Ministros não conseguem eleger candidato europeu ao FMI após três votações. Georgieva tem mais votos, mas não consegue maioria qualificada

Mesmo depois de três rondas de votações promovidas por França, e das desistências de Nadia Calviño e de Olli Rehn, os ministros não conseguiram escolher um candidato à liderança do FMI.

Depois de semanas a tentar encontrar um consenso entre os Estados-membros sobre um nome para suceder a Christine Lagarde como diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), os ministros das Finanças da União Europeia avançaram para uma votação com quatro candidatos — Mário Centeno retirou o seu nome na noite de quinta-feira. A espanhola Nadia Calviño retirou o seu nome após a primeira ronda, e Olli Rehn na segunda ronda, mas mesmo assim nenhum dos dois candidatos que permaneceram na corrida — Kristalina Georgieva e Jeroen Disselbloem –conseguiu a maioria qualificada necessária para ser o escolhido da Europa. A Búlgara Kristalina Georgieva terá conseguido mais votos, mas não o necessário para receber maioria qualificada e a Holanda está a contestar os resultados, apurou o ECO junto de fontes com conhecimento do processo.

O dia já vai longo, mas ainda parece não ter fim à vista. Depois de três rondas de votações, Kristalina Georgieva foi à ‘negra’ com o holandês Jeroen Dijsselbloem, e até conseguiu mais votos, mas não conseguiu a maioria qualificada necessária e obrigou o ministro das Finanças francês a ligar aos ministros para tentar garantir que seria a búlgara a vencedora, dizendo que a maioria qualificada é apenas uma orientação. No entanto, a Holanda está a contestar os resultados.

França disse que aos ministros que lhes iria anunciar o resultado da última votação pelas 17h45, mas a decisão foi sendo adiada até às 19h00, precisamente para fazer estas consultas.

Os ministros não conseguiram encontrar um candidato com a margem mínima necessária — 16 Estados-membros que representem pelo menos 65% da população da União Europeia — e agora terão até ao dia 6 de setembro, data final imposta pelo FMI para a apresentação de candidaturas à liderança do Fundo, para encontrar um candidato. A escolha final será feita até ao dia 4 de outubro.

Continuará o candidato europeu a ser o vencedor da corrida?

Desde a fundação do FMI em 1946, na sequência dos acordos de Bretton Woods, que há um acordo informal com os Estados Unidos para que a liderança do Fundo seja escolhido pelos países europeus, deixando a escolha do presidente do Banco Mundial para os Estados Unidos. Sendo verdade que os Estados Unidos mantêm a sua parte do acordo — Donald Trump escolheu David Malpass para presidente da instituição em março deste ano –, também o é que esta tradição tem sido muito questionada pelos países emergentes, desde a primeira nomeação de Christine Lagarde em 2011.

Na altura, os diretores que representam os BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, com 18% dos direitos de voto na escolha, emitiram um comunicado criticar este acordo, qualificando-o como uma “convenção informal obsoleta” e a pedir um processo transparente e baseado no mérito. O processo mudou, e até houve outros candidatos de países emergentes — como o governador do Banco do México, Agustín Carstens –, mas no final os BRICS não se uniram em torno de um candidato.

No final, aplicou-se o acordo de cavalheiros entre os Estados Unidos e a Europa e, como tem sido mais frequente, voltou a ser um francês. Christine Lagarde, foi a primeira mulher a liderar o FMI, e a quinta francesa em 11 diretores-gerais. Em 73 anos de existência, França teve o cargo máximo do FMI durante 44 anos.

A luta cada vez mais aguerrida dos países emergentes por mais representação e influência dentro do FMI, em particular com o crescimento das economias chinesa e indiana, não tornará o processo de seleção de mais um europeu fácil, mesmo com o apoio manifestado pelos Estados Unidos ao acordo tácito que existe desde 1946. Especialmente depois de os Estados Unidos terem bloqueado a reforma do sistema de quotas do FMI, que daria mais poder a este grupo de países, sendo a primeira da lista a China.

Ainda não avançaram outros candidatos. O candidato europeu é o primeiro a ser escolhido. No entanto, já se falam de hipóteses como o eterno candidato Agustín Carstens, mas também o indiano Raghuram Rajan.

Como se escolhe o diretor-geral do FMI

Escolhido o candidato europeu, o FMI estabeleceu como data limite o dia 6 de setembro para que todos os que quiserem avançar coloquem os seus nomes na disputa. O processo ficará fechado até ao dia 4 de outubro.

O diretor-geral do FMI, o cargo mais elevado na instituição e o seu efetivo líder, é escolhido formalmente a partir de um dos nomes que pode ser avançado pelos 24 diretores que representam todos os países que são membros do Fundo, sendo que apenas os Estados Unidos, Japão, China, Alemanha, França, Reino Unido e Arábia Saudita têm o seu próprio representante. Quem representa Portugal é o italiano Domenico Fanniza, que agrupa ainda a representação de Itália, Albânia, Grécia, Malta e San Marino.

Também o conselho de governadores do FMI, onde cada membro tem o seu próprio representante, pode nomear candidatos para a corrida à direção-geral do Fundo. O representante de cada país no conselho de governadores é tipicamente o ministro das Finanças ou o governador do banco central desse país, embora não necessariamente, e cada país pode ter um substituto. O representante de Portugal é o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, mas não está nomeado qualquer substituto, ao contrário da generalidade dos países.

Desde 2011, quando Christine Lagarde foi nomeada pela primeira vez, que o processo para a nomeação foi alterado para o tornar mais transparente e aberto, com critérios ancorados no mérito do candidato, dando a hipótese aos governadores para fazerem as suas nomeações, e o processo de seleção — que tem sempre o objetivo de ser feito por consenso — não demorou mais do que um mês das últimas duas vezes.

O FMI definiu também vários critérios que os candidatos devem cumprir para poderem ser escolhidos, como um percurso reconhecido como decisores económicos a todos os níveis, um currículo profissional de alto nível, a capacidade demonstrada de gestão e as qualidades diplomáticas necessárias para liderar uma organização mundial, mas também de ser um defensor inequívoco do multilateralismo. São os 24 diretores que vão receber as candidaturas e reduzir a lista a três candidatos, caso sejam mais. Depois voltam a reunir-se para fazer a seleção do próximo diretor-geral, de acordo com os direitos de voto atribuídos a cada um.

(Notícia em atualização)

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