Que estragos pode a greve fazer na economia?

Muitas empresas fecham em agosto para férias o que ajuda a minimizar o impacto da greve dos combustíveis, alertam associações. No entanto, setor da agricultura está à beira da época de colheita.

A greve dos combustíveis começou esta segunda-feira. Os portugueses e as empresas tiveram tempo para se preparar mas as coisas mudaram durante a tarde quando dos serviços mínimos deixaram de estar garantidos. A maior parte das associações empresariais contactadas pelo ECO referem que o impacto na economia depende do tempo que a greve dos motoristas durar. Mas há setores que já sentiram efeitos negativos logo no primeiro dia de paralisação.

A greve “afeta mais as expectativas” e “está muito no início para sabermos as consequências que pode ter na economia nacional”, explica ao ECO o professor na Universidade do Minho João Cerejeira. O economista acrescenta que pode haver impacto real na economia, nomeadamente nas exportações, se a greve durar tempo suficiente para atingir as “cadeias de distribuição que são cada vez mais curtas”. “Mesmo que as empresas tenham produção em stock, ela começa a diminuir”, explica.

E lembra que também no turismo pode haver impacto, dando como exemplo o caso do turismo que chega de Espanha — os turistas “podem ficar reticentes” ao saberem que pode haver falhas na distribuição de combustível.

Em abril, quando houve a primeira greve dos combustíveis, não foram assinalados impactos na economia como um todo. Agora a principal dúvida é, depois de precavidos com depósitos cheios, quanto tempo a greve dura, comprometendo novos abastecimentos.

“Quanto mais tempo durar a greve mais impactos negativos terá na economia, pois não se trata apenas do transporte de combustíveis e a comodidade do abastecimento, mas igualmente os efeitos que terá na distribuição de bens, na importação e exportação de mercadorias”, diz ao ECO o diretor geral da Associação Têxteis de Portugal (ATP). Paulo Vaz acredita, porém, que a greve “não durará mais de uma semana e dependerá como será aplicada a requisição civil”.

Requisição essa que foi aprovada pelo Governo durante a tarde desta segunda-feira. Numa primeira fase, para garantir o abastecimento do aeroporto de Lisboa, as saídas de combustível por via rodoviária a partir de Sines, o abastecimento dos postos da rede de emergência e as unidades de gás natural liquefeito.

Se a greve chegar a uma semana, este responsável acredita que “já trará impactos negativos sensíveis no consumo e nas trocas de mercadorias no mês de agosto”. Paulo Vaz diz que o facto de a greve acontecer em “pleno período de férias minora os efeitos”. Este é um facto destacado também pela associação que representa o setor do calçado e artigos de pele.

“As coisas estão mais ou menos dentro da normalidade. Mais de 50% das empresas já estão fechadas para o período de férias e as outras precaveram-se. Parece não existir nenhuma situação extraordinária”, disse ao ECO fonte da APICCAPS, a Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos.

Este responsável acredita que a economia pode sofrer se a greve se prolongar até final de agosto, início de setembro. “Aí sim é preocupante tendo em conta que este é um setor que exporta 95% dos produtores”, acrescentou a mesma fonte.

Gonçalo Lobo Xavier, da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), disse ao ECO que, embora ainda não tendo dados suficientes, para já “as coisas estão a correr relativamente bem”.

Mas esta não foi uma posição consensual. No setor da agricultura o impacto da greve parece já se fazer sentir. Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), diz que “no caso da agricultura os estragos poderão levar as empresas à falência”.

E explica porquê: “Estamos numa altura de colheita, estamos a colher todo o investimento que estivemos a fazer durante um ano.” “A colheita do pêssego, tomate, pera rocha e até as vindimas podem estar em risco caso esta greve continue”. O mesmo responsável diz que a greve tem “prejuízos incalculáveis” e salienta a diferença face à Páscoa, quando houve a primeira greve, mas que não era tempo de colheitas.

Mira refere ter conhecimento de uma pequena empresa de produção de tomate que já ficou sem combustível. Resultado: “Teve que parar”.

Para já certo é que a economia espanhola já está a beneficiar com a situação de greve em Portugal. A Confederação informou que a existência da greve em Portugal estava a provocar longas filas de espera nalguns postos de abastecimento em Espanha, sobretudo na cidade fronteiriça de Huelva, avançou a Lusa.

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