CONARH 2019: Bem-vindos ao mundo imperfeito

  • Pedro Ramos
  • 18 Setembro 2019

Visita guiada ao ConaRH pelos olhos de Pedro Ramos, diretor de recursos humanos da TAP e membro da direção da APG.

As máquinas são perfeitas! As pessoas (felizmente) não… Quer saber a minha definição de #Humanize? #Humanize é gerir a imperfeição humana como só as pessoas conseguem fazer… às vezes… tão bem!

A 45.ª Edição do CONARH – Congresso Nacional sobre gestão de pessoas 2019 teve lugar, como habitualmente, em São Paulo, Brasil, de 13 a 15 de agosto, e foram batidos todos os recordes. Mais de 3.000 congressistas e 30.000 visitantes, mais 30% de espaço de exposições e várias dezenas de conferências e palestras simultâneas, lançamentos de livros e sessões de autógrafos, e muitas novidades do (verdadeiro) mundo da gestão de pessoas e liderança marcaram presença. Trata-se do segundo maior evento de RH do mundo e o maior em língua portuguesa. Esta edição teve o tema forte “#Humanize”!

Abandonado que está o preconceito em torno da discussão (muitas vezes esotérica, digo eu!) sobre se a tecnologia ou as máquinas estão a substituir as pessoas nas empresas e nas várias funções, nasce uma nova centralidade temática nesta abordagem. Afinal, como podem os humanos utilizar ao máximo o potencial da tecnologia em seu benefício, colocando a mesma ao serviço dos processos de humanização nas empresas? Como desviar o foco na procura da “perfeição tecnológica” em busca das melhores soluções tecnológicas para uma melhor gestão e otimização das “imperfeições humanas” nas nossas empresas?

Assumir que as máquinas tendem a ser perfeitas, mais eficazes a fazer mais, mais rápido e com resultados mais imediatos… não contraria em nada a ideia central de que, para além de resultados mais rápidos, poder-se-ão obter melhores e mais eficazes se a isso acrescentarmos o fator humano gerador dessa (positiva) imperfeição, diferença, unicidade, humanização…

“Humanizar é ser humano, simples assim!” foi, das várias dezenas de conceitos que circularam pelo evento durante os três dias, aquele que melhor corresponde à ideia central de se ter de voltar “aos básicos” e reaprender o papel das pessoas nas organizações do nosso tempo. Um tempo assumidamente tecnológico.

Por isso, todo o evento foi “polvilhado” com mensagens poderosas que apontam para a necessidade de definição de estratégias de “humanizar mais o RH” nas empresas, de criar elos sólidos de ligação entre a tecnologia e a humanização nas organizações, de fazer elevar o “RH a níveis mais estratégicos e mais humanos”, sendo que a grande mensagem que poderíamos quase identificar como o subtítulo de todo este evento: ser profissional de gestão de pessoas sem deixar de ser humano!

#Humanize ou o fim o preconceito do amor nas organizações…

O médico e ativista social americano Patch Adams fez a palestra magna de abertura do congresso. Trata-se do protagonista da história que inspirou o filme interpretado por Robin Williams no cinema com o nome “Patch Adams: o amor é contagioso” e que retrata a sua vida real: alguém que, depois de passar por episódios traumáticos na vida e tentar o suicídio, decide internar-se voluntariamente num hospital psiquiátrico e lá descobre que tem o dom especial de cuidar das pessoas, encontrando o seu verdadeiro propósito de vida. Então, resolve deixar a instituição para cursar medicina e seguir com a sua importante missão: espalhar o amor, a humanização e a alegria nos hospitais do mundo. E isso deu origem aos vários vários modelos de “doutores palhaço”.

Patch empolgou a assistência com a partilha da sua experiência que relacionou missão, propósito, tecnologia no tratamento dos doentes com aquilo que ele considera ser um dos maiores segredos na relação das pessoas: a introdução e a assunção do “amor” e do “humor” nos relacionamentos profissionais. Segundo o orador, a sua própria vida prova que “humanizar os relacionamentos entre os profissionais e os doentes” é um dos segredos do sucesso nos tratamentos e a tecnologia dá uma excelente ajuda nisso.

