Fórum para a Competitividade: Investimento público é o “pior instrumento possível para a recessão”

O Fórum para a Competitividade considera que a aposta para a recuperação não deve ser o investimento público, uma ideia já defendida pelo Governo.

Nelson de Souza, ministro do Planeamento, defendeu em entrevista ao ECO que o investimento público deve estar no “coração” da recuperação pós-pandemia. Semanas depois, no Parlamento, Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, confirmou a intenção. Contudo, para o Fórum para a Competitividade, este é o “pior instrumento possível” para contrariar a recessão trazida pelo coronavírus.

“O investimento público, com todas as suas demoras (finalização de projetos, lançamento de concursos, etc.), é o pior instrumento possível para a recessão trazida pelo Covid-19″, escreve o diretor do Gabinete de Estudos do Fórum, Pedro Braz Teixeira, no relatório do primeiro trimestre das perspetivas empresariais divulgado esta segunda-feira. Esta posição contrasta com as declarações do Governo que tem a intenção de colocar o investimento público como um dos motores da recuperação.

E o que leva o Fórum a rejeitar esse instrumento? Para o economista “não faz sentido estimular indiretamente a procura, muita dela até proibida ou limitada por lei”. O Fórum para a Competitividade considera que o investimento público não deve ser prioridade, preferindo que o Estado acelere a entrega dos apoios criados para os cidadãos e as empresas: “O que é necessário é apoiar diretamente as famílias e as empresas, com o máximo de urgência“.

Este atraso não é minimamente aceitável, porque a singularidade da atual crise exige uma rapidez máxima na resposta aos apoios”, critica Braz Teixeira, referindo-se às queixas das empresas relativamente à demora dos pagamentos do lay-off simplificado e das linhas de crédito. Segundo a CIP, na semana passada apenas 3% das empresas que pediram para ter acesso às linhas de crédito tinham recebido efetivamente o dinheiro.

Uma maior rapidez por parte da máquina do Estado — cujos prazos têm sido justificado pelo elevado volume de trabalho na Segurança Social, na SPGM e nos bancos face ao que é normal — seria a melhor receita para a recuperação da economia, na opinião do Fórum, aliada a um “estruturado plano de reindustrialização do país para a fase pós-Covid”, que poderia dar “credibilidade” a Portugal.

Esse plano deve ter “poucas infraestruturas de interesse para os bens transacionáveis” e ser “complementado por políticas públicas indutoras de bom investimento produtivo que poderá regressar à Europa no quadro da reorientação das cadeias de valor“, aconselha. “As cadeias de valor vão encurtar-se (geográfica e corporativamente)”, antecipa, em linha com o que já disse a Comissão Europeia, pelo que “muita produção retornará à Europa, por razões de autonomia e segurança estratégicas”, o que poderá ser uma oportunidade para Portugal.

Esta pode ser uma via para conter a recessão “muito profunda” que já é consensual entre todos. Contudo, existe “grande divergência nos valores divulgados” e “intervalos de previsão invulgarmente largos, refletindo o elevado grau de incerteza associado a esta recessão, com traços ímpares, de queda simultânea da oferta e da procura”, explica o Fórum que, por sua vez, prevê uma queda anual do PIB entre os 4 a 8% em 2020.

“Para 2021, há a expectativa de uma recuperação parcial das quedas do ano corrente”, conclui.

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