Crise no setor têxtil asiático já é pior do que em 2008 devido à pandemia

  • Lusa
  • 21 Outubro 2020

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam para o encerramento de milhares de fábricas no continente asiático e para a perda de rendimentos para milhões de trabalhadores.

A redução dos gastos dos consumidores com vestuário e o impacto de medidas para conter a pandemia já levaram a uma crise no setor têxtil asiático mais profunda do que a que aconteceu em 2008, disse esta quarta-feira a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Dados divulgados pela OIT, citados pela agência Efe, apontam para o encerramento de milhares de fábricas no continente asiático e para a perda de rendimentos para milhões de trabalhadores. “O comércio têxtil entrou em colapso no primeiro semestre do ano. Em alguns casos, as importações de certos países caíram em 70% face ao ano anterior”, disse Christian Vieghelahn, economista da OIT na Ásia-Pacífico.

O organismo apresentou hoje um relatório em que explica que a queda na produção têxtil e no emprego já levou a uma crise mais acentuada neste setor do que em 2008-09 na região Ásia-Pacífico, de onde são provenientes 60% das exportações mundiais. “A escala desse declínio, a sua velocidade e a recuperação não serão totalmente visíveis até 2021 ou 2022”, lê-se no relatório, que lembra que as empresas têxteis empregam 65 milhões de pessoas na região, 75% do total de postos de trabalho dessa indústria em todo o mundo.

Vieghelahn explicou ainda que o encerramento de milhares de fábricas, temporariamente ou permanentemente, ao longo do ano, deve-se a três fatores: à queda da procura global por vestuário, a encerramentos forçados para controlar a expansão da pandemia e à falta de matérias-primas, devido a problemas no fornecimento.

“Um trabalhador têxtil médio na região perdeu duas a quatro semanas de trabalho, no mínimo”, garantiu o mesmo responsável, de acordo com a Efe. O fecho das fábricas têxteis por razões sanitárias atingiu o pico em março e abril, prejudicando 56 milhões de trabalhadores, mas ainda assim alguns países da região continuavam afetados em setembro.

Nesses primeiros meses, a indústria sofreu com a paragem de centros como a China, que fornece matérias-primas para fábricas do setor em todo o continente, especialmente no sul e sudeste asiático, onde estão localizados grandes produtores como o Bangladeche, o Vietname e o Camboja.

A Ásia fabrica para grandes grupos estrangeiros, incluindo a sueca H&M e a espanhola Inditex, para a qual, por exemplo, fornecem roupa e calçado 2.795 fábricas da China, 508 de Bangladeche, 151 do Vietname e 156 do Camboja, segundo dados da empresa dona da Zara. Nos primeiros seis meses do ano, as exportações têxteis da região caíram 26% para os Estados Unidos, 25% para a União Europeia e 17% para o Japão, os três maiores importadores.

A OIT explica essa queda com as medidas de combate à pandemia, o declínio geral do poder de compra, o encerramento forçado das lojas de vestuário e a forte queda da confiança dos consumidores em março e abril. No que diz respeito aos empregos, a OIT estima que pelo menos 812 mil trabalhadores do setor tenham sido despedidos na Indonésia até julho, o que representa 30% dos trabalhadores desta área. No Camboja, foram dispensados 150 mil, enquanto no Bangladeche 43% das fábricas estão a funcionar com menos da metade de sua força de trabalho.

O relatório avisa ainda que as mulheres, que constituem a maioria dos trabalhadores do setor, são as que mais sofrem as consequências da crise, correndo-se agora o risco de haver um recuo no progresso em direção a uma indústria mais igualitária. A OIT também vincou a necessidade de melhorar a proteção social dos trabalhadores e defendeu a importância da negociação coletiva, que tem pouco peso nesta zona do mundo.

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