Se o petróleo chegar aos 100 dólares, que estrago poderá causar em Portugal?

Com os fatores de incerteza a multiplicarem-se, o preço do barril voltou a subir. Dos combustíveis ao produto interno bruto, poderá causar danos na economia portuguesa.

O mercado petrolífero vive tempos de incerteza. Com o endurecimento das sanções norte-americanas ao Irão e conflitos no Golfo Pérsico a fazerem subir preços e os receios com a desaceleração económica a contrariar, a única constante tem sido o acordo de cortes de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Se o barril de Brent chegar aos 100 dólares, tanto as carteiras dos condutores portugueses como a economia do país serão penalizadas.

Durante os primeiros meses do ano, o preço do petróleo subiu de forma gradual, tendo chegado aos 75 dólares, depois de os EUA terem imposto novas sanções ao Irão (querendo privar o país das receitas com venda de petróleo, que representam 80% das receitas do Estado). Esta semana, negociou acima dos 65 dólares em Londres.

A consultora britânica Oxford Economics chegou a alertar que estas tensões poderiam levar o preço por barril até aos 100 dólares, a um ritmo de crescimento de 2,5 dólares por mês. Assumindo que não haveria mudanças nas tensões no Médio Oriente, o valor do barril situar-se-ia próximo de 96,50 dólares no final do ano, mas qualquer choque na oferta — como uma repentina paragem na produção nigeriana — levaria o preço para a marca dos 100 dólares.

Na economia global, este valor causaria uma quebra de 0,6% no produto interno bruto (PIB) mundial, de acordo com a Oxford Economics. “O impacto do preço do petróleo poderá ser diferente nas diversas economias mundiais”, explicou Ângelo Custódio, trader do Banco Best, ao ECO.

Economia e finanças pessoais portuguesas na linha da frente do impacto

Se verificarmos o caso da Europa que está dependente de importação de energia, o efeito no aumento dos custos com a energia será imediato e poderá acelerar a inflação. Por outro lado, os países produtores aumentam as suas margens de lucro criando um impulso nas suas empresas e governos permitindo uma dinamização das suas economias”.

Em Portugal — país fortemente dependente das importações –, a projeção do Governo é que o petróleo se situe, em média, nos 66 dólares por barril em 2019. O Ministério das Finanças estima que um aumento do preço do petróleo de 20% face a esta estimativa teria um impacto negativo de 0,2 pontos percentuais no crescimento real da economia. Ou seja, se o preço médio do barril chegar aos 79,20 dólares, o PIB português cresceria apenas 1,7% este ano e no próximo, contra a atual estimativa do Governo de 1,9%.

A economia seria penalizada e os portugueses, desde logo, pela quebra do rendimento disponível. Além disso, dado o método de cálculo do preço dos combustíveis nas bombas, o impacto seria imediato também nas carteiras, no momento de abastecer o carro.

“Face às atualizações semanais nos preços dos combustíveis praticadas pelo setor, o consumidor poderá sentir de imediato a evolução do preço do petróleo, caso a escalada do preço nos mercados internacionais continue”, refere ainda Ângelo Custódio, apontando para a incerteza da evolução da cotação do dólar, moeda de transação da mercadoria nos mercados internacionais. “Numa lógica de valorização da moeda norte-americana o preço dos combustíveis poderão ser ainda mais inflacionados, penalizando os consumidores”.

“Se desconsiderássemos o efeito cambial e extrapolássemos os preços atuais face à cotação atual do Brent, podemos ver os preços dos combustíveis a serem comercializados em torno dos dois euros por litro”, acrescentou o trader do Banco Best. Atualmente, a média do preço de litro de gasolina em Portugal situa-se ligeiramente acima dos 1,50 euros, de acordo com os dados oficiais da Direção Geral de Energia e Geologia. Já o gasóleo custa em média 1,33 euros por litro.

Abrandamento económico e tensões geopolíticas vão determinar preços

Após várias semanas em quebra, os preços dos combustíveis nas bombas portuguesas têm vindo a recuperar e a tendência poderá manter-se, mas as perspetivas é que os preços não venham a variar muito face aos níveis atuais, em linha com os mercados internacionais.

O petróleo negoceia em Londres perto dos 63 dólares por barril, acumulando um ganho de 17% desde os 54 dólares em que negociava no início do ano. A projeção dos analistas consultados pela Reuters indicam que o preço do barril continue nos níveis atuais ao longo deste ano. O setor antecipa que o barril de Brent fique nos 67,59 dólares este ano e 67,7 dólares no próximo.

Petróleo valorizou 17% este ano

Carlos Jesus, diretor adjunto do CaixaBI, aponta para as tensões geopolíticas e para a nova extensão do acordo de cortes de produção pela OPEC+ (o cartel e os aliados externos) como principais fatores que determinam o preço.

“As expectativas de volatilidade permanecem baixas e próximas de níveis não vistos desde outubro do ano passado, um resultado que se encaixa na atual narrativa nos mercados de petróleo”, sublinhou Jesus, apontando para os pratos na balança: os cortes na produção e as tensões geopolíticas, por um lado, e os receios sobre a possibilidade de uma desaceleração económica num futuro próximo, por outro. “Ainda assim, o mercado parece ter recuperado parte do impulso perdido nos últimos três meses de 2018”, acrescentou.

Apesar de ver “sinais” de um melhor desempenho futuro dos preços, o analista do Caixa BI sublinha que “a ameaça de aumento da produção de petróleo de xisto, nomeadamente num ambiente de preços mais favoráveis, e o perigo de abrandamento nas principais economias mundiais, nomeadamente a China, continuam a constituir limites importantes para uma maior recuperação dos preços”.

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