Imobiliário vai cair 15%. Travão aos vistos gold vai afetar reputação de Portugal

O imobiliário deverá fechar 2020 com 2.700 milhões de euros de investimento transacionado, um valor 15% abaixo do registado no ano passado.

Os efeitos da pandemia no setor imobiliário já eram esperados e os números finais começam a ficar fechados. De acordo com a Cushman&Wakefield (C&W), 2020 deverá encerrar com um investimento de 2.700 milhões de euros no setor, o equivalente a uma descida de 15% face ao recorde batido no ano passado.

Depois de um recorde de investimento angariado no ano passado, a meta deste ano ficará ligeiramente abaixo. Até ao momento o setor soma um investimento de 2.330 milhões de euros, num valor médio de 67 milhões de euros por transação, de acordo com o Marketbeat Portugal Outono 2020 apresentado esta quinta-feira pela consultora. Segundo Andreia Almeida, diretora de Research & Insight da C&W, este valor médio trata-se de um “novo máximo histórico desde que há registo, fortemente influenciado por transações de grande dimensão”.

Dos 2.330 milhões angariados até aqui, 80% vem de investidores estrangeiros. Contudo, e embora com menos peso, a consultora destaca o crescimento de 100% do capital nacional, com uma fatia de 485 milhões de euros. Em termos de setores, o retalho (46%), os escritórios (35%) e a hotelaria (13%) concentraram as maiores fatias de todo o investimento feito até ao momento.

Cálculos feitos, e tendo em conta que o ano está praticamente fechado, a C&W antecipa que 2020 vá encerrar com um volume de investimento total de 2.700 milhões de euros, 15% abaixo dos cerca de 3.200 milhões de euros conseguidos no ano passado. Andreia Almeida explica que esta descida poderá ser explicada pelo “abrandamento da atividade” devido à “presumível queda no preço dos imóveis”.

Restrições aos vistos gold não prejudicam números, mas afetam reputação de Portugal

Os números deste ano foram, claramente, prejudicados pela pandemia, mas os efeitos não foram tão negativos como o setor esperava. “O mercado imobiliário não parou de todo. Ele mexe. Continua a haver uma enorme quantidade de liquidez no mundo para ser aplicada no imobiliário”, diz Eric Van Leuven, diretor-geral da C&W Portugal.

Contudo, há um tema que está a agitar o mercado: o travão que o Governo pretende aplicar no regime dos vistos gold. Questionado, Eric Van Leuven reconhece que estas restrições vão prejudicar a imagem de Portugal. “Num momento em que vamos entrar num período em que vamos precisar novamente de muito capital, é uma estupidez acabar com este regime que, na anterior crise, serviu o país muito bem”, diz o responsável.

A ideia do Governo é suspender a atribuição de golden visa no litoral do país, canalizando o investimento para as regiões do interior. E os números, tal como o ECO adiantou, mostram que, este ano, dos 932 imóveis comprados para aquisição de vistos, apenas 3% estavam localizados no interior do país. Outro dos argumentos do Executivo é que é necessário aliviar a pressão do mercado imobiliário em zonas como Lisboa e o Porto.

Sobre este ponto, Eric Van Leuven afirma que “os vistos não foram assim tão expressivos ou relevantes no que compete às rendas da habitação ou aos preços”. E explica: “No lançamento do regime em 2012, os preços inflacionaram um pouco porque havia casas no mercado normal que valiam 400.000 euros, mas para um interessado no visto passaram para 500.000 euros. Mas os vistos não foram responsáveis pela escalada de preços”.

Por isso, o responsável da C&W afirma não saber se uma revisão ao regime dos vistos gold vai influenciar muito os valores do próximo ano. Isto porque, explicou Paulo Sarmento, diretor de Investimentos da consultora, “o efeito dos vistos gold não se resume aos preços do imobiliário de luxo. Mas isto é um assunto sério em termos reputacionais para Portugal e no impacto que tem nas decisões de investimento”.

Análise flash do mercado

Residencial

  • “Pandemia veio acelerar a correção de valores que já se tinha verificado no final de 2019”, diz Andreia Almeida;
  • Vendas de apartamentos novos até junho aumentaram 7% em Lisboa (preço médio de 6.010 euros/m2) e 15% no Porto (preço médio de 3.550 euros/m2);
  • Arrendamento de apartamentos novos até junho caiu 4% em Lisboa (renda média de 17,6 euros/m2) e subiu 11% no Porto (renda média de 14,6 euros/m2.

Escritórios

  • Procura caiu 28% na Grande Lisboa e subiu 40% no Grande Porto até agosto;
  • Oferta futura deverá ser 286.400 m2 em Lisboa e 71.000 m2 no Porto;
  • Renda média foi de 23 euros/m2 em Lisboa e 15,5 euros/m2 no Porto.

Retalho

  • “Retalho sentiu um forte efeito do surto de Covid, com o volume de vendas a ser fortemente afetado. Setor foi muito influenciado pela queda no retalho não alimentar”, diz Andreia Almeida;
  • Entre janeiro e setembro abriram apenas 300 lojas em Portugal, menos 51%;
  • Vendas a retalho caíram 3,9% até julho.

Hotelaria

  • “Nitidamente o setor que tem vindo a registar quedas mais acentuadas” devido ao impacto do encerramento voluntário, diz Andreia Almeida;
  • Procura de hóspedes caiu 65% até julho e as dormidas recuaram 68%;
  • Abriram 18 novos hotéis no país, a maioria de quatro estrelas;
  • “Oferta futura enfrenta uma elevada probabilidade de revisão em baixa”, diz Andreia Almeida.

Industrial

  • “Acaba por ser o setor que tem mostrado mais resiliência”, diz Andreia Almeida;
  • Procura teve um crescimento de 33%;
  • Rendas médias estão nos quatro euros/m2 em Lisboa e 3,85 euros/m2 no Porto.

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