Estas empresas já pagam “ordenados mínimos” acima dos 600 euros

O Lidl Portugal, a Jerónimo Martins, a IKEA Portugal e até o Estado são exemplos de empregadores nacionais que escolheram praticar "salários mínimos" mais elevados que os 600 euros nacionais.

O Governo de António Costa e os parceiros sociais sentam-se à mesa, esta quarta-feira, para discutir os futuros aumentos do salário mínimo nacional (SMN), que atualmente está nos 600 euros mensais. Esse patamar já é, de resto, ultrapassado por alguns empregadores no panorama nacional, que escolhem praticar remunerações “de entrada” mais elevadas, reconhecendo os seus trabalhadores como o “maior fator de sucesso” e a chave para a competitividade.

É o caso do Lidl Portugal. Ao ECO, a cadeia de supermercados de origem alemã garante o “atual ordenado mínimo de entrada é de 670 euros”, ou seja, mais 70 euros do que o salário mínimo nacional e do que a remuneração mínima que a empresa praticava em 2016, altura em que o SMN estava nos 530 euros mensais.

“O Lidl preza por oferecer aos seus colaboradores condições acima dos valores estabelecidos pelo mercado, também com a oferta de um subsídio de almoço de 6,83 euros diários e um seguro de saúde de referência“, sublinha a empresa.

De acordo com o Lidl, praticar um “salário mínimo” acima da remuneração mínima garantida ao nível nacional serve para reconhecer os trabalhadores como o “maior fator de sucesso” da empresa, considerando, portanto, a sua “satisfação e bem-estar como determinantes para o sucesso”.

Todos os colaboradores da empresa beneficiam de progressão salarial, formação e desenvolvimento de carreiras, independentemente da sua função, carga horária ou local de trabalho; de ausência de precariedade contratual – com contratos sem termo para todos os nosso colaboradores desde 2017; e de paridade salarial entre loja, entreposto, região ou género, oferecendo assim o Lidl condições mais vantajosas que aquelas que são garantidas através dos contratos coletivos de trabalho negociados pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição”, acrescenta a mesma fonte ouvida pelo ECO.

Também a IKEA Portugal pratica um salário “de entrada” superior aos 600 euros definidos, por lei, como remuneração mínima garantida. O salário mais baixo pago pela IKEA Portugal aos trabalhadores a tempo inteiro é de 650 euros bruto mensais, ao qual acresce o subsídio de refeição diário de 4,55 euros, seguro de saúde, o One IKEA Bónus (um prémio em função dos resultados) e “um programa de fidelização interno” que contribui para a reforma.

“A IKEA Portugal tem vindo sempre a aumentar o salário mínimo de entrada para colaboradores base a tempo inteiro acima do salário mínimo nacional“, garante fonte da empresa, referindo que, por exemplo, em 2017, o salário de entrada estava nos 625 euros, quando a remuneração mínima garantida nacional estava nos 557 euros mensais. “A IKEA foi, aliás, dos primeiros retalhistas, em Portugal, a pagar a colaboradores base nas suas lojas acima do salário mínimo (sem contar com os subsídios sociais internos)”, acrescenta.

Para a IKEA Portugal — que conta com cerca de 2.500 trabalhadores no retalho e centro de apoio ao cliente –, o negócio só cresce se os trabalhadores crescerem paralelamente, daí esta preocupação com as remunerações.

No setor da banca, também há exemplos dessa diferenciação entre o salário “de entrada” e os 600 euros do SMN. O Santander Totta, por exemplo, decidiu subir, em junho de 2017, o seu salário mínimo para os trabalhadores a tempo completo para 1.200 euros, mais 200 euros do que praticava anteriormente e o dobro do SMN atualmente em vigor.

Este “salário mínimo” foi, de resto, alargado também aos trabalhadores efetivos do ex-Banco Popular Portugal, que foi adquirido e fundido com o Santander. Em comunicado, o banco referiu que este aumento da remuneração mínima surgiu no âmbito de um “modelo de gestão de Recursos Humanos muito orientado para as pessoas e para o seu bem-estar”.

No retalho, também a Jerónimo Martins garante que paga “acima do salário mínimo nacional tanto em Portugal, como na Polónia e na Colômbia” para “melhorar a qualidade de vida” dos trabalhadores e das suas famílias, o que ajuda a ter equipas mais fortes e motivadas. “É por isso que o reconhecimento e valorização dos colaboradores são abordados de uma forma integral, sendo a remuneração um dos fatores. Investimos também em diversos programas de formação e iniciativas de responsabilidade social interna que, no seu conjunto, fazem uma diferença positiva”, salienta fonte da empresa, em declarações ao ECO.

Também o Estado, enquanto empregador, pratica um salário mínimo acima dos 600 euros definidos como limite nacional. Desde janeiro deste ano, que os salários mais baixos pagos aos funcionários públicos são equivalentes à quarta posição da Tabela Remuneratória Única (TRU), isto é, 635 euros mensais.

No início de dezembro, o Governo anunciou que os 50 milhões de euros que tinham sido reservados no Orçamento do Estado para 2019 para aumentos remuneratórios na Administração Pública iam, afinal, chegar apenas aos que ganhavam menos. “Ponderadas as possibilidades e na sequência da auscultação realizada aos sindicatos na reunião anterior, o Governo propôs uma medida que concilia a dimensão financeira, jurídica e política: o aumento da base remuneratória da administração pública, elevando-o para o montante correspondente ao atual quarto nível da TRU, ou seja, elevar a remuneração mais baixa dos atuais 580 euros para 635 euros”, adiantou, na altura, o Ministério de Mário Centeno, em comunicado. Essa discrepância entre o salário mínimo da Função Pública e o SMN gerou mesmo fortes críticas por parte de sindicatos e partidos.

E depois de, nos últimos quatro anos, ter subido quase 19% o salário mínimo nacional, o Governo de António Costa quer agora subir mais 25% essa remuneração, dos atuais 600 euros mensais para 750 euros mensais até 2023. Este salto será debatido, esta quarta-feira, com os parceiros reunidos na Comissão Permanente da Concertação Social, tendo sido considerado “um bom ponto de partido” pelos sindicatos. Os patrões não descartam essa subida, mas frisam que tudo vai depender do desempenho económico.

As empresas que já hoje oferecem salários de entrada superiores aos tais 600 euros também veem com bons olhos esses aumentos futuros. “Na IKEA Portugal, vemos com agrado o anúncio da subida do salário mínimo nacional até 2023 e estaremos disponíveis para acompanhar e até superar a legislação. Acreditamos que o setor do retalho pode promover este movimento no sentido de dar aos seus colaboradores um melhor rendimento”, diz fonte dessa retalhista ao ECO. “O Lidl Portugal continuará a trabalhar para privilegiar o compromisso com os colaboradores e a sua valorização, apostando na criação de condições de trabalho de excelência, progressão salarial, a par
da formação e desenvolvimento de carreiras”, sublinha, por sua vez, a cadeia de supermercados.

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