Patch Adams construiu 26 hospitais em sete países. E sabe que foi inspiração para os grupos de palhaços nos hospitais. Os médicos cuidam da doença e não dão saúde aos doentes, por isso “procura manter a felicidade, trazendo a felicidade ao lado das pessoas que lá trabalham”.

Tive oportunidade de ter estado em privado com Patch Adams que, sorrindo sempre, deixou-nos ótimas sugestões: “não seja normal!”, “para colocar na prática a humanização precisa de passar a sua energia positiva, de ser contagioso nisso…” e, o melhor de todos… “seja chato, mas seja um chato feliz e, por isso, os outros não vão resistir e vão também ser felizes”. Valeu e trouxe-as comigo na bagagem!

DESTAQUE: Patch Adams construiu 26 hospitais em sete países. E sabe que foi inspiração para os grupos de palhaços nos hospitais.

#Heróis ou apenas Seres Humanos?

Outro dos momentos mais esperados – e confesso, o mais emotivo de todos – foi o painel “Competência humana, liderança e tecnologia”.

A ideia era conseguir explicar aos participantes, em termos concretos, como se pode obter cada vez melhores resultados ao associar as potencialidades humanas e a tecnologia cada vez mais avançada neste mundo em constante mudança e altamente desafiador. Será que a tecnologia também pode depender do humano e das emoções? E, por último, como a liderança pode ser determinante na obtenção da excelência nesta dialética pessoa/máquina?

Ora, nesta abordagem, fomos claramente levados para um mundo de emoções. Recebidos como autênticos heróis nacionais, a Major Carla Lessa e o Tenente Coronel Alexandro Rodrigues, militares e responsáveis do Corpo de Bombeiros Militares de Minas Gerais, desafiaram a assistência com imagens poderosas a acompanhar todo o “filme” das operações de resgate na recente tragédia da barragem de Brumadinho em Minas Gerais. Durante três dias a pilotar um helicóptero, a Major Carla comandou num terreno em condições altamente adversas o resgate de dezenas de vítimas a tragédia. Por seu turno, o Tenente Coronel explicou o papel da liderança neste processo concreto sobretudo na gestão das equipas no terreno e na otimização do recurso aos vários meios tecnológicos disponíveis. Neste caso, todas as decisões no terreno de como resgatar, como operar o equipamento, como coordenar a recolha de cada sobrevivente e cadáver, como gerir os vários perigo e riscos para o operacionais no terreno foram-nos descritas com grande detalhe e emoção. Um “grande final” foi o vídeo de uma das sobreviventes da tragédia, que vimos em fotos a ser resgatada pela equipa do helicóptero da Major Carla, a agradecer todo o profissionalismo e carinho que lhe fora dedicado e a possibilidade de estar viva. Extraordinariamente emocionante esta partilha “a cores e ao vivo” do papel da liderança na agregação das pessoas e das tecnologias ao serviço do salvamento de pessoas.

Muitos outros foram os cases e as dinâmicas em torno desta lógica de introduzir o #Humanize no dia-a-dia das empresas na perspetiva da gestão das pessoas. Por isso, temas como “a transformação digital é sobre pessoas” provaram que é possível revolucionar digitalmente as empresas sem perder a sua essência humana.

Muito se falou da importância do propósito e do papel do RH na construção e difusão do mesmo. Da utilização das tecnologia de forma “positiva” na melhoria da experiência dos colaboradores e na difusão de cultura organizacional. A “comunicação para humanizar” e a “ética e felicidade no trabalho” também foram temas bem debatidos em relação ao seu papel principal nos processos de humanização das organizações.

Por último, o papel das pessoas nos negócios saiu reforçado deste CONARH 2019: assumir as fragilidades, os erros, as imperfeições das pessoas e colocá-los ao serviço das aprendizagens e dos desenvolvimentos organizacionais é cada vez mais uma responsabilidade dos gestores de pessoas nas empresas deste mundo cada vez mais VUCA.

