O linho de Ribeira de Pena, a inovação e a projeção com a mala de Louboutin

  • Lusa
  • 18 Maio 2019

O uso do linho em toalhas ou colchas tem caído em desuso e, na Cooperativa de Artesãos Cervenses, aposta-se em unir trabalho tradicional com a inovação de peças, como roupa, bolsas ou sapatos.

Tecedeiras de Cerva conciliam a tradição do linho com a inovação de peças e acreditam que a participação na nova mala do designer Christian Louboutin vai ajudar a projetar esta arte ancestral de Ribeira de Pena. Em Ribeira de Pena, no distrito de Vila Real, a arte do linho é uma tradição antiga e por algumas das suas localidades era comum ouvir o bater ritmado dos teares e ver os campos enfeitados com a cor azul da planta do linho.

Nas últimas décadas, o uso do linho para as toalhas de mesa ou colchas foi caindo em desuso e, na Cooperativa de Artesãos Cervenses (CACER), aposta-se em conciliar o trabalho tradicional nos teares com a inovação de peças, como roupa, bolsas, sapatos ou toalhas de praia que podem ajudar a aumentar as vendas.

Recentemente as artesãs da CACER foram desafiadas a integrar um projeto do francês Christian Louboutin, o qual acreditam que vai ajudar a projetar o linho de Ribeira de Pena. “Para nós foi uma maravilha, foi um trabalho excelente (…). É um orgulho vermos o nosso trabalho ser divulgado”, afirmou Fernanda Machado, de 43 anos.

As tecedeiras de Cerva trabalharam nas franjas e no linho ripado para a mala de luxo “Portugaba”, uma homenagem de Louboutin a Portugal e que junta várias artes tradicionais do país, desde o linho de Cerva à capa mirandesa ou aos azulejos. “No início pensei que era apenas mais um trabalho, não tinha a perceção da sua dimensão. Mas foi muito bom, muito gratificante trabalhar para uma pessoa assim. Deu-nos visibilidade”, acrescentou Paula Silva, de 39 anos.

Esta artesã já tinha ouvido falar do designer “famoso pelos sapatos de sola vermelha” mas confessou não saber quem era e referiu que conhece-lo foi muito bom. Fernanda Machado aprendeu a arte num curso profissional em 2001, ano em que começou também a trabalhar na Cooperativa dos Artesãos Cervenses.

A artesã destacou o “muito trabalho” que o linho dá e garantiu que é preciso “gostar mesmo” para se dedicar a esta arte que não é atrativa para os clientes mais jovens. Por isso mesmo, defende que o caminho passa pela “inovação”, fazendo peças diferentes das tradicionais toalhas que “já ninguém compra”.

Em consequência, na CACER as artesãs estão a fazer écharpes, malas, acessórios e roupas e a usar outras cores para além do tradicional branco.

Além da mala do designer francês, Fernanda Machado destacou a produção de toalhas de praia em linho que estão a exportar para os Estados Unidos da América (EUA) e também os tecidos que estão já a preparar para o desfile de moda que irá abrir a Feira do Linho de Ribeira de Pena, que se realiza no primeiro fim de semana de agosto.

A tecedeira disse que este projeto está a ser feito em conjunto com outras artesãs do concelho e que as peças em linho estão a ser desenhadas pelo estilista Fernando Nogueira. Atualmente, na cooperativa apenas Fernanda Machado e Paula Silva trabalham a tempo inteiro. Quando o trabalho aumenta, recorrem a outras artesãs que trabalham em casa.

Paula Silva tirou um curso há 22 anos e disse que na altura ficou fascinada pelo “trabalhar do linho”. Regressou há um ano à CACER. Fernanda contou que já a sua avó era tecedeira, que o amor pelo tear começou a “ferver no sangue” quando fez o curso e garantiu que, no que depender de si, esta arte “não entra em vias de extinção”.

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