Dos preços às prestações, até aos custos de construção. A habitação cá e na Europa
Evolução dos preços das casas e das rendas, custos com a habitação, e o setor da construção. Conheça o retrato que o Eurostat fez da habitação na Europa e em Portugal.
Como têm evoluído os preços das casas? E das rendas? Quanto custa manter uma habitação ao final do mês? O Eurostat fez um retrato da habitação na Europa, onde também inclui dados para Portugal, e em que detalha custos, prestações e investimentos.
No ano passado, na UE, 69,8% da população vivia numa casa da qual era proprietária, enquanto apenas 30% vivia em casas arrendadas. Esta discrepância varia conforme os Estados-membros, mas ter uma casa própria é o mais comum na Europa, refere o Eurostat. Isso verifica-se, também, em território português, onde 73,9% dos cidadãos são donos de uma casa.
A compra é privilegiada em detrimento do arrendamento, mesmo num contexto de agravamento mais expressivo do valor das casas em comparação com o das rendas.
O Eurostat refere que, entre 2010 e 2019, os preços de compra e venda das casas observaram uma “tendência constante de aumento desde 2013”, sobretudo a partir de 2015. Ao todo, a subida média dos últimos 10 anos foi de 19% nos Estados-membros da UE. Em termos de rendas, houve um “aumento constante das rendas na UE entre 2010 e 2019”, no total de 13%.
Embora não haja dados detalhados para Portugal um gráfico do Eurostat permite perceber que a evolução dos preços das casas em território nacional foi bastante mais acentuada do que a observada em toda a UE.
Evolução dos preços da habitação na UE e em Portugal
15,5% dos rendimentos são destinados à habitação
Dependendo da evolução dos preços e das rendas, mas também da tipologia e localização dos imóveis, os custos com a habitação variam de família para família, bem como a parte dos rendimentos que é destinada para suportar esta despesa. “Com o aumento dos preços e das rendas, o custo de uma habitação pode ser um fardo”, diz o Eurostat, que refere que “isso pode ser medido pela taxa de sobrecarga do custo da habitação”.
Esse indicador representa a percentagem de população cujos custos com a habitação representam mais de 40% dos rendimentos disponíveis. Na UE, em 2019, 12% das populações urbanas encaixavam-se nessa “fatia”, comparando com apenas 7% das populações rurais. “A sobrecarga dos custos com a habitação foi mais elevada nas cidades do que nas zonas rurais” em praticamente todos os Estados-Membros.
Em Portugal, refere o Eurostat, 7,3% da população urbana vê os custos com a habitação levarem mais de 40% dos rendimentos disponíveis, enquanto apenas 4,6% da população rural se encaixa nesta situação.
Outra forma de verificar se uma habitação é acessível é pela proporção do custo da habitação no rendimento disponível total. Isto mostra que, em média, na UE em 2019, 20% do rendimento disponível era destinado a despesas com habitação, um valor que se mostra mais elevado na Grécia (38,9%), Dinamarca (27,1%) e Alemanha (25,9%). Em Portugal, esta percentagem é ligeiramente inferior: 15,5%. Ou seja, as famílias portuguesas destinam, em média, 15,5% dos rendimentos para os custos com a habitação.
Mas os custos totais de manter uma habitação também variam significativamente de Estado-membro para Estado-membro. No ano passado, as despesas com a habitação mais elevadas em comparação com a média da UE observavam-se na Irlanda (77% acima da média da UE), Luxemburgo (70% acima) e Dinamarca (63% acima). Portugal, por sua vez, aparece a meio da tabela, cujas despesas são 81,5% abaixo da média da UE.
Custos de manter uma habitação na UE
17,6% das despesas totais das famílias são com a habitação
Os mesmos dados mostram que, no ano passado, em média, 5,3% do PIB de cada Estado-membro foi investido na habitação. Contudo, também aqui há variações: Chipre (7,9%), Finlândia (7,2%) e Alemanha (6,6%) apresentam os níveis de investimento mais elevados, enquanto Eslovénia (2,2%), Polónia (2%) e Grécia (0,7%) registam os investimentos mais reduzidos neste campo.
E Portugal? De acordo com o Eurostat, Portugal é o 9.º país da UE com o investimento mais baixo em habitação: 3,2% do PIB. Mas há ainda mais dados que permitem perceber a aposta que o país faz neste campo.
Investimento em habitação na UE (% do PIB)
O Eurostat tem ainda dados sobre o dinheiro gasto por cada família com habitação. De acordo com as estatísticas disponíveis, em 2019, os agregados familiares na UE gastaram mais de 1.700 mil milhões de euros em habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis. “Isto representa quase um quarto (23,5%) das despesas de consumo totais e é de longe a maior despesa doméstica da UE”, à frente dos transportes (13,1%), alimentos e bebidas não alcoólicas (13%), restaurantes e hotéis e ainda cultura (ambos com 8,7%).
