Estas são as três ameaças ao travão ao crédito do Banco de Portugal

Um ano após a entrada em vigor da recomendação do Banco de Portugal que visa criar limites à concessão de crédito às famílias, começam a surgir alguns sinais que criam reticências sobre a sua eficácia

A aceleração do crédito às famílias, em particular para a compra de casa, e os riscos que daí podem resultar levaram o Banco de Portugal (BdP) a agir. Há cerca de ano e meio, a entidade liderada por Carlos Costa anunciou uma recomendação aos bancos, onde estabelecia um conjunto de limites que estes deveriam respeitar na hora de dar crédito com vista a prevenir o sobreendividamento das famílias e riscos para a economia. A medida que passou a ser popularmente conhecida como o travão ao crédito entrou em vigor a 1 de julho do ano passado e surtiu alguns efeitos positivos. Contudo, recentemente têm emergido alguns sinais de alerta que ameaçam a eficácia daquela medida macroprodencial.

O primeiro balanço da implementação da recomendação foi feito no final de maio. Nessa ocasião, o BdP anunciava que a medida estava a ser seguida pelos bancos. A recomendação visa o cumprimento pelos bancos de limites ao LTV, taxas de esforço e maturidades dos empréstimos.

É possível concluir que as instituições implementaram a recomendação, embora com algum gradualismo”, referia o BdP no sumário executivo do primeiro relatório de acompanhamento macroprudencial sobre os novos créditos aos consumidores. Acrescentava ainda que “de uma maneira geral, as instituições estão a convergir para os limites previstos”.

Já antes, em abril, os próprios bancos no inquérito trimestral sobre o mercado de crédito assumiam já sentir o impacto do travão do Banco de Portugal ao referirem uma ligeira quebra da procura de crédito para a compra de casa nos três primeiros meses do ano.

Entretanto, surgiram alguns sinais que ameaçam colocar em xeque os esforços do regulador. Fique a conhecer os três principais.

Após travagem, concessão de crédito volta a acelerar

No seguimento da entrada em vigor do travão do BdP foi notório uma quebra na concessão de crédito. Contudo, os últimos dados disponibilizados pelo regulador da banca colocam reticências relativamente à manutenção dessa tendência.

Em maio, os bancos concederam 927 milhões de euros em empréstimos para a compra de casa. Esse montante não só interrompe um ciclo de quebras que já ia em quatro meses seguidos, como representa um disparo de 123 milhões de euros face ao valor disponibilizado em abril. É ainda o mais elevado desde junho do ano passado, o mês imediatamente anterior à entrada em vigor da medida macroprudencial do BdP.

O incremento da concessão não é ainda exclusivo ao crédito à habitação. Chegou aos empréstimos ao consumo, também alvo daquela recomendação. Em maio, os bancos e as financeiras concederam 671 milhões de euros em novos empréstimos para consumo. Trata-se do valor mais elevado do histórico do BdP cujo início remonta a janeiro de 2013.

Banca antecipa aceleração da procura de crédito

Não bastassem esses sinais de aceleração da concessão, como são os próprios bancos a antecipar um aumento da procura de crédito pelas famílias. Assumiram isso mesmo no último inquérito trimestral sobre o mercado de crédito cujas conclusões foram divulgadas nesta terça-feira. “No segmento dos particulares as instituições antecipam um aumento na procura de crédito à habitação”, é dito pelo BdP.

Trata-se de uma inversão de discurso face ao que antecipavam há três meses. Na altura, os bancos assumiam uma ligeira diminuição da procura de crédito para aquisição de habitação relativamente aos três primeiros meses do ano, para a qual teria contribuído a medida macroprudencial do BdP. Esperavam ainda que esse cenário se prolongasse para o segundo trimestre, o que não se confirmou tal como revelaram os bancos nesta terça-feira. A procura de crédito pelas famílias, pelo contrário subiu, com os bancos a atribuírem às baixas taxas de juros parte da responsabilidade por essa evolução.

Juros em mínimos históricos são para durar

As Euribor nunca estiveram em níveis tão baixos como atualmente, assumindo mesmo valores negativos, o que ajuda a alimentar o apetite das famílias portuguesas pelo crédito. E tudo aponta para que esse cenário não mude, nem tão cedo. Em meados de junho, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), revelou estar disponível para novos estímulos, incluindo descida dos juros de referência, visando manter a economia europeia sobre carris. Tal pode acontecer já na reunião do BCE desta quinta-feira ou em setembro.

O mercado incorporou imediatamente o aviso de Draghi, com as Euribor a caírem para novos mínimos de sempre, e estendendo-se no tempo até ao final do primeiro semestre de 2024, o período em que esperam que os juros se mantenham negativos. São boas notícias para quem tem crédito e uma “cenoura” apetecível para quem pondera recorrer ao crédito.

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