Álvaro Santos Pereira: “Temos que voltar às reformas estruturais”

Antigo ministro e diretor da OCDE, diz que Portugal tem de fazer reformas estruturais para crescer a níveis semelhantes aos das economias do leste europeu e aumentar investimento público na ferrovia.

Portugal tem de voltar a apostar em reformas estruturais que deem a capacidade à economia portuguesa de crescer a níveis superiores, mais perto das taxas dos países da Europa de Leste, disse à RTP o antigo ministro da Economia e atual diretor do departamento de estudos sobre países da OCDE, Álvaro Santos Pereira. O economista lembrou que Portugal tem a segunda taxa de investimento público mais baixa da OCDE, e pede mais investimento na ferrovia.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) publicou esta quinta-feira novas previsões para a economia mundial e para todas as economias que fazem parte da organização, incluindo Portugal. Para a economia portuguesa, a organização liderada por José Angél Gurría antecipa que a economia cresça 1,9% este ano (a mesma estimativa que a do Governo e das principais instituições internacionais), mas que abrande em 2020 e 2021 ao ritmo de uma décima por ano.

Num comentário feito à RTP a partir de Paris, onde a OCDE tem a sua sede, Álvaro Santos Pereira explicou que o abrandamento da economia portuguesa está a ser afetada pela conjuntura internacional, num cenário em que se prevê que a economia mundial tenha “as taxas de crescimento da economia mundial mais baixas desde a crise internacional”.

"Se Portugal está a crescer perto de 2% foi porque há uns anos fizeram reformas estruturais importantes, que fizeram libertar o crescimento económico, fizeram a economia andar e baixar o desemprego de cerca de 18% para 6% neste momento. O que temos de fazer é voltar às reformas estruturais.”

Álvaro Santos Pereira

Diretor do departamento de estudos sobre países da OCDE

“Obviamente a economia portuguesa, como é uma economia aberta, é afetada pela conjuntura internacional e prevemos que este ano efetivamente vamos ter um crescimento de 1,9%, para o ano de 1,8%, e em 2021 de cerca de 1,7%”, disse.

Questionado sobre como é que a economia pode voltar a acelerar, Álvaro Santos Ferreira disse que a organização defende que Portugal tem de voltar a apostar em reformas estruturais — um tema muito defendido durante o Governo PSD/CDS do qual fez parte, mas que os governos de António Costa têm rejeitado politicamente — que permitam aumentar a produtividade da economia portuguesa e dar-lhe a capacidade para crescer ao nível das economias do leste europeu.

“Se Portugal está a crescer perto de 2% foi porque há uns anos fizeram reformas estruturais importantes, que fizeram libertar o crescimento económico, fizeram a economia andar e baixar o desemprego de cerca de 18% para 6% neste momento. O que temos de fazer é voltar às reformas estruturais. Nós precisamos de continuar a melhorar a nossa competitividade, precisamos de apostar em politicas que dinamizem a nossa produtividade, que é muito baixa e tem crescido a ritmos demasiados baixos, e precisamos de estar a crescer aos ritmos que outros países da Europa de leste estão a crescer, 3% ou 2,5%. (…) Para consegui-lo, temos que reformar. Temos que voltar às reformas estruturais e é nisso que a OCDE tem insistido muito”, disse.

Em termos concretos, Álvaro Santos Ferreira destacou os baixos níveis de investimento público em relação a outros países da OCDE — “Portugal tem neste momento a segunda taxa de investimento público mais baixa da OCDE”, diz –, especialmente em infraestruturas que permitam a aumentar a competitividade da economia portuguesa, como é a ferrovia.

“É importante que o investimento público comece a ser reativado, não para fazer as famosas rotundas e pavilhões gimnodesportivos, que foram precisos mas agora não precisamos mais, agora o que precisamos é apostar em infraestruturas que aumentem a competitividade da economia portuguesa, como ferrovia em bitola europeia”, disse.

O economista disse que Portugal tem de apostar em ferrovia também para garantir que a população portuguesa tenha “um transporte digno”.

“Vamos ter problemas” se a banca não reduzir substancialmente o malparado

O antigo ministro da Economia nos primeiros anos do Governo PSD/CDS-PP, disse ainda que Portugal tem de continuar a fazer um esforço para que os bancos limpem os seus balanços dos elevados níveis de crédito malparado que ainda têm nas mãos.

Álvaro Santos Pereira reconheceu que foi feito trabalho nos últimos anos neste sentido, mas diz que Portugal ainda é o terceiro país da OCDE com níveis mais elevados de crédito malparado e que se a economia abrandar substancialmente os bancos podem ver-se em dificuldades novamente.

“Já se fez muito nos últimos anos ao nível de recuperar os bancos, mesmo assim continuamos com créditos malparados que são demasiado elevados, portanto é importante continuar a reduzir esses créditos malparados. Em todos os países da OCDE, Portugal é o terceiro país com o crédito malparado mais elevado, por isso temos de continuar na senda dos últimos anos que é diminuir a vulnerabilidade da banca porque sabemos muito bem que quando os bancos não estão de boa saúde, a economia não está de boa saúde”, disse.

“Quase sempre que quando as economias desaceleram muito isso tem um impacto muito grande no crédito malparado, e como nós ainda temos níveis de crédito malparado muito elevados, se não continuarmos a diminuir substancialmente esse crédito, se a economia mundial, europeia e consequentemente a portuguesa continuarem a desacelerar, nós vamos ter problemas mais à frente”, acrescentou.

Para isso, diz, é preciso ajudar as empresas portuguesas a reestruturarem-se e a negociar as suas dívidas, o que deverá resultar na necessidade dos bancos de assumirem perdas. Mas isso tem de “avançar o mais rápido possível” para que não haja “problemas no futuro”.

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