Porque se acelerou na La Seda? “Porque era objetivo do seu governo”, diz Faria de Oliveira a deputado do PS

Faria de Oliveira, que voltou ao Parlamento por causa das acusações de pressão política catalã na La Seda, disse que palavras de Matos Gil são "narrativa completamente fora da realidade".

Faria de Oliveira foi novamente convocado pela comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD), após as acusações do empresário Matos Gil, que disse que o então presidente do banco público sabia das irregularidades na La Seda, mas não queria “fazer ondas” para não “ter conflitos com aquela região” da Catalunha. “Essa é uma narrativa completamente fora da realidade”, assegura Faria de Oliveira.

Matos Gil “estava descontente com a orientação que estava a ser levada a cabo naquele momento e achava que devia haver uma alteração da composição da gestão da La Seda, para ser mais operacional, onde estivessem mais especialistas do setor”, começou por explicar Faria de Oliveira na audição desta segunda-feira. É a segunda audição ao ex-presidente do banco público nesta comissão, depois de lá ter ido no dia 3 de maio.

Mais tarde, Faria de Oliveira esclareceu qual era o “problema muito específico” de Matos Gil na La Seda. “Na ótica dele, era que a política que estava a ser seguida não lhe convinha. Havia uma orientação por parte do conselho de administração da La Seda de continuar o processo de aquisições e deixar de realizar o investimento que tinha levado a Caixa a entrar na La Seda”, contou, refutando as declarações do empresário português.

Faria de Oliveira contou detalhes de reuniões que a Caixa (era Jorge Tomé quem participava nessas reuniões do lado do banco) teve na altura por causa deste investimento.

“Algures em janeiro [de 2008] houve uma reunião de Matos Gil com o presidente da La Seda [Rafael Español], acompanhado do presidente da Ibersuizas, requerendo que era bom que ele saísse e que seria bom uma recomposição da administração. Terá argumentado também que tinha dúvidas sobre uma operação de cedência de tecnologia a uma empresa e que não estaria devidamente espelhada nas contas da empresa. Era o único elemento que estaria em causa naquele momento“, acrescentou.

Depois, “o Dr. Jorge Tomé trocou impressões comigo, ele era também administrador na La Seda”. E, “contrariamente à expectativa criada nessa reunião, sobre a saída de Rafael Espanhol, um conjunto de acionistas espanhóis teria rejeitado essa solução e fez queixa à CMVM sobre pressão do grupo português e ia ser requerida uma OPA. Eu disse que a Caixa não vai fazer uma OPA sobre a La Seda. Aqui começam os desentendimentos que levaram a que a Caixa terminasse com o projeto na La Seda”, relatou. E foi aqui que se colocou um ponto final entre o acordo entre a Caixa e o grupo Imatosgil.

Em relação às irregularidades na gestão da La Seda, que, segundo o empresário Matos Gil, Faria de Oliveira terá ignorado, o antigo presidente da CGD lembra que o auditor da empresa catalã não colocou nenhuma “reserva” às contas de 2007, “nem nenhum comentário sobre tipo de irregularidades detetadas até à altura”, contrapôs Faria de Oliveira.

João Paulo Correia, do PS, pergunta porque é que a Caixa “acelerou” o investimento na La Seda quando já havia indicação de problemas.

Porque se acelerou na La Seda? “Porque esse era o objetivo do seu governo”

Matos Gil tinha ainda dito aos deputados que com a chegada de Faria de Oliveira à administração da CGD, o banco público mudou de estratégia em relação à La Seda. Também acusou a CGD de “má gestão” e de ser a responsável pelas perdas de 90 milhões de euros no empréstimo a si concedido, isto porque o banco recusou vender as ações que tinham sido dadas como garantia.

Faria de Oliveira diz que não foi bem assim: “Não houve alteração nenhuma em relação aos objetivos da presença portuguesa na La Seda. O que houve sim foi um ato de gestão de responsabilidade que era evitar que a Caixa tivesse de fazer OPA à La Seda”.

“Tomámos as medidas que tomámos para evitar que o projeto da Artlant ficasse a meio, e ter outro empresário reputado que nos desse continuidade no negócio [grupo de Moreira da Silva]. Foi uma tentativa de encontrar soluções e não desistência para que não houvesse lugar a prejuízos sérios”, disse mais tarde.

Finalizou o seu argumento em relação à gestão que fez do dossiê La Seda garantindo que os “benefícios para os portugueses vão ser muito superiores do que os prejuízos intercalares para a Caixa”.

Já perante as questões do deputado do PS João Paulo Correia sobre a razão que levou o banco a “acelerar” o seu envolvimento na La Seda mesmo depois de se saber dos problemas na empresa catalã, Faria de Oliveira respondeu: “Porque esse era o objetivo do seu governo”.

Prosseguiu para emendar a mão: “O interesse de realizar o projeto Artlant foi um projeto de interesse público, com manifestações de interesse de projeto nacional manifestado pelo seu governo. Pelo nosso governo”.

(Notícia atualizada às 13h22)

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