Pititi, Matateu e outros códigos secretos do Universo Espírito Santo que valeram milhões

Pititi, Matateu, Castilho, Pargo, Jaguar, Baixinho ou Roadshow são alguns do nomes em código dados a funcionários do GES, de forma a transferir dinheiro ocultamente.

Pititi. Matateu. Castilho. Imahala Panzi. Pargo. Caramujo. Hanham. Doismiledez. Jaguar. Labutes. Baixinho. Roadshow. Medufushi. Rabina. Centurion. Alforreca. Poirier. Detox. Tomix. Kombucha. Consegue decifrar o que são? É difícil, mas foram nomes de código dados as funcionários do BES, incluindo um dos filhos de Salgado, para transferir dinheiro através de quatro empresas.

O acusado pelo Ministério Público (MP) por 65 crimes, Ricardo Salgado, poderá ter usado quatro empresas, que não constavam em relatórios nem nos organogramas do Grupo, para pagar prémios e outros montantes a funcionários e colaboradores dos Grupo Espírito Santo, mas este pagamento foi feito, alegadamente, de forma oculta. As empresas em questão enunciadas no despacho do MP são: Espírito Santo Enterprises, Alpha Management, Clauster Limited e Balenbrook Investments.

Os funcionários do BES terão usado linhas de comunicação privadas, via private net, com o objetivo de “manterem oculta a prática criminosa, reiteradamente desenvolvida ao longo dos anos”.

Segundo o despacho de acusação do MP, sete procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal responsáveis pela investigação descobriram que muitos dos beneficiários, que constavam das folhas de Excel com os pagamentos, estavam identificados com pseudónimos e nomes em código.

Mas quem se esconde por detrás destes nomes de código e terá recebido milhões de euros, entre 2005 e 2014, a pedido de Ricardo Salgado e José Manuel Espírito Santo? Descubra quem são.

  • Pititi era Isabel Vaz, presidente da comissão executiva do grupo Luz Saúde:
  • Matateu era Tomás Fonseca, dirigente da Espírito Santo Saúde;
  • Castilho era João Novais, dirigente da Espírito Santo Saúde;
  • Imahala Panzi era Ivo Antão, dirigente da Espírito Santo Saúde;
  • Pargo, Caramujo e Hanham era João Alexandre Silva, diretor-geral da sucursal do BES na Madeira e do departamento de Banca Internacional do BES. Recebeu cerca de 1,1 milhões de euros da Enterprises, 477.500 euros da Alpha e 210.000 euros da Balenbrook;
  • Doismiledez era Paulo Jorge, adjunto de João Alexandre Silva. Entre 2010 e 2014, recebeu cerca de 971.000 euros da Enterprises e 379.900 euros através Alpha;
  • Jaguar era João Freixa, antigo administrador do BES. Recebeu cerca de meio milhão de euros, entre 2008 e 2013.
  • Labutes era Ricardo Bastos Salgado, filho de Ricardo Salgado. Recebeu mais de 500.000 euros, entre 2008 e 2014;
  • Baixinho era Teresa Amorim, antiga secretária de Ricardo Salgado. Recebeu cerca de 371.000 euros;
  • Roadshow era Elsa Ramalho, quem tratava das relações com os investidores. Recebeu cerca de 294.000 euros da Enterprises;
  • Medufushi era Pedro Cohen Serra, do departamento financeiro do BES. Recebeu cerca de 300.000 euros;
  • Rabina era Paulo Ferreira, do departamento financeiro do BES. Recebeu cerca de 115.000 euros;
  • Centurion era Guilherme Moraes Sarmento, da direção de desenvolvimento internacional. Recebeu cerca de 81.000 euros;
  • Alforreca era Pedro Cruchinho, presidente da Comissão Executiva do Banco Económico em Angola. Recebeu cerca de 100.000 euros;
  • Poirier era José Macedo Pereira, revisor oficial de contas de empresas do BES. Recebeu cerca de 47.500 euros;
  • Detox era Pedro Amaral. Recebeu cerca de 40.500 euros;
  • Tomix era Rui Guerra, presidente do BESA. Recebeu cerca de 40.000 euros;
  • Kombucha era José Pedro Caldeira da Silva, diretor-executivo do banco.

A investigação ao Universo Espírito Santo resultou em 25 acusados, entre 18 pessoas e 7 empresas, segundo o despacho de acusação de 4.117 páginas do Ministério Público. Ricardo Salgado é o mais conhecido, mas há mais como os seus dois primos — tendo sido ilibado José Maria Ricciardi — e outros nomes conhecidos como Amílcar Morais Pires e Francisco Machado da Cruz.

São muitos os crimes de que são acusados, entre eles o crime de associação criminosa e os crimes de corrupção ativa e passiva no setor privado, de falsificação de documentos, de infidelidade, de manipulação de mercado, de branqueamento e de burla qualificada contra direitos patrimoniais de pessoas singulares e coletivas.

De acordo com a Procuradoria-Geral da República, “a investigação levada a cabo e que termina com o despacho de acusação em referência apurou um valor superior a 11 mil e oitocentos milhões de euros, em consequência dos factos indiciados, valor que integra o produto de crimes e prejuízos com eles relacionados”.

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