Coronavírus e seguros de viagem, mas não só

  • ECO Seguros
  • 13 Fevereiro 2020

Muitos potenciais participantes do MWC, cancelado em face do risco epidémico, estarão a questionar se os seguros ajudarão a minimizar perdas. O impacto do 'Covid-19' já não se limita ao seguro viagem.

No atual contexto de risco e com os primeiros sinais de impacto económico no evento cancelado em Barcelona, os seguros emergem como setor em destaque.

Se vai viajar para destinos mais expostos ao risco de propagação da epidemia e tem um seguro de viagem, não facilite. Em geral, estes seguros não cobrem risco de epidemias, e muito menos de pandemias, por isso mais vale prevenir e esclarecer junto da seguradora.

Os seguros de viagem oferecem genericamente cobertura sobre o risco de cancelamento da viagem e, alguns, somam tratamento médico de emergência, alojamento temporário e regresso. Nos seguros saúde, a coberturas gerais englobam normalmente atos de diagnóstico e primeiros cuidados, em muitos casos com franquias par internamento e tratamentos. No entanto, convém lembrar que em situação de epidemias, sobrevêm protocolos e procedimentos estabelecidos pelas autoridades públicas.

Ao considerar um pedido de indemnização em que o segurado enfrentava uma ‘circunstância previsível’, a posição da seguradora no momento de acertar contas pode ser completamente diferente e penalizadora dos interesses do segurado. Pior, em caso de pandemia a resposta será, muito provavelmente, “a seguradora não cobre”. Mas, em última análise, tudo depende da apólice contratada, sintetiza um artigo no Insurance Information Institute, blogue especializado em tópicos atuais de seguros.

No âmbito do seguro viagem, fontes consultadas por ECO Seguros adiantam que a questão é complexa e envolve alguma ambiguidade. Como primeira regra, convém ler “com atenção” as condições gerais e especiais da apólice. Se persistirem dúvidas, “contacte a seguradora e solicite os esclarecimentos necessários”. Pode mesmo “exigir uma resposta por escrito”, salienta a Deco, associação de defesa do consumidor.

As dúvidas sobre o riscos cobertos pelos seguros viagem excluem naturalmente as situações em que um viajante pode reclamar junto da transportadora aérea (por atrasos; sobrelotação de voos e perda de bagagem), ou no caso de férias, em que as agências e operadores turísticos podem ser responsabilizados por cancelamentos e ou incumprimento de condições prometidas nos pacotes de férias.

Nestes casos, existem normativas europeias e internacionais que definem o quadro regulatório específico, sendo que, como já foi referido, num quadro de ‘emergência de saúde pública internacional’, as autoridades governamentais assumem responsabilidades e adotam protocolos que devem ser observados pelos cidadãos.

Covid19 já produz danos na Europa e indústria farmacêutica receia o pior

A Organização Mundial de Saúde (OMS) já declarou a situação de epidemia como ‘emergência de saúde pública internacional’. O surto já fez mais de 1360 mortos e infetou, até agora, cerca de 59 mil pessoas, com a epidemia a propagar-se por quase 30 países, de acordo com os dados mais recentes.

A epidemia do novo coronavírus (Covid-19) começa a ter impacte económico fora da China, nomeadamente com o cancelamento do evento global de tecnologia em Barcelona (MWC) e sobre outros setores como os transportes e mercados bolsistas um pouco por todo o mundo, suscitando também questões à indústria seguradora.

O cancelamento do evento global de telecomunicações (MWC), decretado na quarta-feira pela GSMA (entidade organizadora) por causa do número crescente de desistências [de empresas participantes] face ao risco associado à epidemia do novo coronavírus abre um cenário de avultadas perdas financeiras.

Só para cidade de Barcelona, o cancelamento do Mobile World Congress (MWC), previsto para se realizar entre 24 e 27 de fevereiro, representa perdas de 500 milhões de euros, de acordo com o jornal espanhol El Economista.

