberania britânica, mas que tem consequências óbvias”. Sublinha a importância de ganhar tempo: “quanto mais tempo melhor — o ideal seria até ao fim do ano que vem —, para permitir mais reflexão no Reino Unido com a colaboração da União Europeia”.

  • Populismo ainda é um risco

Questionado pelo Público sobre se o caos político no Reino Unido é mais um sinal da crise das democracias liberais, o chefe de Estado respondeu que “a crise dos sistemas políticos e sociais cobre o Reino Unido e todas as democracias”. Vê fatores relacionados com a dificuldade de a democracia representativa se ajustar a tempos acelerados e espaços globalizados. “Concebida para ter filtros e intermediações, ter agora de ajustar-se a um panorama mediático com a democracia eletrónica e o convite ou, pelo menos, o sonho da intervenção permanente, instantânea e determinante de todos na decisão de tudo, quando os seus mecanismos democráticos estão concebidos para o oposto. As instituições europeias fecham em agosto — é o contraste total com a realidade. Há mercados a funcionar em agosto, há crises em agosto, há problemas políticos, económicos sociais em agosto. Mas também é um problema nacional”, defendeu.

  • Relações entre UE e EUA ou China mudaram

O mundo mudou e as relações entre regiões também. Marcelo Rebelo de Sousa falou ainda da China e dos Estados Unidos, defendendo que as relações internacionais mudaram e arrefeceram, trazendo desafios acrescidos. “A guerra comercial com a China tem efeitos colaterais, no caso de haver mesmo uma guerra; e tem efeitos se não houver guerra, porque a Europa fica exposta como adversária principal no discurso oficial norte-americano. A guerra comercial com a Europa, essa, tem efeitos diretos imediatos. E isto é novo. É também um pouco novo o facto de a China ter hoje um peso que não tinha naquela altura e estar muito interessada no que se passa na Europa. Antes, a China olhava a Europa como um mero aliado tático objetivo no confronto com os EUA e na diferenciação em relação à Rússia. Pensava que era bom que a Europa não se dividisse, que não se fragilizasse. Agora, é mais do que isso. A China quer avançar na Europa”, acrescentou o Presidente, ao Público.

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