Joaquim Sarmento: “Não me chocaria Centeno ser governador do Banco de Portugal daqui a 5 ou 10 anos”

O ministro das Finanças "sombra" do PSD considera que uma passagem direta do Ministério das Finanças para o Banco de Portugal "é muito difícil de conceber".

O PSD vê “com muitas reservas” o nome de Mário Centeno para governador do Banco de Portugal, uma hipótese que continua a não ser afastada a 100% pelo próprio ou pelo primeiro-ministro. A decisão cabe ao Governo, mas Joaquim Miranda Sarmento, presidente do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD, diz ao ECO que “é muito difícil de conceber” essa passagem direta, admitindo, no entanto, que Centeno possa assumir esse cargo mais tarde.

Há três razões que levam o ministro das Finanças “sombra” do PSD a rejeitar uma ida direta, em julho, do atual ministro das Finanças para o cargo de governador do Banco de Portugal. A primeira passa pela independência do banco central face ao poder político, “um pilar fundamental da credibilidade da política monetária”, classifica.

Não consigo compreender como é que se pode ser ministro das Finanças na sexta-feira e na segunda-feira ser governador do Banco de Portugal“, aponta, relembrando que Centeno tomou decisões no Governo em áreas onde o BdP atua de forma direta como é o caso da supervisão bancária, com a recapitalização da CGD e a venda do Novo Banco, assim como a proposta de alteração do Ministério das Finanças sobre a regulação do setor financeira e que envolvia os estatutos do BdP, a qual acabou por não avançar na legislatura passada.

Em segundo lugar, o economista considera que a saída neste momento não é o ideal: “O ministro das Finanças, que é a estrela, vai sair quando a equipa está a precisar mais dele“, crítica, referindo que se avizinha o OE 2021, um “Orçamento muito difícil”. Acresce que Centeno foi eleito deputado pelo que “o natural” é que regresse à Assembleia da República.

Contudo, Joaquim Miranda Sarmento admite que estes motivos dissipam-se com o tempo, reconhecendo no economista Mário Centeno as capacidades para ser governador: “Não me chocaria Centeno ser governador do Banco de Portugal daqui a 5 ou 10 anos”. E vai mais longe, afirmando que “o nome de Mário Centeno, se não fosse ministro das Finanças, teria todas as condições para ser governador do Banco de Portugal“.

A posição do PSD ainda não era clara uma vez que, em fevereiro, Rui Rio não se comprometeu: “Não veto à partida, pode haver melhores candidatos, deixe que o Governo na devida altura faça o que entender”, disse o presidente do PSD. Para já, Sarmento compromete-se a “ouvir os argumentos” caso a hipótese se coloque, mas antecipa que há “vários argumentos contra” e que ainda não ouviu “nenhum a favor”. “A avaliação final será feita, mas é muito difícil de conceber“, prevê.

Questionado sobre o antecedente de Miguel Beleza, Joaquim Miranda Sarmento argumenta que este “não serve de exemplo”, uma vez que em 1991 o enquadramento era diferente, desde logo porque “não existia o euro nem o sistema europeu de bancos centrais”. Além disso, o economista refere que Beleza, que fez parte do primeiro Governo de Cavaco Silva, não foi nomeado pelo mesmo Governo (como aconteceria no caso de Centeno) — apesar de ter sido pelo mesmo primeiro-ministro — mas sim pelo ministro das Finanças Jorge Braga de Macedo no segundo Governo de Cavaco.

Centeno fica com um “problema de relacionamento político” com Costa

Joaquim Miranda Sarmento assume que não sabe quem tem razão na polémica à volta do Novo Banco, mas considera que o ministro das Finanças “desautorizou” o primeiro-ministro e chamou-o de “irresponsável”. “Penso que fica com um problema de relacionamento político e institucional” entre Mário Centeno e António Costa.

Assim, acompanha as declarações de Rui Rio de que Centeno “não tem condições” para continuar à frente do Ministério das Finanças, compreendendo uma saída por “incompatibilidade política”.

Contudo, “se conseguiram resolver esse problema”, diz, referindo-se à reunião de quarta-feira à noite entre Centeno e Costa em São Bento que culminou num comunicado e fotografias de união, “que sentido faz o ministro sair?”. “Não faz sentido no meio da turbulência não sair por razões políticas mas por ter um lugar simpático” à sua espera, considera.

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