Pilotos da TAP chegam a ganhar mais do dobro que os da Iberia e Air Europa

Ministério das Infraestruturas revela que um piloto da TAP com um ano de experiência recebe, no mínimo, 84 mil euros brutos por ano, mais do dobro dos 40 mil que a Iberia ou a Air Europa pagam.

A TAP vai entrar em reestruturação, depois do forte impacto da pandemia. Vai ficar mais pequena, com menos aviões e também menos trabalhadores, sendo que os que ficarem terão salários mais baixos. Apesar de o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) refutar os valores que têm sido revelados, o Ministério das Infraestruturas defende os números, demonstrando que os profissionais da companhia portuguesa ganham bem mais que os de empresas como a Iberia ou a Air Europa. O vencimento, ao fim do ano, chega a ser superior em dezenas e mesmo centenas de milhares de euros, segundo dados do Governo.

Os salários [da TAP estão] acima dos de algumas concorrentes, como a Iberia“, dizia Pedro Nuno Santos, na semana passada em entrevista à SIC, revelando diferenças salariais de 18% até 85%. O ministro apontava a necessidade de corrigir a situação para garantir a sustentabilidade da empresa mesmo depois da reestruturação.

Ao ECO, o ministério explica que a comparação é feita através da “estimativa da remuneração total bruta com base nos dados públicos sobre os Acordos de Empresa das companhias, posteriormente calibrada com base em entrevistas”. Na comparação com a TAP foi considerado o valor superior da estimativa para os competidores ibéricos, “assegurando algum conservadorismo das conclusões, sendo que a TAP aparenta sempre valores mais elevados que esses peers competidores”.

Os dados das remunerações da TAP considerados para esta comparação são valores base fixos definidos para 2019 e os variáveis de 2018. A razão para a diferença de datas prende-se com a postura conservadora que o ministério diz que quis ter. A justificação do Governo é que a atividade de 2019 cresceu face aos pilotos disponíveis, o que fez crescer muito a remuneração variável.

Nesta base, os dados do Ministério indicam que um piloto da TAP com um ano de experiência recebe, no mínimo, 84 mil euros brutos por ano, mais do dobro dos 40 mil que a Iberia ou a Air Europa pagam. No caso de um comandante com 15 anos de carreira, a remuneração anual bruta pode chegar a 207 mil euros na TAP, o que compara com 155 mil na Air Europa ou 115 mil na Iberia.

O ministério explica ainda que a comparação é feita com a Iberia e a Air Europa porque partilham com a TAP duas características: terem sede em cidades com custo de vida similar e serem ambas companhias concorrentes da TAP no mercado sul-americano. “O plano de reestruturação da TAP tem como objetivo melhorar a competitividade da empresa. Para isso, é essencial ajustar a estrutura de custos às dos competidores diretos da companhia aérea, garantindo que não há grandes desequilíbrios nesta rubrica”, aponta o ministério.

Pilotos explicam diferença com trabalho extra

O ECO pediu ao Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) dados que sustentem as acusações de que os números estão errados, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo. Numa comunicação aos associados a que a Lusa teve acesso, o SPAC alega que “os valores divulgados pelo ministro das Infraestruturas e Habitação […] estão errados e não correspondem aos vencimentos dos pilotos da TAP”.

Precisa que “o custo com pilotos da TAP nos anos de 2018 e 2019 foi significativamente agravado por recurso a trabalho extraordinário a pedido da empresa”. Ou seja, o sindicato acaba por dar razão ao Executivo no tratamento dos dados, mas alega que a bonificação dada pelo trabalho extraordinário (decorrente do aumento da procura) já se aplicava em 2018 e não apenas em 2019.

"Não podemos ignorar que a TAP pagava mais 2% a 90% aos tripulantes de cabine [vulgo comissário ou assistente de bordo] nos primeiros anos de trabalho do que empresas como a Air France, British Airways e Iberia. É um facto.”

Pedro Nuno Santos

Ministro das Infraestruturas

“Custos por trabalho extra não são a mesma coisa que salários”, sustenta o SPAC, salientando que “esse trabalho extraordinário, realizado em folga ou férias, foi prestado pelos pilotos da TAP com o sacrifício dos seus tempos livres com as respetivas famílias”. E acrescenta que “não se deve tentar passar para os pilotos o ónus dos maus resultados da empresa quando estes profissionais, com o seu reiterado esforço, trabalho e dedicação, impediram que esses resultados negativos fossem significativamente piores”.

Tripulantes recebem até 90% mais

Não são, contudo, apenas os pilotos que da TAP recebem mais do que os congéneres de outras companhias áreas comparáveis, de acordo com Pedro Nuno Santos. O ministro diz que há mais desequilíbrios salariais que justificam a falta de competitividade da companhia aérea face aos seus principais concorrentes. No Parlamento, apontou o dedo aos tripulantes de cabine.

“Não podemos ignorar que a TAP pagava mais 2% a 90% aos tripulantes de cabine [vulgo comissário ou assistente de bordo] nos primeiros anos de trabalho do que empresas como a Air France, British Airways e Iberia. É um facto”, atirou o ministro perante os deputados. “Devemos ambicionar que os nossos trabalhadores ganhem mais que franceses e ingleses? Devemos, mas estamos longe disso e não é só na aviação”, rematou.

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