Theresa May deixa Downing Street. O que acontece agora ao Brexit?
Com lágrimas nos olhos, Theresa May anunciou a sua demissão da liderança do partido Tory e do Executivo. O que acontece agora ao Brexit? Os cenários variam de um novo acordo a eleições antecipadas.
Theresa May anunciou, esta sexta-feira, a sua saída da liderança do partido Tory e do Executivo britânico, adivinhando-se agora uma fase ainda mais turbulenta do divórcio do Reino Unido da União Europeia. Com a sua demissão, a primeira-ministra demissionária deixa agora nas mãos do seu sucessor o futuro do Brexit, estando agora cima da mesa, pelo menos, cinco cenários prováveis: uma saída sem acordo, um novo acordo, o endurecimento do atual acordo, um novo referendo ou até mesmo a suspensão da saída. No horizonte, podem estar ainda novas eleições.
Face à intensa pressão interna e às críticas dos trabalhistas, Theresa May decidiu demitir-se, deixando vago o cargo de líder dos conservadores e do Executivo britânico a partir de 7 de junho. Nessa altura, deverá arrancar a corrida para substituir a primeira-ministra, sendo o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, apontado como o favorito.
Se Johnson assumir essa posição, é então expectável um endurecimento do acordo de divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia, já que essa tem sido a posição defendida pelo político desde sempre. Esse é, contudo, apenas um dos múltiplos cenários que estão, atualmente, em cima da mesa.
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Vem aí endurecimento do acordo do Brexit?
Quem quer que venha a ocupar o cargo deixado livre por Theresa May, terá pela frente intensas negociações com Bruxelas. É que, do lado de Londres, provavelmente terá de ser exigido o endurecimento do acordo de saída, o que deverá chocar de frente com as intenções do bloco comunitário, que já se mostrou disponível para renegociar a declaração política, mas não os termos do divórcio.
Tal cenário deixa assim antever um confronto entre Reino Unido e União Europeia, o que complicaria ainda mais a saída. Para fortalecer a posição de Londres, alguns ministros britânicos têm defendido que se comece a preparar uma saída sem acordo, avança a Reuters.
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No deal Brexit ou até suspensão do divórcio?
Uma saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo seria um pesadelo para as empresas, cidadãos, mercados e relações políticas. Ainda assim, se o Executivo britânico quisesse prosseguir com tal decisão, não é certo que o Parlamento conseguisse travar essa intenção. É que a única alternativa seria avançar com uma moção de censura contra esse Governo.
Entretanto, o norte-americano JPMorgan reviu em alta as probabilidades de um no deal Brexit acontecer para 25%. Isto tendo por base a previsão de que será Boris Johnson a ocupar o cargo deixado livre pela primeira-ministra britânica.
Também o BNP Paribas seguiu este caminho, tendo revisto em alta a sua previsão. O banco entende agora que há 40% de probabilidades de uma saída sem acordo acontecer. E já esta sexta-feira, em reação à decisão de May, a Moody’s fez notar que essa saída “aumenta o risco de no deal Brexit”, o que teria “efeitos negativos” tanto na “soberania” do Reino Unido como no investimento e até nas contratações de pessoal.
Por outro lado, a demissão de Theresa May deixa espaço não apenas a esta possibilidade de no deal, mas também à própria suspensão da saída, o que pode ser decidido pelo Parlamento britânico.
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Novas eleições?
Ainda que as próximas eleições britânicas estejam marcadas para 2022, há duas formas de antecipar essa ida às urnas: se dois terços do Parlamento (650 deputados) votarem favoravelmente esse reagendamento ou se for aprovada uma moção de censura ao Governo Tory e se nenhum outro partido conseguir reunir deputados suficientes para tomar o poder, no prazo de 14 dias.
O resultado de tal eleição seria, contudo, altamente imprevisível, uma vez que tanto conservadores como trabalhistas têm perdido o apoio dos cidadãos britânicos. Ainda assim, se os Tory conseguissem formar um novo Governo com maioria, seria expectável um divórcio bem mais duro do que aquele proposto por Theresa May. Se fossem os trabalhistas a formar Governo, seria de esperar, por outro lado, a nacionalização de inúmeras empresas estratégicas, de modo a mitigar os efeitos da saída. Em cima da mesa, poderiam estar ainda governos minoritários e até coligações de desenhos diversos.
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Novo referendo?
Depois de ter sido rejeitado vezes sem conta por Theresa May, um novo referendo ao Brexit pode estar agora no horizonte. Isto se os trabalhistas conseguissem uma maioria para governar, uma vez que Jeremy Corbyn tem defendido um “referendo para confirmar” o resultado do referendo de junho de 2016. Esse segundo referendo poderia também ser convocado pelo próprio Parlamento britânico, embora os deputados tenham chumbado anteriormente essa possibilidade.
Além disso, a avançar este segundo referendo, Bruxelas teria de concordar em adiar, mais uma vez, o divórcio, de modo a possibilitar esse voto. E ainda que muitas sejam as vozes a favor dessa segunda auscultação do país, não é claro qual seria o seu resultado, até porque a vencer o “permanecer” na União Europeia, os apoiantes do Brexit poderiam simplesmente exigir uma terceira votação.
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Novo acordo?
Esta é um cenário possível, mas improvável, uma vez que Bruxelas tem dito que não quer renegociar os termos do acordo de saída, nomeadamente no que diz respeito ao backstop entre as Irlandas, um dos pontos mais polémicos no coração da política britânica.
Apesar desta posição do bloco comunitário, o novo líder do Executivo britânico deverá insistir nesta possibilidade de modo a dar resposta às duras críticas que têm sido feitas tanto por conservadores como por trabalhistas aos termos conseguidos por Theresa May.
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E quem sucede a May? Estes são os três candidatos mais prováveis
Estes são os três candidatos favoritos ao cargo deixado vago por Theresa May, segundo o The Guardian: Boris Johnson, Dominic Raab e Jeremy Hunt.
Foi na semana passada que Boris Johnson anunciou que, assim que Theresa May deixasse a liderança do Executivo, entraria na corrida a esse lugar. Entretanto, as sondagens feitas pelo Times mostram mesmo que o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros é o favorito para substituir May.
De notar que Boris Johnson foi uma das caras principais na campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, tendo deixado o Executivo de Theresa May em protesto contra o plano de Theresa May. Na opinião do político, a primeira-ministra demissionária está a conduzir o país a um “semi-Brexit” que atribuía ao Reino Unido o estatuto de “colónia”.
Depois de Johnson, é Dominic Raab o nome apontado como favorito. Raab foi secretário de Estado para a saída da União Europeia entre julho de 2018 e novembro de 2018, tendo apresentado a sua demissão nessa altura em protesto contra o acordo de Brexit negociado por May e Juncker. O político defendia, na altura, que esse acordo não coincidia com o plano apresentado pelo partido conservador, nas eleições de 2017.
É importante referir Dominic Raab ainda não apresentou a sua candidatura, mas, quando questionado sobre isso, disse: “Nunca diga nunca”.
Em terceiro lugar na corrida, parece estar Jeremy Hunt, considerado por alguns uma espécie de “Theresa May de calças”. Hunt substitui Johnson na pasta dos Negócios Estrangeiros e tem assumida uma posição significativamente diferente, uma vez que votou contra o divórcio em causa.
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