O impacto começa agora a ser estimado, mas os custos com indemnizações (a cargo da associação setorial GSMA) poderá ascender a centenas de milhões. E, a entidade não estimou o montante que terá de desembolsar, nem adiantou informação sobre o tipo de seguro que terá contratado para cobrir o desastre, reporta a publicação. Mas, também no caso do evento que esperava mais de 100 ml participantes oriundos de 200 países, tudo dependerá da apólice contratada e das cláusulas adicionais acordadas.

Estimando os gastos que as empresas inscritas no evento já terão realizado, a publicação refere que cada metro quadrado nos pavilhões da Fira de Barcelona se vendeu a mais de 1000 euros, enquanto as entradas no evento oscilavam entre 800 e os 5000 euros.

Por outro lado, sem responsabilidade direta da GSMA, as empresas cuja presença estava confirmada há mais tempo já teriam gasto em viagens, reservas de hotel, serviços de logística, etc.

Sobram as empresas patrocinadoras, entre outras, a Telefónica, Vodafone e Orange. Nestes casos, o dinheiro investido será dado como perdido.

A única situação que poderia limitar o impacte económico sofrido pelos organizadores seria a OMC ter elevado o nível de alerta global pelo Covid-19 para a situação de pandemia, obrigando a restringir o movimento de pessoas e bens, notam fontes do jornal. Adivinha-se assim um processo de negociação difícil entre a GSMA e as seguradoras, dado que a decisão de cancelamento do evento coube à organização.

Nadia Calviño, ministra da Economia e vice no governo de Pedro Sánchez, afirmou já esta quinta-feira, em declarações à imprensa, que o cancelamento do evento não teve como razão direta qualquer situação de emergência de saúde pública em Espanha.

Globalmente, surtos anteriores de doenças infecciosas transmissíveis como o SARS, Ébola e Zika levaram muitas seguradoras a excluir coberturas específicas das suas apólices de seguro saúde.

Em Portugal, antes do cancelamento da edição anual do MWC, a Agência Lusa noticiou que as agências de viagens deveriam reembolsar os clientes que, antes do surto do coronavírus, compraram viagens para fevereiro com destino a Macau, Hong Kong e China continental e as pretendam cancelar.

“Desde que houve a transposição da diretiva europeia de viagens organizadas, o que já aconteceu há alguns anos, nos casos equivalentes ao do coronavírus – isto é, se eu já tivesse feito uma reserva para a China em circunstâncias de normalidade e entretanto tivesse aparecido este surto – o consumidor tem o direito de cancelar, sendo reembolsado de todos os custos envolvidos na reserva”, disse na semana passada Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT).

Não é apenas o epicentro Wuhan, “é a China inteira”, adverte James Bruno, da Chemical & Pharmaceutical Solutions. Além dos riscos a nível micro económico, o facto de o epicentro da crise epidémica estar localizado na cidade de Wuhan (província de Hubei) e ter-se propagado fora da China, afetando perto de 30 países abre outro cenário em termos de eventual impacto económico global.

De acordo com um artigo do site norte-americano Politico, citando dados do Departamento do Comércio dos EUA sobre substâncias ativas (ou componentes da indústria farmacêutica), a China pesa mais de 95% das importações globais de ibuprofeno, cerca de 91% em hidrocortisona; 70% acetaminofeno e 40% ou mais em outras substâncias como penicilina e heparina.

Para ilustrar o peso da China e um eventual risco de interrupção nas cadeias logísticas que servem o setor saúde e muitos países do mundo, fontes da Modern Healthcare salientam que o gigante asiático é um importante fornecedor de artigos descartáveis de uso hospitalar (como seringas e luvas), podendo assim potenciar o impacto de uma crise epidémica que afete os canais de comércio internacional.

Sem incluir outros ecossistemas como a indústria de componentes automóveis, turismo e matérias-primas, o impacto global de uma pandemia [centrada na China] é ainda difícil de calcular.

De acordo com James Bruno, da consultora CPS (indústria química e farmacêutica), citado na revista Chemical and Engineering News, se num prazo de três meses, a epidemia não tiver uma resposta eficaz de contenção e se verificarem maiores disrupções na cadeia logística a indústria farmacêutica e o setor de cuidados de saúde podem ser seriamente afetados a nível mundial, dando início a uma onda de processos dirigidos às seguradoras.

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