BRANDS' TRABALHO O desafio do equilíbrio entre gestão de pessoas e gestão financeira

  • BRANDS' TRABALHO
  • 20 Julho 2020

Marta Santos, Associate Partner, e Edivaldo João, Consultor, ambos EY, People Advisory Services, falam dos efeitos do Covid-19 na função de gestão de recursos humanos e a gestão financeira.

Atualmente, não há certezas sobre quando o mundo se verá livre da pandemia do Covid-19. Sabe-se apenas que os efeitos deixados na economia mundial, poderão ter impactos profundos e duradouros. Vários especialistas económicos têm revelado que, após o Covid-19, o mundo enfrentará uma “pandemia económica” que, em certos casos, apenas será curada com uma espécie de “plano Marshall 2”, em referência ao plano disponibilizado pelos EUA para impulsionar a reconstrução da Europa, após a II Guerra Mundial.

Neste momento, fazem-se várias análises e previsões sobre os efeitos do Covid-19 em todos os setores. Concentremos, por agora, a nossa atenção nos efeitos do Covd-19 na função de gestão de recursos humanos (GRH), sobretudo na relação entre a GRH e a gestão financeira (GF).

A prática revela-nos que, em muitas empresas, o alinhamento entre a área Financeira e a área de RH continua aquém do esperado. Tradicionalmente, a GRH tem apresentado o slogan “As Pessoas são o nosso principal ativo“, enquanto a Gestão Financeira tem apresentado o slogan “o dinheiro é rei”. Numa primeira análise, são duas visões que colocam a ênfase em recursos diferentes (humanos vs financeiros), mas a prática revela que não podemos encará-las apenas por esse prisma, uma vez que é fundamental que haja um grande alinhamento entre as duas áreas, de forma a contribuírem para sobrevivência e para o sucesso das organizações.

"Face ao cenário de escassez de recursos financeiros, por parte de determinadas empresas, será fundamental que os gestores de RH demonstrem uma inteligência financeira otimizada.”

Os efeitos do Covid-19 terão impactos diretos e indiretos naquilo que serão as políticas e práticas de GRH, bem como na capacidade financeira das mesmas.

Neste sentido, será fundamental que, tanto os gestores de RH como os gestores financeiros, percebam bem o que cada uma destas áreas tem ensinado à outra: a GRH tem ensinado à GF o elemento humano do negócio, o ver além do retorno financeiro dos investimentos; a GF tem ensinado à GRH a perspetiva financeira do negócio – como é que os resultados de determinadas decisões afetam a performance financeira do negócio e da empresa – e como utilizar os dados financeiros para uma gestão de pessoas mais eficiente.

gestão financeira

Por outras palavras, face ao cenário de escassez de recursos financeiros, por parte de determinadas empresas, será fundamental que os gestores de RH demonstrem uma inteligência financeira otimizada. Os autores Karen Berman e Joe Knight (2013) definem inteligência financeira (financial intelligence) como o entendimento que qualquer colaborador deve possuir, acerca de como o sucesso financeiro da empresa é mensurado e como impacta na performance da organização como um todo, incluindo as decisões relativas à GRH.

Assim, os gestores de RH terão um desafio ainda maior nesta fase, em que será necessário alinharem as suas práticas e políticas à situação financeira das empresas durante o período de crise, durante e após a pandemia.

Alguns dos principais temas que a GRH terá de gerir estarão relacionados com as políticas de atração e retenção de competências-chave para a organização, estratégias de motivação dos trabalhadores, políticas de formação e desenvolvimento dos colaboradores, políticas de compensação e organização do trabalho.

Relativamente à atração/retenção de competências-chave, motivação dos trabalhadores e políticas de compensação, os gestores de RH irão necessitar de desenvolver a capacidade para identificar e promover componentes não financeiras, ou com menor impacto financeiro, como a criação de ambientes de trabalho saudáveis, maior equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal, flexibilidade de horários, reconhecimento, teletrabalho ou implementação de estratégias de experiência do colaborador.

flexibilidade de horários

O investimento na formação e desenvolvimento dos trabalhadores também poderá ganhar outros contornos, no qual as organizações poderão investir mais em soluções que impliquem menores custos, como a criação de equipas internas de formação, maior aposta nos métodos de formação e-learning ou b-learning, ou em programas de sucessão com base no coaching ou no mentoring.

Ao longo de todo o processo, enquanto agentes de mudança, é esperado que os gestores de RH saibam sensibilizar e mobilizar toda a organização em torno desta visão, tendo em conta os desafios económico-financeiros e sociais que se avizinham.

O equilíbrio sempre necessário, mas nem sempre fácil, entre gestão de RH e gestão financeira é ainda mais desafiante em tempos de crise. As empresas precisam de garantir a continuidade do negócio, não esquecendo que as pessoas são o seu motor.

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