Todos a bordo! Bem-vindos a um evento verdadeiramente inclusivo…

Os discursos de abertura do CONARH 2019 ficaram marcados pela presença, em palco, de um conjunto de representantes de várias comunidades, raças, etnias, cidadãos com deficiência em representação de instituições, representantes de comunidades LGBT, entre outros, refletindo a diversidade das pessoas e da gestão no Brasil. Tal só foi possível, conforme as palavras do presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) Paulo Sardinha, dado que “a ABRH não quer promover a diversidade, quer simplesmente viver a e na diversidade e inclusão”. Por isso todo o evento foi marcado pelos temas e ações relacionadas com a inclusão e a diversidade, tendo sido o mesmo traduzido em simultâneo em linguagem gestual. Histórias pessoais emocionantes foram partilhadas ao longo das sessões e os participantes foram, por diversas vezes, desafiados a apresentarem-se e partilharem com um claro objetivo de integrar todos no evento.

Liderança all inclusive: as cinco “janelas” abertas ao mundo RH

Os grandes desafios para o mundo RH do nosso tempo foram traduzidas naquilo que a presidência da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) definiu como as “5 janelas de atuação da ABRH”, os grandes motores ou pilares da atuação dos gestores de pessoas nos atuais contextos desafiadores. “A primeira é educação como base de uma sociedade para formar o cidadão. A segunda é bem próxima de nós,recursos humanos, e é trabalho, mas com um recorte especial sobre os jovens. Via de regra, em qualquer índice de desemprego de qualquer país do mundo, os jovens são os mais atingidos. E, se nós perdermos a capacidade de entrada do jovem no mercado do trabalho, começaremos a ofuscar a terceira janela: a liderança. É necessário que a educação e o trabalho sejam muito bem preservados para que tenhamos lideranças que nos levarão à quarta janela, a produtividade. Não existe produtividade ou ela fica prejudicada onde não há confiança nas lideranças. E as lideranças que asseguram fortemente a produtividade nos levam também à quinta janela, a competitividade, ou seja, a reunião de empresas produtivas”, explicou o presidente da ABRH Paulo Sardinha.

Mundo executivo em debate durante três dias!

À margem da programação principal, uma sala exclusiva a CEOs e CHROs debateu vários temas da atualidade mundial no que à gestão de pessoas diz respeito, nomeadamente ao papel destes gestores de pessoas nos processos de transformações das empresas. Algumas das intervenções que importa reter:

Para Alfredo Setúbal, presidente da Itaúsa [ITAU Investimentos] o mundo novo procura empresas ágeis e que tenham um “propósito (não financeiro) capaz de atrair os melhores talentos, que hoje preferem empreender” ou simplesmente abandonar os seus países em busca da concretização desse propósito.

Na opinião de Olga Colpo, membro do Conselho de Administração da Companhia Paranaense de Energia – Copel, referiu-se à área de RH como uma área “que precisa evoluir, se posicionar diferente e levar o incómodo necessário para a transformação do negócio”.

Já Eliane Ramos Vasconcellos Paes (pres. da ABRH Minas Gerais) que moderou uma das sessões procurou saber como “o RH pode se tornar imprescindível?” no contexto das organizações. E refere que “falamos sobre valores e propósito, cultura organizacional, liderança pelo exemplo, inclusão das gerações, diversidade, tecnologia e o papel do RH em ser uma janela estratégica das organizações, assim como uma área de vanguarda. Assim como a gente, todos que estavam presentes, acreditavam que a empatia pode mudar o mundo.”

Livro “Pessoas & Negócios” chega a São Paulo

No segundo dia do evento, o livro “Pessoas & Negócios – mobilizar para a obtenção de resultados”, de Pedro Ramos, foi apresentado no stand da ABRH Brasil.

Depois do lançamento em Portugal, na Feira do Livro de Lisboa, em junho, o livro assinado pelo diretor de recursos humanos da TAP e vice-presidente da APG e que pretende “contribuir para uma visão integrada da gestão de pessoas nas empresas” foi apresentado no Brasil, “rodeado de amigos que sabem bem a importância das Pessoas no sucesso dos negócios e das organizações”.

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