Finlândia (28,8%) e Eslováquia (28,4%) são os países que gastam a maior parcela das despesas das famílias com habitação, enquanto Malta (12,3%) e Lituânia (14,9%) aparecem no lado oposto da tabela. Por sua vez, em Portugal, as famílias gastaram 25,6 milhões de euros em habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis. Ou seja, 17,6% das despesas totais são feitas com a casa.
Há cada vez menos famílias com hipotecas em atraso
A habitação tem um peso bastante significativo no orçamento das famílias. E, à medida que estes custos aumentam, isso é sinónimo de maior fardo para as famílias. Contudo, em 2019, antes da pandemia, eram cada vez menos as que tinham prestações em atraso, tanto na UE como em Portugal.
O Eurostat refere que “atrasos no pagamento do crédito à habitação, das rendas ou das contas de serviços públicos são outra indicação de que os custos de habitação podem ser muito altos”. Contudo, também refere que, “apesar de os preços da habitação e rendas terem aumentado durante o período de 2010 a 2019”, a percentagem de famílias com o pagamento destas despesas em atraso diminuiu de 12,4% em 2010 para 8,2% em 2019 na UE.
Na verdade, estas percentagens diminuíram em praticamente todos os Estados-Membros, com exceção da Grécia, Dinamarca e Finlândia. Em Portugal também se assistiu a uma diminuição: em 2010, 8,6% das famílias tinham hipotecas, rendas e outras contas em atraso, mas em 2019 caiu para 5,8%. Desde 2014 que este indicador tem vindo a cair, tal como acontece na UE.
7,7% da área da AML é destinada à habitação
Embora pouco recentes, mas o Eurostat apurou a percentagem de área bruta do país que foi destinada a fins residenciais. Em 2015, quase 75% dos terrenos da UE foram usados para agricultura e suinicultura, enquanto apenas 2,9% foram destinados a habitação (incluindo jardins residenciais).
Esta é uma percentagem bastante baixa quando comparado com outros Estados-membros. É na região belga Bruxelles-Capitale/Brussels Hoofdstedelijk onde a maior parte da área é destinada a fins habitacionais: 55%. Atrás aparecem as regiões alemãs de Bremen (32%) e Hamburgo (29%), bem como a região austríaca de Viena (21%).
Contudo, por outro lado, há ainda 19 regiões na UE onde esta percentagem é inferior a 1%. Como é o caso das regiões italianos na Província Autónoma di Bolzano/Bozen (0,3%), Aragão em Espanha e Övre Norrland na Suécia (ambas com 0,4%).
Em Portugal, numa análise por regiões, a Área Metropolitana de Lisboa é aquela cuja maioria da área é destinada a habitação (7,7%), à frente do Porto (4%) e do Algarve (3,2%). O Centro, por sua vez, aparece com 2,7% enquanto o Alentejo regista apenas 0,8%.
Portugal tem mais de 83 mil empresas de construção
As licenças de construção para edifícios residenciais na UE aumentaram entre 2013 e 2019, diz o Eurostat, que refere que, desde 2014, o número de autorizações concedidas “tem aumentado de forma constante”, subindo 32% em 2019 face a 2015. Este indicador aumentou em 19 Estados-Membros entre 2010 e 2019, mas mais do que triplicou na Estónia (+211%), Malta (+181%) e Bulgária (+156%), enquanto caiu na Grécia (-69%) e Itália (-54%).
A par disso, também os custos de construção de novas habitações têm vindo a aumentar desde 2010. Na UE, entre 2010 e 2019, subiram 15%, com os maiores aumentos a serem observados na Hungria (+47%) e na Roménia (+46%), enquanto a Grécia foi o único país a ver os preços caírem (-7%). Em Portugal, mostra o gráfico, a tendência de subida tem sido ainda mais acentuada.
Evolução dos custos de construção para novos edifícios residenciais
Para responder a esta subida da construção estão as empresas de construção, que também têm vindo a aumentar nos últimos anos. De acordo com o Eurostat, o número de empresas (locais) e pessoas empregadas também permitem analisar este setor. Os dados mostram que, em 2018, em Portugal havia 83.321 empresas de construção e 303.432 trabalhadores no setor.
A região Norte do país lidera ao registar 29.854 empresas e 127.001 trabalhadores, à frente do Centro com 23.411 empresas e 71.039 pessoas empregadas. Atrás aparece a AML com 19.390 empresas de construção e 72.752 trabalhadores. O Algarve surge com 6.079 empresas e 17.886 pessoas a trabalhar no setor e, por fim, o Alentejo com 4.587 empresas e 14.754 trabalhadores.
A região francesa de île de France é aquela que tem o maior número de empresas de construção (155.000), à frente de Provencea-Alpes-Côte d’Azur (78.000) e Rhône-Alpes (76.000). Em termos de trabalhadores, île de France também lidera (544.000 pessoas).
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Dos preços às prestações, até aos custos de construção. A habitação cá e na Europa
{{ noCommentsLabel }}