Confinamento levou PIB a recuar (temporariamente) duas décadas no segundo trimestre

A economia portuguesa levou a maior pancada de que há memória, reduzindo drasticamente a sua produção. Foi como recuar duas décadas, até à parte final do século passado, ainda que temporariamente.

O Governo era PS, António Guterres era primeiro-ministro e Portugal estava na transição para o euro. Corria o ano de 1999 e a economia produzia a cada trimestre cerca de 42 mil milhões de euros. Passadas duas décadas, o PIB português voltou a ter essa mesma dimensão no segundo trimestre, ainda que de forma temporária, por causa do impacto acentuado da crise pandémica, nomeadamente o confinamento que afetou quase totalmente as famílias e as empresas.

A contração de 16,5% do PIB, em termos homólogos, e de 14,1% em cadeia, no segundo trimestre, retirou entre 7 a 8 mil milhões de euros ao PIB trimestral, consoante se compara com o segundo trimestre de 2019 ou o primeiro trimestre deste ano. Esta queda abrupta da produção nacional levou o tamanho da economia novamente para a casa dos 42 mil milhões de euros, um valor que não se via nas séries do Instituto Nacional de Estatística (INE) desde 1999.

Esta conclusão é retirada com base nos dados divulgados esta sexta-feira na primeira estimativa do PIB do segundo trimestre, cuja probabilidade de serem revistos é elevada dada a incerteza da informação e a antecipação da sua divulgação. Esta análise é feita com o PIB a preços constantes, o que retira o efeito da inflação e permite comparar efetivamente a quantidade da produção no país independentemente da evolução dos preços.

É de notar que nos trimestres de 2019 a economia portuguesa já estava a produzir ligeiramente acima dos 50 mil milhões de euros por trimestre, o que revela, por comparação com o valor deste trimestre, a dimensão e o impacto da crise pandémica em Portugal. Uma vez que só no final de agosto é que serão divulgados mais pormenores sobre as componentes do PIB ainda não é possível explicar em concreto o que aconteceu, nomeadamente que partes do PIB foram mais ou menos afetadas.

Contudo, é quase certo que este nível de produção tão baixa, quando comparado com as últimas duas décadas, é temporário dado que foi provocado pelo confinamento da população. Com a economia a reabrir em maio, mesmo que a meio gás, o PIB começará a recuperar, convergindo com os níveis anteriores. Ainda assim, os economistas, as instituições que fazem previsões e o próprio Governo admitem que serão necessários pelo menos dois anos para que se chegue aos níveis pré-crise pandémica, não se excluindo o cenário de ser preciso mais tempo. Tudo dependerá da evolução da pandemia e das medidas que venham a ser tomadas.

Esta mesma análise pode ser feita para o conjunto da economia da Zona Euro, verificando-se diferenças significativas nos anos. Isto é, segundo a Oxford Economics, o PIB da Zona Euro recuou no segundo trimestre para os níveis trimestrais que se verificavam a meio dos anos 2000, “destruindo amplamente 15 anos de crescimento”, ainda que temporariamente. Considerando o PIB per capita, o cenário é ainda pior: nesse indicador os níveis desceram no segundo trimestre para os do início do século.

Contudo, a diferença entre países é muito acentuada. No caso da Alemanha, cujo PIB contraiu 10,1%, os níveis do PIB estão em mínimos de cerca de 2010. Já na Itália, país que pouco tinha recuperado da anterior crise e onde esta crise é mais severa, os níveis de atividade económica do segundo trimestre comparam-se com os que se verificavam a meio da década de 90, ainda pior do que Portugal.

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